Imunidade de rebanho só seria atingida no Brasil com mais de 1 milhão de mortos, diz fundador da Anvisa
Flavia Correia
Imunidade de rebanho só seria atingida no Brasil com mais de 1 milhão de mortos, diz fundador da Anvisa

Há quem diga que uma das formas de superar uma pandemia é atingir a “imunidade de rebanho”. A tese, contestada pela Ciência, diz que deixar a população se infectar livremente pode garantir a imunização do conjunto da sociedade. De acordo com o professor e médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-presidente da Anvisa, a quantidade necessária de mortes para a imunidade coletiva no Brasil seria muito maior que os 411 mil óbitos que o Brasil já atingiu.

Por aqui, o maior defensor dessa ideia é o presidente Jair Messias Bolsonaro – e ele é acusado, entre outras coisas, de sabotar as medidas de enfrentamento da Covid-19, como o uso de máscaras e o distanciamento social. “Ele quer que a gente chegue à imunidade de rebanho acabando com os suscetíveis. Só que, para atingir isso, a estimativa é de 1,2 a 1,3 milhão de mortes”, afirma o professor.

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Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-presidente da Anvisa, atribui ao presidente Bolsonaro a culpa pela situação caótica que o Brasil está atravessando na pandemia. / Imagem: FSP-USP

Por isso, para Vecina, a culpa de o país ter chegado à situação caótica atual é do presidente. “Não tem conversa nessa questão. Veja: ele não quer que use máscara, não quer que faça isolamento social, não quer comprar vacina. Qual é a consequência? É o que ele queria: que morresse gente”.

Para o médico, no momento atual da pandemia, é preciso investir no combo vacina, máscara e distanciamento social. Nem quando a imunização dos grupos prioritários e dos adultos estiver concluída, o país estará livre da doença.

“Terminar a vacinação não é o mesmo que terminar a pandemia”, pontua. “Primeiro, tem de vacinar a população com menos de 18 anos – que são 50 a 60 milhões de pessoas. E tem também a questão das variantes: se começarem a surgir variantes muito diferentes, podemos ter uma ‘enésima’ onda.”

Primeiro lote do imunizante da Pfizer chega ao Brasil e professor prevê problemas

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Na quinta-feira passada (29), chegou ao país a primeira remessa de doses da vacina produzida pela Pfizer em parceria com a BioNTech. São 1 milhão de unidades que fazem parte do acordo assinado pelo Ministério da Saúde com a fabricante. Outras 99 milhões de doses devem chegar até o fim do ano.

O produto será enviado às 27 capitais do país. Diferentemente dos outros imunizantes em uso no Brasil, que podem ser mantidos entre 2°C e 8°C, a fórmula da Pfizer exige armazenamento a temperaturas entre -65°C e -80°C. Para dar conta da demanda, as autoridades da saúde têm recorrido a empréstimos de freezers de hospitais e universidades.

Vecina prevê problemas justamente em relação à estocagem da substância. “Essa vacina deve ser conservada em gelo seco. Fabricar gelo seco não é como fazer gelo. Não sei dizer se todas as capitais têm fábrica de gelo seco. E aí, como vamos fazer? Importar? Trazer de avião? Do Alasca?”, questiona. Ele até aposta em quais serão as próximas manchetes de jornal: “Escassez de gelo seco piora crise sanitária no Brasil”.

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