Após um ano e meio de pandemia, a Covid-19 ainda afeta estados e municípios de formas diferentes. Enquanto uns sofrem com alta nos números de casos e de mortes, além da sobrecarga hospitalar e dos profissionais de saúde, outros já podem experimentar um retorno à normalidade diante de níveis mais baixos de transmissão. Os extremos coexistem num Brasil à beira de atingir 600 mil mortos.
Levantamento da Rede Análise Covid-19 feito a pedido do GLOBO, com base em dados do Ministério da Saúde, mostra que São José do Rio Preto (SP) alcança 598,9 mortes por 100 mil habitantes. A taxa mais alta do país é 1.777,3% maior que a de São Félix do Xingu (PA). Com 31,9 óbitos a cada 100 mil moradores, o município representa o menor patamar do país. Esse cenário se repete quando ampliado para os rankings de cidades com os maiores e menores índices: quatro delas estão em São Paulo e outras quatro, no Pará.
Para Isaac Schrarstzhaupt, um dos coordenadores do grupo, a multifatorialidade da pandemia — que envolve desigualdade social entre pacientes, capacidade hospitalar e surtos de Covid em determinadas localidades, entre outros — impacta nos resultados:
"São hipóteses, dependem de muitos fatores. São tantas possíveis coisas que podem acontecer que a pandemia é quase não determinística, no sentido de que, se pudesse rebobinar tudo e rodar de novo, era capaz de o resultado não ser o mesmo. Por isso, o ideal é controlar a transmissão."
Abaixo da cidade paulista, estão São Caetano do Sul (561,6), Cuiabá (557,9), Catanduva (501,3) e Santos (487,4). A capital matogrossense supera as outras 26 espalhadas pelo país em relação aos óbitos proporcionais — São Paulo e Rio de Janeiro, por sua vez, lideram em números absolutos.
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"Um fator que também pode explicar é onde o vírus chegou primeiro (São Paulo). Como ele chegou de fora (o primeiro caso foi de um idoso vindo da Itália), ataca mais fortemente os locais aonde chegou. Depois, tem o fenômeno da interiorização. Cidades que estão com o vírus há mais tempo tendem a ter mais óbitos", continua o analista de dados, responsável pelo levantamento.
No outro extremo, a fluminense Japeri (91,6) e as paraenses Marituba (106,4), Tailândia (112,8) e Breves (116,8) têm os menores índices seguem atrás de São Félix do Xingu. A cidade, a 1052,7 km de Belém, é considerada a capital do desmatamento da Amazônia. Além disso, é o local que mais emite gás carbônico no Brasil, segundo estudo do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, divulgado em março.
"Falando especificamente para essas cidades aqui do Pará, a gente pode ter subnotificação por conta de acesso a serviços de saúde, isolamento geográfico etc. Breves foi uma das cidades mais atingidas na primeira onda. Fica no Marajo, são 12 horas de barco para chegar a Belém... Tanto que chegou a ter hospital de campanha em Breves", afirma a doutora em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Pará (UFPA) Helem Ferreira Ribeiro.
A biomédica e professora avalia que a circulação do coronavírus está no patamar mais baixo no estado desde o início da pandemia:
A capital chegou a ter dois dias sem registrar mortes. Muitas restrições diminuíram, mas a gente sabe que o vírus continua circulando. Hoje mesmo (sexta-feira) se soube que teve um surto de Covid no principal hospital de pronto-socorro de Belém.