Anticorpos de lhama podem ajudar a evitar que variantes escapem de vacinas
Foto: Reprodução
Anticorpos de lhama podem ajudar a evitar que variantes escapem de vacinas

Os animais podem ser a chave para ajudar no combate à Covid-19. Aqui no Brasil, por exemplo, o Instituto Butantan desenvolve o soro hiperimune – que já está aprovado para testes clínicos em humanos – ao injetar o novo coronavírus em cavalos.

Outro animal que tem sido pesquisado por cientistas de diversas partes do mundo são as lhamas: alguns de seus anticorpos naturais podem ser úteis no tratamento de infectados com a doença. A ideia é que essas partículas que ajudam a defender o organismo sejam usadas no desenvolvimento de vacinas e tratamentos.

As lhamas são da família dos camelídeos. Esses mamíferos produzem um tipo de anticorpo único, também chamado de nanocorpo, que tem aproximadamente metade do tamanho de um anticorpo humano. Essas partículas são muito estáveis e fáceis de manipular.

Os nanocorpos são usados para criar tratamentos contra diversas doenças. Isso porque, graças a seu tamanho diminuto, eles conseguem se prender a áreas das proteínas virais a que anticorpos maiores não têm acesso – uma vez ali, eles impedem que essas proteínas se conectem às celulas.

Jason McLellan, professor associado da Universidade do Texas em Austin, nos EUA, isolou nanocorpos que se mostraram eficientes contra o vírus respiratório sincicial e dois coronavírus: o da síndrome respiratória aguda (SARS) e o síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS). Quando o genoma do novo coronavírus foi sequenciado, em janeiro de 2020, McLellan e sua equipe quiseram saber se os nanocorpos já isolados das lhamas poderiam neutralizar o novo coronavírus.

E o resultado foi positivo: os anticorpos de lhama têm potencial de ser efetivos contra o microrganismo. McLellan diz que, agora, essa partícula está sendo usada para desenvolver um tratamento contra a Covid-19. Mesmo assim, o pesquisador não ficou completamente satisfeito. “Queríamos encontrar um anticorpo potente capaz de neutralizar todos os coronavírus”, diz. “Queríamos isolá-lo, mas não conseguimos.”

Outras pesquisas

Essa tarefa, entretanto, não é muito simples. O corpo produz muitos anticorpos, mas apenas uma pequena fração deles combate um vírus específico. Yi Shi, professor de biologia celular da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, está em busca de uma solução para isso.

Um estudo publicado pela equipe de Shi na  Science apresenta um método avançado de espectroscopia de massa que permite analisar os nanocorpos em amostras de sangue de lhama. “Buscamos nanocorpos que se conectem firmemente ao novo coronavírus. Com esse método, podemos encontrar um nanocorpo até 10 mil vezes mais potente.”

Para o experimento, a equipe imunizou a lhama Wally contra o novo coronavírus e esperou dois meses até que os nanocorpos se desenvolvessem. Depois, os cientistas usaram o novo método de espectroscopia de massa para analisá-los, identificá-los e quantificá-los.

Você viu?

Os pesquisadores, então, obtiveram 10 milhões de sequências de anticorpos de lhama. “Esses nanocorpos podem ou não servir para tratamentos contra a Covid-19, mas a tecnologia usada para isolá-los vai ser importante no futuro”, avalia Shi.

As partículas podem ficar em temperatura ambiente por até seis semanas e são suficientemente pequenas para serem aerossolisadas, ou seja, transformadas em spray para ser inalado diretamente até o pulmão.

Escape de vacinas

Cientistas da Universidade de Bonn, na Alemanha, descobriram nanocorpos capazes de se agarrar ao novo coronavírus que podem evitar o escape mutacional. Essa característica permite que um vírus desvie da resposta imune ao passar por mutação – pesquisadores sugerem que a variante brasileira P.1 tem essa capacidade. Um tratamento que previna isso, pode impedir a reinfecção.

O grupo de pesquisadores combinou vários nanocorpos em moléculas que atacam diferentes partes do vírus ao mesmo tempo, de forma a prevenir mutações de reduzirem a efetividade dos tratamentos. Esses nanocorpos foram retirados de uma lhama e de uma alpaca imunizadas contra o novo coronavírus. Entre todas as moléculas coletadas, quatro se provaram eficazes.

Ainda são necessários mais para testes para determinar se esses experimentos com nanocorpos podem se tornar tratamentos eficientes contra a Covid-19. Se os resultados forem positivos, as sempre sorridentes lhamas terão participação direta na descoberta.

Fonte: Medical Xpress

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!