
A saúde mental nunca esteve tão presente nas conversas corporativas, afinal nos últimos anos, pesquisas vêm mostrando um crescimento consistente do estresse crônico e do burnout entre profissionais de diferentes áreas. Segundo levantamentos recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), níveis de ansiedade, exaustão e sensação de desconexão aumentaram de forma significativa após 2020, transformando-se em um fenômeno organizacional, e não apenas individual. Esse ano, a Organização informou que “mais de 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos de saúde mental” em todo o mundo
Se fizermos um recorte nessas pesquisas, veremos que profissionais da Geração Z, nascidos entre 1997 e 2012 (atualmente de 13 a 28 anos), e dos Millennials, nascidos entre 1981 e 1996 (hoje com 29 a 44 anos), são os que mais relatam sintomas de burnout. Vivem sob expectativas elevadas, pressão por resultados rápidos e instabilidade social e econômica que intensifica o desgaste emocional.
Já os profissionais da Geração X (nascidos entre 1965 e 1980, atualmente 45 a 60 anos) e os Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964, hoje com 61 a 79 anos) tendem a expressar menos abertamente o sofrimento. Carregam uma educação emocional marcada pela ideia de “aguentar firme”, o que muitas vezes mascara quadros sérios de fadiga e exaustão silenciosa.
Nesse cenário, a chegada da nova NR-1, prevista para entrar plenamente em vigor em 2026, surge como um marco importante. A norma, ao reforçar a necessidade de gestão de riscos ocupacionais — incluindo fatores psicossociais — coloca a saúde mental como responsabilidade estruturada da empresa, e não mais apenas como iniciativa voluntária ou complementar. Isso exige práticas preventivas, políticas claras e monitoramento contínuo das condições que impactam o bem-estar dos trabalhadores.
Esse movimento é coerente com a realidade: há muita gente sofrendo, e grande parte desse sofrimento acontece de forma solitária. A neurociência e a psicologia organizacional demonstram que emoções não desaparecem quando ignoradas — elas se acumulam e se traduzem em sintomas físicos, queda de desempenho e afastamentos.
Por isso, trazer a psicologia para dentro das empresas deixa de ser um diferencial e se torna uma estratégia essencial. Os atendimentos psicológicos, programas de escuta qualificada, psicoeducação, protocolos de prevenção ao burnout e treinamentos de liderança orientados pela saúde mental já fazem parte do repertório dos gestores de pessoas, principalmente em grandes empresas.
Dados da pesquisa Panorama do Bem-Estar Corporativo 2026, estudo realizado com mais de 5 mil funcionários em 10 países, para revelar como o bem-estar é visto pelos trabalhadores nas empresas, mostra que há o indício de que muitos trabalhadores percebem a importância de buscar apoio: 53% dos funcionários consideram a terapia essencial para o bem-estar, mas só 46% têm acompanhamento ativo.
De olho nessa necessidade, já há várias empresas que se destacam nesse tipo de atuação, mostrando que há um número que cresce rapidamente à medida que mais organizações reconhecem o valor estratégico de investir no bem-estar e na saúde mental de seus colaboradores.
“O Brasil registrou em 2024 o maior número de afastamentos por ansiedade e depressão em 10 anos, totalizando mais de 470 mil licenças médicas. Esse aumento de 68% em relação ao ano anterior mostra que o bem-estar precisa ser integral, contemplando corpo e mente, e que a saúde mental é um desafio de gestão crucial”, conta Juliano Ballaroti, General Manager do Wellz, o programa de saúde mental do Wellhub. A plataforma oferece diversas ferramentas, mas considerei importante ressaltar as sessões de terapia individual e em grupo que são oferecidas.
Eu quis saber a aderência desse tipo de serviço e a Ines Hungerbühler, psicóloga PhD e especialista em eaúde mental do Wellz me disse que a plataforma conecta os colaboradores a uma rede com mais de 1.000 terapeutas especializados e que combina prevenção, promoção e tratamento com base em evidências clínicas e Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Ao democratizar o acesso à terapia individual e em grupo (sendo que 60% dos usuários estavam em sua primeira experiência), as empresas conseguem reduzir os afastamentos por causas emocionais, melhorar indicadores de clima e engajamento e gerar um ciclo virtuoso, já que colaboradores mais equilibrados resultam em maior produtividade e retenção”, afirma a psicóloga.
Quando as organizações assumem que cuidar de pessoas é tão importante quanto cuidar de números, algo poderoso acontece: as equipes se tornam mais engajadas, criativas e colaborativas. Porque, em qualquer geração, seres humanos são mais saudáveis, sob o ponto de vista psicológico, quando encontram acolhimento, pertencimento e a possibilidade de pedir ajuda sem medo.