O diagnóstico da Covid-19 é realizado pelo teste RT-PCR ou pelos testes rápidos. Exames de sangue mostram se a pessoa já teve contato com o vírus, mas não são capazes de identificar uma infecção ativa. Até agora.
Uma equipe de pesquisadores brasileiros mostrou que um software de inteligência artificial é capaz de identificar com precisão uma infecção pelo novo coronavírus por meio da análise de um simples hemograma.
O estudo, publicado recentemente na revista científica Communications Medicine, do renomado grupo Nature, foi realizado pelo Grupo Fleury em parceria com a Kunumi, startup especializada em inteligência artificial. Os pesquisadores utilizaram uma ferramenta de inteligência artificial para analisar dados de hemogramas e testes RT-PCR de mais de 900 mil pessoas.
No estudo, foram incluídos 809.254 hemogramas e mais de 1 milhão de testes para diagnóstico de Covid-19, dos quais 21% apresentaram resultado positivo, coletados durante a primeira e segunda onda da doença no Brasil.
O infectologista e patologista clínico Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury, explica que o RT-PCR é um exame demorado e caro, enquanto o hemograma é rápido e barato.
Diante dessa constatação e da falta de testes em muitos momentos da pandemia, surgiu a ideia de ver tentar utilizar a tecnologia para fazer inferências, a partir de um exame rápido, barato e amplamente disponível - como o hemograma - sobre o diagnóstico de Covid-19.
"Com essa estratégia de inteligência artificial, foi possível descobrir uma combinação de marcadores presentes no hemograma com capacidade de prever se a pessoa tem Covid ou não com uma confiança muito grande. São milhares de combinações sutis que um médico não consegue analisar sozinho, mas que essa ferramenta, sim" diz Granato.
A inteligência artificial apresentou mais de 90% de acerto no diagnóstico da doença. A previsão foi de 92% para casos positivos e 82% para casos negativos. Segundo Wesley Prieto, head de Ciência de Dados e Bioinformática do Grupo Fleury, a ideia não é que esse tipo de exame substitua o RT-PCR, por exemplo, mas ele poderia ser usado para apoiar o médico no diagnóstico.
Por exemplo, na época em que o resultado do exame demorava dias para ficar pronto, essa ferramenta poderia ser utilizada para triar com mais precisão pacientes possivelmente infectados e recomendar seu isolamento até que o resultado o PCR ficasse pronto.
Para garantir que a ferramenta seria precisa mesmo diante da circulação de outras doenças com sintomas parecidos, os pesquisadores também submeteram o softwares a hemogramas de pessoas infectadas com outros vírus que causam síndromes gripais, como o influenza, e a identificação da Covi-19 continuou altamente assertiva.
"Esse tipo de estudo é importante para mostrar que esses exames rotineiros de laboratório podem ser muito mais utilizados do que são hoje. Com inteligência artificial conseguimos entender padrões complexos não-lineares que estão ali, mas não são visíveis a olho nu", explica Daniella Castro, co-fundadora e diretora de tecnologia da Huna, startup brasileira de inteligência artificial ligada à Kunumi, responsável pelo desenvolvimento da inteligência artificial usada no estudo.
A ideia é que em um futuro próximo, esse tipo de tecnologia possa ser utilizada na prática clínica, seja para o diagnóstico da Covid-19 ou de outras doenças, como para identificar qual é o agente causador de uma síndrome gripal.
"Dada a sua natureza versátil, baixo custo e rapidez, acreditamos que nossa ferramenta pode ser particularmente útil em uma variedade de cenários - durante a pandemia e depois", concluem os autores.
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