Anticorpos podem ser menos eficazes contra variante brasileira
Igor Shimabukuro
Anticorpos podem ser menos eficazes contra variante brasileira

Uma das formas do organismo de combater infecções é por meio dos anticorpos. Em pacientes curados, esses componentes se agrupam no plasma sanguíneo. Agora, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) descobriram que, no caso de recuperados de Covid-19, esses anticorpos são cerca de seis vezes menos eficientes para neutralizar a variante brasileira do microrganismo, a P.1.

Além disso, o estudo mostra que indivíduos que receberam a segunda dose da CoronaVac têm baixa quantidade de anticorpos capazes de neutralizar tanto a linhagem B (que circulou no Brasil em 2020) quanto a variante P.1 do novo coronavírus depois de cinco meses. Os dados foram divulgados na plataforma  Preprints with The Lancet  e ainda não passaram por revisão.

Para José Luiz Proença Módena, professor do Instituto de Biologia (IB-Unicamp) e coordenador da pesquisa, esses resultados sugerem que tanto quem teve Covid-19 como quem foi vacinado contra a doença pode ser infectado pela variante P.1. Ele explica que esse fenômeno é comum e ocorre com outras vacinas. Isso faz que alguns vírus continuem circulando mesmo após uma população ser imunizada. “Em hipótese alguma ele sugere que a vacina não funciona”, afirma.

O pesquisador conta que o número de indivíduos avaliados no estudo é pequeno e os resultados não são robustos o suficiente para concluir algo relacionado à eficácia da CoronaVac contra a P.1. “São necessários estudos mais aprofundados para avaliar a eficácia de vacinas contra a P.1”, diz.

Como foi a pesquisa

Nos testes, foram utilizadas 20 amostras de secreção nasofaríngea de pacientes infectados pela P.1. Esse material foi inoculado em culturas celulares. “Já tínhamos uma coleção de plasma doado por pessoas que se recuperaram de Covid-19 – todas as amostras tinham altas quantidades de anticorpos neutralizantes”, conta Módena.

Depois, duas amostras das culturas infectadas in vitro com a variante P.1 foram usadas nos testes de neutralização com os plasmas de convalescentes e de vacinados. As amostras de plasma convalescente – coletadas entre dois e três meses após a infecção – foram testadas paralelamente contra a linhagem B e a variante P.1.

O potencial de neutralização da nova cepa foi em média seis vezes menor. “Esse valor chama a atenção. Quando surge uma nova variante do vírus influenza seis vezes menos neutralizada pelos anticorpos, já se considera que há escape imune e que é necessário atualizar a vacina.”

A neutralização com o plasma de vacinados foi feita com amostras coletadas de oito voluntários que participaram dos testes clínicos de fase 3 da CoronaVac entre agosto e setembro de 2020. Nos testes in vitro, o efeito de neutralização foi baixo tanto contra a P.1. quanto contra a linhagem B.

Sistema imunológico

Segundo o pesquisador, esses resultados precisam ser interpretados com cautela, pois anticorpos neutralizantes são apenas um dos componentes do sistema imunológico. Módena lembra que outras formas de proteção, como a imunidade celular, podem ser induzidas pela vacina. “Elas provavelmente são capazes de evitar que os imunizados desenvolvam a doença – principalmente as formas mais graves. No entanto, tudo indica que os vacinados não estão livres de se infectar e de transmitir o vírus”, avalia.

Enquanto não se tem mais detalhes sobre todas as características do novo coronavírus, o especialista ressalta que as medidas de higiene e o distanciamento social são essenciais para controlar a disseminação do novo coronavírus. “Essas medidas podem ajudar a evitar possíveis casos de reinfecção, especialmente por novas linhagens emergentes”, afirma.

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