Mesmo em lugares com altas taxas de cobertura vacinal, em que os riscos estão em patamares baixos para a população imunizada, aqueles não se vacinaram aumentam as chances de contaminação por Covid-19 em até 50% para os demais, mostra estudo de pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Toronto, no Canadá.
Por outro lado, o contato com pessoas vacinadas diminui as altas chances de infecção para os que não receberam o imunizante em cerca de 22%, atuando como um “amortecedor” para esse grupo, afirmam os cientistas. As conclusões acompanham falas de diversos especialistas que reforçam o papel coletivo no ato de se vacinar.
Publicado nesta segunda-feira na revista científica Canadian Medical Association Journal, o trabalho é resultado da criação de um modelo matemático que estima o impacto na disseminação da doença a partir de diversos cenários que envolvem a interação entre pessoas imunizadas e não imunizadas, em diferentes níveis de cobertura vacinal.
Foram analisadas, por exemplo, as consequências para o número geral de casos naquela população, em cada grupo (vacinados e não vacinados) e no risco de infecção. Os cientistas compararam, então, os resultados em três simulações: uma que os dois grupos interagiam entre si e outras duas em que os membros de cada grupo interagiam apenas com pessoas do seu próprio grupo.
No geral, os resultados do modelo mostraram que, embora baixo, o risco de infecção no grupo de pessoas vacinadas foi desproporcionalmente aumentado quando em contato com pessoas não imunizadas. Porém, para aqueles que não receberam a vacina, estar em contato com pessoas imunizadas reduziu consideravelmente as chances de contaminação, atuando como um “amortecedor para a transmissão”.
“Como esperado, as pessoas vacinadas estavam em risco significativamente menor de infecção por SARS-CoV-2 durante a epidemia; no entanto, quando ocorreu a mistura aleatória com pessoas não vacinadas, elas diminuíram as taxas de ataque (proporção da população contaminada) nas pessoas não vacinadas, servindo como um amortecedor para a transmissão”, escreveram os responsáveis pelo estudo.
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Isso porque a taxa de ataque – medida a partir do número de pessoas contaminadas divididas pelo total daquela subpopulação – entre os vacinados foi de apenas 10% quando as interações eram exclusivamente entre si, mas subiu para 15% quando em contato com pessoas não vacinadas – um aumento de 50%. Já entre os não imunizados, a taxa, que era de 79% quando o contato era apenas entre eles, caiu para 62% na interação com pessoas vacinadas – uma queda de cerca de 22%.
Em resumo, enquanto a vacinação ajudou a reduzir o risco da Covid-19 mesmo entre aqueles que decidiram não se imunizar (ou não puderam), o ato de recusar a vacina contribuiu para elevar as chances de adoecimento tanto para os que não receberam a aplicação, como para os que foram vacinados – resultado que comprova o impacto coletivo da imunização.
“O risco entre pessoas não vacinadas não pode ser considerado individual, e considerações sobre equidade e justiça para pessoas que optam por ser vacinadas, bem como aquelas que optam por não ser, precisam ser consideradas na formulação de políticas sobre vacinação”, escreveram os pesquisadores.
Apesar de o modelo ser simplificado, ou seja, não envolver todos os eventos mais complexos que ocorrem em uma sociedade, os responsáveis pelo estudo acreditam que os resultados são suficientes para comprovar o risco de não se vacinar mesmo para o resto da população. Para eles, esse é um fator que deve ser levado em consideração na formulação de políticas públicas de saúde.
“Historicamente, os comportamentos que criam riscos à saúde da comunidade e dos indivíduos têm sido objeto de regulação da saúde pública. Isso vale para doenças infecciosas transmissíveis, mas também se aplica a leis de saúde pública que limitam o consumo de cigarros em ambientes fechados e restrições legais à condução sob a influência de álcool e outros intoxicantes”, relembram os cientistas.
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