Médico explica como o Botox atua na prevenção da dor e melhora a vida de quem sofre com crises crônicas
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Médico explica como o Botox atua na prevenção da dor e melhora a vida de quem sofre com crises crônicas

A enxaqueca crônica é muito mais do que uma dor de cabeça. Trata-se de uma condição neurológica incapacitante, que compromete o trabalho, o bem-estar e a qualidade de vida. Para quem convive com crises frequentes e não responde aos tratamentos convencionais, a toxina botulínica tipo A tem se mostrado uma alternativa eficaz e segura.

"A toxina botulínica revolucionou o tratamento preventivo da enxaqueca crônica. É indicada para pacientes com crises recorrentes e refratárias, que não obtêm resposta com os medicamentos tradicionais”, explica o neurologista Marco Aurélio de Castro Pereira à coluna.

O uso da toxina para enxaqueca surgiu por acaso. Médicos que aplicavam o produto para tratar rugas e distúrbios musculares, como o blefaroespasmo, perceberam que muitos pacientes também apresentavam melhora significativa nas dores de cabeça.

A partir dessa observação, pesquisadores investigaram o potencial terapêutico da substância. Os resultados culminaram nos estudos PREEMPT 1 e 2, publicados em 2010, que comprovaram sua eficácia na prevenção da enxaqueca crônica.

"Esses estudos foram um divisor de águas. Eles definiram o protocolo que usamos hoje — de 31 a 39 pontos de aplicação na cabeça e no pescoço — e mostraram que o tratamento é seguro e eficaz”, explica o especialista.

O sucesso dos estudos levou à aprovação do Botox pelo FDA nos Estados Unidos e pela ANVISA no Brasil como terapia preventiva oficial para a enxaqueca crônica.

Como o Botox age na dor da enxaqueca

A ação da toxina vai muito além do relaxamento muscular. "Ela atua como um neuromodulador, agindo diretamente nas terminações nervosas que transmitem a dor”, explica o Dr. Marco Aurélio.

A substância inibe a liberação de neuropeptídeos inflamatórios e neurotransmissores, como o CGRP e a Substância P, que estão envolvidos na sensibilização do sistema trigeminal, responsável pela dor intensa da enxaqueca.

"Com isso, a toxina ajuda a ‘dessensibilizar’ o sistema nervoso, reduzindo a frequência e a intensidade das crises”, acrescenta o neurologista.

Quem pode fazer o tratamento

O uso da toxina botulínica é indicado para pacientes diagnosticados com enxaqueca crônica, ou seja:

- 15 ou mais dias de dor de cabeça por mês;

- Sendo pelo menos 8 dias com características típicas de enxaqueca (dor pulsátil, sensibilidade à luz e som, náuseas).

"Ela também é indicada para pacientes que não respondem a dois ou mais medicamentos preventivos orais ou que sofrem efeitos colaterais importantes. Em alguns casos, o botox ajuda até a quebrar o ciclo de dor em quem usa analgésicos com frequência excessiva”, explica.

Resultados e vantagens do tratamento

Os resultados aparecem de forma progressiva e cumulativa.

"A maioria dos pacientes percebe melhora entre 3 e 4 semanas após a primeira aplicação, com resposta máxima após o segundo ou terceiro ciclo — cerca de 6 a 9 meses”, afirma o médico.

Entre as principais vantagens estão a segurança e praticidade: o paciente realiza quatro aplicações por ano (a cada 12 semanas), evitando os efeitos colaterais sistêmicos comuns aos medicamentos orais, como sonolência e ganho de peso.

"É um tratamento de alta tolerabilidade, com efeitos locais leves e temporários, como dor ou hematoma no ponto de aplicação”, reforça.

Mais qualidade de vida e menos dor

Além de reduzir as crises, os pacientes relatam melhora do sono, humor e produtividade.

"Com menos dor, o paciente volta a dormir melhor, sente menos ansiedade e reduz drasticamente o uso de analgésicos. Isso tem um impacto enorme na qualidade de vida”, explica o Dr. Marco Aurélio.

As contraindicações incluem gravidez, amamentação, infecção no local de aplicação e doenças neuromusculares, como Miastenia Gravis.

Um novo horizonte no tratamento da enxaqueca

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Marco Aurélio de Castro Pereira

A toxina botulínica representa um avanço significativo na neurologia moderna.

"Ela devolve autonomia e bem-estar a quem convive com uma dor incapacitante. Hoje, é considerada uma terapia de primeira linha para casos refratários e seu uso está cada vez mais acessível e bem indicado”, conclui o Dr. Marco Aurélio de Castro Pereira.

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