No Senado, CFM se posiciona contra o tratamento precoce da Covid-19
Matheus Barros
No Senado, CFM se posiciona contra o tratamento precoce da Covid-19

Na manhã desta segunda-feira (19), durante uma audiência pública da Comissão Temporária da Covid-19 do Senado, Donizette Giamberardino Filho, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), afirmou que “o Conselho Federal de Medicina não recomenda e não aprova tratamento precoce e não aprova também nenhum tratamento do tipo protocolos populacionais [contra o coronavírus]”.

A posição do médico vai contra um parecer que o conselho aprovou em 2020 que permitia aos médicos a prescrição da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes que estiverem com sintomas leves, moderados e críticos da infecção por Covid-19.

Donizette afirmou que o CFM fez uma autorização off label (fora da bula, em tradução livre) para situações individuais e com autonomia das duas partes, paciente e médico. E que, em nenhum momento, foi autorizado qualquer procedimento experimental fora do sistema CRM/CFM. “Esse parecer não é habeas corpus para ninguém. O médico que, tendo evidências de previsibilidade, prescrever medicamentos off label e isso vier a trazer malefícios porque essa prescrição foi inadequada, seja em dose ou em tempo de uso, pode responder por isso”, afirmou o médico.

“O Conselho Federal estuda a todo momento. Esse parecer pode ser revisto? Pode, mas é uma decisão de plenária, eu não posso fazer isso por minha opinião. O que eu repito é que a autonomia é limitada ao benefício. Quem ousa passar disso, responde por isso”, respondeu o vice-presidente da CFM ao ser questionado por senadores sobre uma revisão de posicionamento diante de evidências científicas da ineficiência dessa prescrição.

A microbiologista Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (ICQ), da Universidade de São Paulo (USP), lembrou que existem diversos estudos científicos comprovando a ineficácia dos medicamentos que compõe o “kit Covid”, entre eles a hidroxicloroquina, a cloroquina e a ivermectina. “Nós temos mais de 30 trabalhos feitos no padrão ouro que mostram que esses medicamentos não servem para Covid-19”, afirmou a microbiologista sobre os dois primeiros medicamentos. Pasternak ainda disse que existe uma série de bons trabalhos que demostram que a ivermectina não é útil para o tratamento da doença.

“A ciência serve para embasar a medicina, para que médicos tenham a tranquilidade de receitar medicamentos que eles sabem que passaram por esses testes e que, por isso, por haver uma base científica, podem receitar”, acrescentou a presidente do IQC.

A doutora Margareth Dalcomo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), condenou a utilização de fármacos vendidos como “saquinhos de ilusão” e utilizados de forma arbitraria no tratamento do Coronavírus. “São antibióticos que não têm a menor indicação para uma doença que é viral – antibiótico é remédio usado em doença causada por bactéria –, misturando com vitaminas, com zinco, com corticosteroides, que é um medicamento que só tem indicação em casos específicos de Covid-19, com critério médico abalizado naturalmente, e isso mais com anticoagulante, o que piora mais ainda a situação. Anticoagulante também tem indicação na Covid-19, porém deve ser usado criteriosamente a partir da avaliação de determinados marcadores clínicos da Covid, com os quais nós estamos muito acostumados a lidar”, completou Dalcomo.

Via: Agência Brasil

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