Covid: paciente que morreu após 505 dias teve caso mais longo da doença, dizem médicos
Michelle Roberts - BBC
Covid: paciente que morreu após 505 dias teve caso mais longo da doença, dizem médicos

As consequências da Covid-19 ainda estão em processo de descoberta pelos cientistas, mas uma série de problemas para além da infecção foram comprovados, como o risco aumentado para diabetes e doenças cardiovasculares.

Agora, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Cambridge e da Imperial College de Londres, no Reino Unido, estimou que os impactos cognitivos decorrentes de um quadro grave da doença podem ser semelhantes àqueles observados durante 20 anos de envelhecimento – entre os 50 e os 70 anos de idade – e serem equivalentes à perda de 10 pontos de QI. Os achados foram publicados na revista científica eClinicalMedicine, do grupo The Lancet.

De acordo com o estudo, os efeitos na cognição foram vistos até seis meses após a fase aguda da infecção, com uma melhora apenas gradual. Para entender essa relação, os cientistas analisaram dados de 46 pessoas com Covid-19 que receberam atendimento hospitalar ou foram internadas em unidades de terapia intensiva (UTIs) no Hospital Addenbrooke’s, uma das instituições da Universidade de Cambridge, entre março e julho de 2020. Dessas pessoas, 16 precisaram de ventilação mecânica durante a estadia no local.

Cerca de seis meses após a infecção, todos passaram por testes cognitivos detalhados que mediram diferentes aspectos, como memória, atenção e raciocínio. Também foram monitoradas escalas em relação a níveis de ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático. As informações foram, então, comparadas com dados de 460 pessoas que não tiveram Covid-19.

Os resultados mostraram que os pacientes que tiveram Covid-19 foram menos precisos nos testes e com tempos de resposta menores que os do grupo de controle – mesmo no período de meses depois da contaminação. Entre aqueles que precisaram de ventilação mecânica, os impactos foram ainda mais fortes.

Entre os pontos de menor desempenho nos testes estava o raciocínio analógico verbal, um fator que justifica um problema comumente relatado em que as pessoas têm dificuldades em encontrar as palavras que iriam dizer. Eles também mostraram velocidades de processamento mais lentas após a infecção.

Os cientistas decidiram, então, ampliar e comparar o desempenho com informações de mais de 66 mil pessoas da população geral – disponíveis em um banco de dados de saúde. A partir dessa análise, os pesquisadores estimaram que a magnitude dos impactos cognitivos pela doença foram semelhantes aos observados durante 20 anos de envelhecimento, entre os 50 e os 70 anos de idade, além de serem equivalentes à perda de dez pontos de QI.

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“O comprometimento cognitivo é comum a uma ampla gama de distúrbios neurológicos, incluindo demência e até envelhecimento de rotina, mas os padrões que vimos – a “impressão digital” cognitiva da Covid-19 – foram diferentes de todos eles” , disse o professor da Universidade de Cambridge David Menon, autor sênior do estudo, em comunicado.

Com o passar dos meses, os pesquisadores relatam que houve uma certa melhora dos quadros, mas de forma gradual e “não significativa”, influenciada por fatores como a gravidade da infecção.

“Acompanhamos alguns pacientes até dez meses após a infecção aguda, então conseguimos ver uma melhora muito lenta. Embora isso não tenha sido estatisticamente significativo, pelo menos está indo na direção certa, mas é muito possível que alguns desses indivíduos nunca se recuperem totalmente”, afirmou Menon.

Segundo os pesquisadores, existem alguns fatores que podem explicar os impactos cognitivos, como a própria ação do vírus, a oxigenação inadequada consequente da infecção ou o suprimento inadequado de sangue para o cérebro devido ao bloqueio de vasos sanguíneos por uma coagulação e sangramentos microscópicos, problemas que podem ser provocados pela Covid-19.

No entanto, eles explicam que novas evidências científicas sugerem que os danos podem ser causados principalmente pela própria resposta inflamatória do corpo e seu sistema imunológico.

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