Pesquisadores alemães descobriram evidências de que o coronavírus Sars-CoV-2 é capaz de afetar diretamente as glândulas adrenais e, consequentemente, o sistema hormonal. Essas glândulas podem ser acometidas em pacientes com Covid-19 grave, mas não se sabia se isso era consequência de um ataque direto da infecção ou da sepse, a inflamação generalizada provocada por ela. São justamente as adrenais as principais fontes de glucorticoides, cruciais para o enfrentamento da sepse.
O estudo sugere ainda que o comprometimento das adrenais pode estar por trás da lenta recuperação de alguns pacientes de Covid-19. Disfunções nas adrenais podem afetar profundamente o equilíbrio do organismo. Essas glândulas localizadas acima dos rins e também chamadas de suprarrenais produzem hormônios muito importantes, como testosterona, cortisol, adrenalina e noradrenalina.
Num artigo na revista médica Lancet, os cientistas relatam ter encontrado proteínas e material genético do Sars-CoV-2 nas glândulas adrenais de pessoas que morreram de Covid-19. Foram analisadas amostras de 40 pessoas, da Alemanha e Suíça. Os pesquisadores viram que 53% tinham sinais do vírus.
No estudo, Waldemar Kanczkowski, da Universidade de Dresden, na Alemanha, e sua equipe explicaram que a hipótese do ataque direto era elevada porque as glândulas adrenais são alvos de ataques de bactérias e vírus, a exemplo do Sars-CoV-1, causador da pandemia de Sars em 2002-2004.
Os coronavírus Sars-CoV-2 e 1 compartilham os mesmos receptores usados para invadir células e abundantes nas adrenais. Porém, os pesquisadores salientam que não é possível saber ainda se é o ataque direto que causa disfunções nas glândulas adrenais ou se estas são consequência de uma cascata inflamatória. Para tanto, será necessário realizar estudos com um maior número de amostras de pacientes.