A partir de uma certa idade, a vontade de ser mãe acaba aflorando em várias mulheres. Por mais que não seja o sonho de todas, com certeza ninguém imagina ter que passar por complicações neste momento que tende a ser tão memorável. Portanto, saiba quais cuidados as gestantes precisam ter durante a pandemia causada pela Covid-19.
Mesmo que uma gestante tenha tanta probabilidade de ser infectada quanto uma mulher não-grávida, ela acaba se encaixando em um grupo de risco caso contraia o novo coronavírus (Sars-CoV-2) por causa da maior chance de sofrer complicações e precisar de cuidados mais intensos. É o que diz um estudo do Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos.
A pesquisa norte-americana constatou que em casos de Covid-19 em gestantes, há maior chance de morte ou de ser necessário a ventilação mecânica. A amostra do estudo foi feita em 400 mil mulheres sintomáticas com o vírus, sendo 23,4 mil delas grávidas.
“Elas precisam se conscientizar de que são um grupo de risco”, alertou Clara Menéndez, diretora da Iniciativa de Saúde Materna, Infantil e Reprodutiva do centro de pesquisas ISGlobal, de Barcelona.
Além disso, o estudo do CDC descobriu que os riscos se agravam com a idade, pois, as mulheres grávidas de 35 a 44 anos com Covid-19 tinham quase quatro vezes mais chances de precisar de ventilação invasiva e duas vezes mais possibilidade de morrer que as não gestantes da mesma idade. A explicação pode estar nas mudanças fisiológicas que o gênero feminino sofre durante a gravidez.
“Há várias hipóteses. O sistema imunológico de uma grávida sofre mudanças para não rejeitar o feto como um corpo estranho. Ele se adapta. Não é que a mulher esteja imunodeprimida, mas pode haver mudanças imunológicas que influenciam numa maior reação inflamatória à Covid-19”, disse a pesquisadora do ISGlobal.
Por meio de provas científicas, houve um consenso de conscientizar todas as gestantes sobre a necessidade de não baixar a guarda em nenhum momento e se proteger, principalmente porque o feto pode ser infectado também através da placenta. “Não se deve alarmar, mas sim dizer a elas que se comportem bem, que não se arrisquem. São um grupo de risco, mas não pelo bebê, e sim por elas”, observou a pesquisa.
As mulheres que desejam a gestação precisam estar atentas. “O primeiro cuidado é a prevenção primária da doença, a segunda é o isolamento social, uso de máscara e hieginização com álcool”, explicou o ginecologista e obstetra, Luiz Fernando Frassetto, diretor Científico Geral da SOGISC (Associação de Obstetrícia e Ginecologia de Santa Catarina).
Riscos da gravidez durante a pandemia no Brasil
No nosso país, as mortes de mulheres grávidas pela Covid-19 estão acima da média do restante da população. Por isso, o Ministério da Saúde emitiu um comunicado pedindo que os casais planejem um momento melhor para viver a maternidade.
“Se possível, adie um pouco a gravidez, para um melhor momento, quando puder ter mais tranquilidade”, enfatizou Raphael Parente, secretário de Atenção Primária à Saúde. Segundo experiência clínica, a nova variante brasileira afeta as gestantes de forma bem mais agressiva, com maior risco de coágulos ou trombose.
“É claro que não podemos dizer isso para quem tem 42, 43 anos, mas para uma jovem, que pode escolher quando engravidar, o melhor agora é esperar um pouquinho”, acrescentou o secretário. A mesma recomendação foi feita pelas autoridades de saúde brasileiras em 2016 por causa da epidemia do zika vírus.
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De acordo com o Observatório Obstétrico da Covid-19, os dados coletados indicam que as mortes de gestantes dobraram em 2021, em relação ao ano passado: passou de 10,4 óbitos (ou seja, 449 mortes em 43 semanas de pandemia de 2020) para 22,2 logo nas primeiras semanas deste ano, resultando em 289 mortes.
Atualmente, o Brasil é um dos países onde a Covid-19 mais causa vítimas por dia e a nova onda também está afetando pessoas mais jovens – metade dos internados na UTI possuem menos de 40 anos
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e os órgãos reguladores de medicamentos dos Estados Unidos e da União Europeia não contraindicam a vacina para as grávidas, porém, indicam a consulta com o médico antes.
Afastamento das gestantes do trabalho
Em 2020, a Câmara dos Deputados aprovou a proposta que torna obrigatório o afastamento das gestantes do trabalho presencial durante o estado de calamidade pública da pandemia do novo coronavírus. O texto é da deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) e outras 15 parlamentares que defendem que a gestante ficará à disposição para trabalho remoto.
“O isolamento social é a forma mais eficaz de evitar a Covid-19, e qualquer infecção grave pode comprometer a evolução da gestação”, afirmam as autoras.
Já em 2021, o Senado aprovou o projeto e segue para a sanção pelo presidente Jair Bolsonaro. “A trabalhadora [grávida], além de necessitar de cuidados especiais para a preservação de sua saúde, tem que adotar todas as medidas possíveis para a proteção da vida que carrega. Não pode, em um momento como o ora vivenciado no país, ficar exposta a este terrível vírus, que pode ceifar a sua vida, a de seu filho, bem como arrasar o seu núcleo familiar”, disse a relatora do projeto no Senado, Nilda Gondim (MDB-PB).