“Na melhor das hipóteses, podemos concluir a vacinação em novembro”, diz fundador da Anvisa
Flavia Correia
“Na melhor das hipóteses, podemos concluir a vacinação em novembro”, diz fundador da Anvisa

É isso mesmo. A imunização dos grupos elegíveis atualmente contra a Covid-19 pode terminar em novembro no Brasil. Embora haja poucas chances de isso ocorrer, Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), diz que a situação pode sim, ser considerada.

O médico sanitarista, que também é professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) conversou com o Olhar Digital sobre a vacinação no país e falou sobre o que se pode esperar nos próximos meses. “A perspectiva mais concreta é de que terminemos de vacinar esses grupos em fevereiro de 2022”, afirmou.

Vecina lembra que é importante considerar apenas as vacinas que o Brasil já tem à disposição, ou seja, a CoronaVac e a Covishield, fabricadas no país, respectivamente, pelo Instituto Butantan e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “O que precisa é alinhar com o Butantan e a Fiocruz qual é o esquema de entrega. São eles que devem definir o cronograma”, explicou.

Além disso, tudo está condicionado a imprevistos. “Diariamente, há notícias de fatos novos em alguma fábrica, seja um atraso de insumo, seja uma máquina que quebra. Então, eles [Instituto Butantan e Fiocruz] se planejam, e a gente cobra essa promessa deles”.

Se a imunização dos adultos for realmente concluída em novembro, para 2022 ficam faltando as crianças. “Estamos falando aí de 50 milhões de pessoas, ou seja, 100 milhões de doses”, calcula Vecina. Segundo ele, até lá, o Instituto Butantan e a Fiocruz já devem estar com suas produções estabilizadas. “Então, pode ser que sejam essas as vacinas ministradas em crianças e jovens e, talvez, a Sputnik V”, avalia.

Criada pelo Instituto Gamaleya, da Rússia, a Sputnik V aguarda autorização da Anvisa para ser utilizada por aqui. Há pouco mais de duas semanas, a União Química, empresa brasileira que é parceira do Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) e responsável pela fórmula no Brasil, divulgou o primeiro lote do imunizante produzido integralmente no país.

Paralelamente, a Anvisa avalia a liberação da importação direta da vacina, solicitada pelo Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Brasil Central (BrC). Formado por Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins, o BrC apresentou contrato de intenção de compra de cerca de 30 milhões de doses do imunizante.

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Vecina não acredita que essa importação direta chegue a ser concretizada. “A Sputnik V somente existirá se for produzida no Brasil. Então, quando a União Química tiver condições de fabricá-la em Brasília, ela poderá ser produzida e posteriormente entregue.”

Sputnik V, vacina da Rússia, será produzida no Brasil pela União Química / Crédito: Vladimka production – Shutterstock


Para o médico, ainda deve levar cerca de seis meses até que a produção da fórmula russa seja iniciada por aqui. Isso porque a fábrica precisa receber equipamentos adequados e passar por inspeção da Anvisa. “Aí, sim, é que entra o processo de transferência de tecnologia do Instituto Gamaleya para a União Química. Não tem milagre: não dá para fazer de um dia para o outro”, disse.

Na corrida das vacinas, mais uma opção foi anunciada recentemente, há pouco menos de três semanas: a Butanvac, do Instituto Butantan. Quando apresentou o imunizante, a entidade divulgou um cronograma ousado, que prevê que a fórmula esteja pronta para distribuição para todo o país já em julho deste ano.

Vecina contesta a possibilidade de a Butanvac passar por todas as etapas de avaliação nesse prazo. “Nem sonhando. Se tudo correr maravilhosamente bem, ela estará disponível no fim do ano. E olhe lá: existem muitas coisas para acontecer antes disso”.

O imunizante da instituição será 100% produzido no Brasil, mas sua tecnologia é importada: foi desenvolvida nos EUA por pesquisadores da Icahn School of Medicine do Hospital Mount Sinai, em Nova York. O Instituto Butantan tem licença para o uso e a exploração de parte da técnica, que permite obter o vetor viral usado na fórmula da Butanvac.

Vacina da Índia não é recomendável

Na busca pela solução para a crise sanitária, o professor destaca que as vacinas indianas não são uma boa opção para o Brasil. “A Covaxin é bom a gente fugir”, ressaltou. “Ela não tem aprovação de fase 3 e não é produzida em boas práticas de fabricação. Havia um contrato de compra de 20 milhões de doses desse imunizante, por meio da Precisa Medicamentos, mas não dá para comprar uma vacina que é feita sem esterilização adequada ou sem mensuração da potência”.

A chegada das vacinas da Janssen e da Pfizer ainda parece distante para o especialista. “O contrato com a Pfizer tinha uma cláusula de confidencialidade, que foi violada pelo Ministério da Saúde. Portanto, tecnicamente, o acordo pode ser simplesmente rompido”, lembrou. “Já o contrato com a Janssen teria sido assinado com o [ex-ministro Eduardo] Pazuello, mas o [atual ministro Marcelo] Queiroga não fala desse assunto. Então, elas não são uma realidade no momento”.

Vale lembrar que os EUA interromperam o uso do imunizante da Janssen na quarta-feira (14) por determinação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e da Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos EUA. A decisão foi motivada por relatos de casos raros de trombose (formação de coágulos sanguíneos) associados ao uso dessa fórmula.

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