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Epidemiologista comenta questões que podem prejudicar a imunização contra a Covid-19 no Brasil

Apesar de ainda não existir uma vacina aprovada para imunização em massa contra a Covid-19 , profissionais da ciência e saúde já se preocupam com a intensa politização que aderiu ao debate em vários países, entre os quais o Brasil. Entre as polêmicas mais recentes sobre o assunto, estão as  declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a vacina Coronavac, candidata a imunizante produzida pela chinesa Sinovac e pelo Instituto Butantan. 

De acordo com o presidente da República, em entrevista concedida em outubro, ele próprio não aceitaria uma vacina produzida na China. O discurso de Bolsonaro, endossado por parte dos seus apoiadores, possui raízes ideológicas e políticas e, de acordo com o epidemiologista e assessor de vacinas do Grupo Pardini, José Geraldo Ribeiro, pode causar um enorme atraso no controle da doença que já causou mais de 160 mil mortes no País. 

“O Brasil sempre utilizou vacinas fabricadas em muitos países, como Rússia, Índia... nunca houve questionamento da população brasileira sobre isso. Em geral, temos uma confiança muito grande no Programa Nacional de Imunizações , que sempre acompanhou de forma muito adequada vacinas de qualquer origem”, diz.

“No entanto, essa questão ideológica que se implantou no Brasil, com a utilização da questão de ‘vacina chinesa’ como uma fala da direita, pode realmente comprometer as campanhas de vacinação caso o Programa Nacional for envolvido nessa polêmica”, opina.

Para o profissional, é fundamental que o Ministério da Saúde e o PNI mantenham uma distância saudável dos conflitos ideológicos, mantendo a credibilidade e confiança do povo brasileiro.

“Se não houver o controle dessa polêmica, é bastante possível que isso prejudique o controle de doenças por meio de vacinas e não só do Sars-CoV-2 , é possível que isso pode refletir em outras vacinas e acredito que, por isso, independentemente da matiz ideológica dos políticos, é uma grande irresponsabilidade envolver as vacinas nesse tipo de discussão política”, pontuou o profissional. 

Questionado sobre o momento em que atingiremos o chamado ‘novo normal’, descrito por muitos especialistas como o ponto em que as medidas de prevenção contra a Covid-19 começarão a relaxar, o especialista é enfático ao afirmar que o momento pode levar mais tempo do que imaginamos.

“A vacina sozinha não será capaz de trazer a vida ao normal, pois devemos vacinar pequenos grupos mais vulneráveis primeiro, o que não será suficiente para controle da doença. Atingir o que chamamos de  ‘normal’ é uma questão de anos e não de meses após utilização da vacina”, explica.

O alerta, que busca diminuir as expectativas sobre o desenvolvimento de uma nova vacina como solução para todos os problemas da pandemia, também foi feito em outubro deste ano por um grupo de cientistas da academia britânica de ciências, que publicaram um relatório sobre os desafios da imunidade coletiva contra a Covid-19, como um plano de distribuição e necessidade de um efeito duradouro de imunidade, uma das maiores dificuldades dos cientistas hoje.

Ribeiro ainda explica que, para atingir o controle da Covid-19, diferentes fatores devem ser combinados, como tratamentos eficazes, imunização de grande parte da população, além de uma nova cultura de segurança sanitária. “Novos hábitos de distanciamento deverão permanecer. Nada radical, como o que precisamos viver agora, mas um cuidado maior na higiene e na exposição coletiva”, diz. 


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