Ato em defesa da democracia em Brasília no último dia 7 de junho
Foto: Ricardo Stuckert
Ato em defesa da democracia em Brasília no último dia 7 de junho

No último dia 7 de junho, ao menos 20 capitais brasileiras registraram  protestos contra o racismo e o fascismo, em defesa da democracia. No mesmo fim de semana, manifestações favoráveis ao governo de Jair Bolsonaro também foram vistas nas ruas do País. Se por um lado, cresce a insatisfação social e aumentam as aglomerações, por outro, a curva da evolução da Covid-19 não cai. 

Nesta sexta-feira (19), o Brasil chegou a 1 milhão de casos do novo coronavírus (Sars-CoV-2), apontou o boletim do levantamento feito pelo consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde. Já são 48.427 mortes e 1.009.699 casos confirmados . Nesse contexto, dados divulgados pela  Our World in Data, projeto de pesquisadores das Universidade de Oxford, apontam que o Brasil foi o segundo país com mais mortes por milhão de habitantes.

O músico Emicida dividiu opiniões, nas redes sociais, ao explicar os motivos de não participar dos protestos realizados no último dia 7. Por meio de um vídeo, o rapper argumentou que este não é o momento para manifestações, devido à pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2).

"Se vocês derem uma busca, verão que um monte de infectologista e epidemiologista sérios estão chamando isso de genocídio. Aguarda-se um crescimento de 150% [de novos casos] nos próximos dias", iniciou o rapper."A irresponsabilidade e irracionalidade de quem tinha que conduzir esse país para um lugar melhor ainda vai matar muita gente", completou.

Profissionais de saúde ouvidos pelo iG foram unânimes em alertar para os perigos de se promover manifestações neste momento da pandemia, mesmo que as motivações sejam legítimas.  

Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro titular da Sociedade Brasileira de Infectologia, explicou que qualquer tipo de aglomeração, independente de motivação, deve ser evitada, mesmo que tenham boas intenções. 

"Nós estamos em uma pandemia e o índice de transmissão entre as pessoas, tanto no Brasil, quanto em outros países, ainda é muito alto. E mesmo com o uso de máscara e o distanciamento, ainda é possível ter a transmissão", pontua o médico. Para ele, em primeiro lugar está a vida dos participantes e de terceiros que podem ser infectados posteriormente. 

Brasil ultrapassa 1 milhão de casos confirmados do novo coronavírus
Foto: Reprodução/Internet
Brasil ultrapassa 1 milhão de casos confirmados do novo coronavírus

Adilson Westheimer, médico infectologista coordenador do Departamento Científico de Infectologia da Associação Paulista de Medicina (APM), diz que o caso do Brasil é difente de outros paíse onde a incidência de casos já diminuiu. 

"Aqui, nós não chegamos ao pico da doença, e mesmo assim, já estamos em uma reabertura e um retorno. Nesse contexto, problemas econômicos, políticos e ideológicos têm feito as pesaos saírem às ruas. E isso é um problema. Mesmo com as orientações, nem todos usam máscaras e é difícil respeitar o distanciamento de um a dois metros", avalia o especialista. 

Westheimer diz que é contra qualquer manifestação nesse período crítico porque pessoas que possam ter o vírus e não saber, estando assintomáticas, podem transmitir para outras. Um estudo publicado no  Annals of Internal Medicine afirma que cerca 45% dos infectados com o novo coronavírus não demonstram sintomas. Foi constatado também que esse grupo pode chegar a transmitir a doença por períodos de tempo maiores que 14 dias.

Os cientistas apontam que a dificuldade de distinguir entre pessoas pré-sintomáticas e assintomáticas é um dos principais problemas e defendem que esses grupos merecem uma atenção especial das autoridades.

"Nós já sabemos que o vírus tem um poder de transmissibilidade médio, uma pessoa pode transmitir para até outras três. Em uma situação de aglomeração, a escola da transmissão é muito alta. Se você tem 1.000 pessoas em um protesto e se  100 estiverem infectadas, em 14 dias, os 1000 participantes vão desenvolver essa doença", indica o infectologista Adilson Westheimer.

O pesquisador diz que entende o cansaço da sociedade, mas complementa que não é motivo para que haja uma maior exposição. "Os hospitais têm passado por lotação, as unidade de UTI estão cheias. No momento em que as pessoas começam a sair e passam a desrespeitar as regras de higiene, as consequências disso vão acontecer daqui a dez e 15 dias, e não amanhã", contextualizou. 

Como manifestantes podem minimizar o risco de contágio e transmissão do vírus?

Mesmo contrário às manifestações neste momento, Westheimer acredita que elas devem continuar pelo clima político do Brasil. "Precisamos pensar em um novo formato de protestos, existem as redes sociais, a imprensa, o que pode ser uma boa ferramenta. Esse é o momento de ficar em casa", destaca. 

Uso massivo de máscaras pode "impedir segunda onda de Covid-19", diz estud o

No caso das pessoas que forem presencialmente ao ato, seja a favor do governo ou contra, é preciso usar a máscara a todo momento e manter o distanciamento correto. É o que o médico classifica como o mínimo. 

O médico Alexandre Naime Barbosa também recomenda os mesmo cuidados com a higiene e diz que existem questões sociais que possibilitam as manifestações e isso é válido. "Mesmo assim, apesar da causa mais nobre, o importante é a vida", alerta. 

Rodrigo Juliano Molina, médico infectologista e professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, diz que é difícil calcular se as manifestações podem gerar uma nova onda de casos no País, mas que pelo menos no grupo de participantes isso pode ocorrer.

"A gente acaba tendo uma cascata de infecções para essas pessoas envolvidas porque há um risco muito grande de infecção. Podem levar o vírus para o domicílio e infectar um paciente de um grupo de risco". 

Para minimizar os riscos, Molina reitera que é preciso ter os cuidados necessários básicos e evitar o confronto direto. "Se não seguem as medidas necessárias, tudo que foi feito para minimizar o risco, é perdido", conclui.

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