Após três anos de pandemia, o número de casos de pessoas que apresentam sintomas da Covid longa têm crescido e se preocupado cada vez mais as autoridades. Com isso, questiona-se se a vacinação contra a Covid-19 também ajuda a reduzir as chances de desenvolver sintomas a longo prazo.
O que as pesquisas descobriram até agora
Apesar de ainda não haver um veredicto, um número crescente de estudos demonstra que se vacinar contra a Covid-19 pode reduzir o risco de sintomas a longo prazo, embora não o elimine.
No Reino Unido, a Agência de Segurança da Saúde fez uma análise de oito estudos publicados sobre o assunto. Seis deles concluíram que as pessoas vacinadas que foram contaminadas pela Covid eram menos propensas a desenvolver sintomas a longo prazo do que os pacientes não vacinados. Os dois estudos restantes concluíram que a vacinação não pareceu reduzir definitivamente as chances de desenvolver sintomas persistentes.
Quanta proteção as vacinas podem oferecer, com base nos estudos que mostraram benefício?
Alguns estudos dizem que a imunização tem proteção substancial, já outros encontram apenas pequenos benefícios. Um grande estudo de registros eletrônicos de pacientes da Administração de Saúde de Veteranos dos Estados Unidos mostrou que os pacientes com Covid-19 que foram vacinados tiveram apenas 13% menos risco de desenvolver sintomas seis meses depois do que aqueles que não foram vacinados.
Dois estudos realizados no Reino Unido tiveram mais resultados. Um deles, realizado em 1,2 milhão de pessoas e baseado e em relatos de pacientes por meio de um aplicativo de telefone, mostrou um risco 50% menor de sintomas persistentes entre os pacientes vacinados. Outro, que não foi revisado por pares e foi baseado em uma pesquisa com cerca de 6 mil pacientes, encontrou um risco 41% menor.
Outro estudo feito em Israel e que não foi revisado por pares indicou que pessoas que receberam duas doses da vacina tiveram entre 54 a 82% menos chance de desenvolver sete dos 10 sintomas mais comuns de Covid longa. Em geral, sintomas como dores de cabeça, dores musculares e outros problemas eram menos relatados por pessoas com duas doses vacinais do que a população geral que nunca havia sido infectada pela doença.
No estudo de veteranos, que também ainda não foi publicado em uma revista especializada, os pesquisadores compararam cerca de 48 mil pacientes que não foram vacinados quando contraíram a Covid-19 com cerca de 16 mil pacientes vacinados. Eles descobriram que os vacinados se beneficiavam principalmente por serem menos propensos a desenvolver problemas pulmonares e dificuldades de coagulação do sangue.
"A mensagem geral é que as vacinas reduzem o risco de Covid longa, mas não o elimina" , disse Al-Aly, um dos autores do trabalho e chefe de pesquisa e desenvolvimento do System of Health Care System. "Depender da vacinação como a única estratégia de mitigação é completamente inadequado. É como ir para a batalha com um escudo que está funcionando apenas parcialmente."
E os estudos que não mostram nenhum benefício?
Pesquisadores do Reino Unido analisaram os prontuários eletrônicos de pacientes estadunidenses, e fizeram uma comparação de cerca de 10 mil pessoas que foram vacinadas contra a Covid-19 com o mesmo número de pessoas que não foram imunizadas. O estudo descobriu que ser vacinado antes de ser infectado não reduz o risco da maioria dos sintomas de Covid longa.
Os estudiosos constataram que os sintomas a longo prazo, como respiração anormal e problemas cognitivos, porém, esses resultados não foram estatisticamente conclusivos. De acordo com os pesquisadores, é possível que o estudo tenha registrado apenas pacientes com os sintomas mais graves, em vez de considerar uma gama mais ampla de pacientes que não procuraram atendimento médico por seus sintomas.
Por que a pesquisa é contraditória?
Um dos motivos é relacionado aos próprios estudos, pois nem todos os pesquisadores definiram a Covid prolongada da mesma forma, consideraram os mesmos sintomas ou acompanharam os pacientes pelo mesmo tempo. Por exemplo, alguns estudos registraram sintomas que persistiram por pelo menos 28 dias após a infecção, enquanto outros analisaram os sintomas que as pessoas experimentaram seis meses depois.
Estudos baseados em pesquisas com pacientes podem ter resultados muito diferentes de pesquisas baseadas em registros eletrônicos de saúde, e alguns estudos não incluíram populações muito diversas. Por exemplo, os pacientes no estudo dos veteranos eram em sua maioria brancos, idosos do sexo masculino.
Os resultados variam para diferentes variantes do vírus?
Grande parte dos dados publicados refere-se a pacientes infectados no início da pandemia. Alguns dados publicados recentemente incluíam pessoas infectadas com a variante Delta, que é altamente contagiosa, mas é muito cedo para realizar estudos sobre vacinas e Covid longa que incluam a variante Ômicron. Também é muito cedo para realizar estudos avaliando o efeito das doses de reforço.
Os cientistas chegaram a alguma conclusão?
Sim. Apesar das divergências entre os estudos, os pesquisadores concordam que as vacinas continuam sendo muito eficazes para evitar que as pessoas fiquem gravemente doentes devido à infecção com todas as variantes conhecidas até o momento.
Muitos estudos descobriram que os pacientes que ficam doentes o suficiente para serem hospitalizados eram mais propensos a ter problemas de saúde contínuos. Portanto, ao evitar que as pessoas sejam hospitalizadas, as vacinas também devem reduzir as chances desses tipos de casos de Covid com consequências a longo prazo.
Ainda assim, muitas pessoas com Covid longa tiveram infecções iniciais leves ou até assintomáticas e, apesar de alguns estudos sugirirem que as vacinas possam aliviar seus sintomas de longo prazo, as evidências ainda são inconclusivas. As vacinas oferecem alguma proteção contra a infecção inicial e, claro, evitar a infecção é a maneira mais segura de prevenção.
A marca da vacina influencia na possível proteção contra Covid longa?
Até agora, os estudos não descobriram que diferentes vacinas tenham efeitos diferenciais nos sintomas a longo prazo.
Pode ser útil se vacinar se você já tiver Covid longa?
Após o lançamento das vacinas, alguns pacientes com Covid longa descobriram que sintomas como névoa cerebral, dor nas articulações, falta de ar e fadiga melhoraram após serem vacinados. Entretanto, muitas pessoas não sentiram nenhuma diferença em seus sintomas após a vacinação, e uma pequena porcentagem disse que se sentiu pior.
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