A alta de casos do novo coronavírus na Europa não tem poupado o Reino Unido, onde autoridades científicas fizeram alertas pessimistas sobre o avanço da doença nas próximas semanas - em um indicativo de que novas medidas de isolamento social podem ser implementadas pelo governo.
Patrick Vallance, conselheiro científico chefe do governo britânico, advertiu na segunda-feira (21/9) que o país corre o risco de registrar 50 mil casos por dia em meados de outubro se nada for feito para conter o ritmo atual da pandemia. Isso, por sua vez, faria o número de mortes passar de 200 por dia em novembro.
Atualmente, o patamar de casos diários no Reino Unido está em cerca de 3,7 mil, segundo a média dos últimos sete dias calculada pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. Mas há estudos apontando que o número possa já estar em cerca de 6 mil casos diários.
Portanto, o nível de alerta do país subirá para o de "transmissão em alta ou aumentando exponencialmente".
"No momento, achamos que a epidemia está dobrando ao redor de a cada sete dias", afirmou Vallance. "Se - e aqui cabe um grande se - isso continuar no mesmo ritmo, e crescer (ainda) dobrando a cada sete dias, teremos cerca de 50 mil casos por dia em meados de outubro."
O desafio, afirmou ele, "é garantir que esse tempo de duplicação não fique em sete dias. Isso exige velocidade, ação e (medidas) o suficiente para reduzir (o número de casos)".
O secretário de Saúde, Matt Hancock, afirmou que o país está diante de um "ponto de virada", que pode levar a uma alta significativa da circulação do vírus.
Ao mesmo tempo, o médico Chris Witty, conselheiro do governo, afirmou que o coronavírus não está se limitando aos mais jovens - apontados como os principais responsáveis pela alta da doença na Europa. "(O vírus) está subindo para as demais faixas etárias", afirmou.
Sem lockdown, mas mais restrições
Na terça-feira (22/9), o premiê Boris Johnson deverá realizar uma reunião com seu comitê de emergência da pandemia e, em seguida, fazer um pronunciamento no Parlamento.
A editora de política da BBC, Laura Kuenssberg, diz que é esperado que o governo anuncie novas medidas para conter o vírus, embora os detalhes ainda não tenham sido decididos.
Segundo ela, o governo não cogitava, até esta segunda-feira, estabelecer um novo lockdown (quarentena obrigatória e de regras rígidas) como fez em março, nem pedir a todas as pessoas que fiquem em casa ou voltar a fechar as escolas, mas sim implementar limites ao funcionamento de serviços de hospitalidade e entretenimento.
Mas, em algumas partes do Reino Unido, novas medidas de isolamento já foram anunciadas.
Na Irlanda do Norte, o governo local determinou que, a partir desta terça (22/9), pessoas que moram em casas diferentes não devem mais fazer atividades juntas, com algumas exceções. Também pediu que encontros em áreas como quintais se limitem a no máximo seis pessoas, de no máximo duas residências diferentes.
A ministra local Arlene Foster afirmou que "não se trata de um retorno ao lockdown", mas "não fazer nada não é uma opção".
Ela acrescentou que "as restrições são limitadas, e estamos mais bem posicionados do que (na época do) auge da pandemia".
Na Escócia, a chefe do governo local Nicola Sturgeon também afirmou que medidas de isolamento "quase certamente" serão implementadas, mesmo que independentemente das decisões do governo central em Londres.