Covid aumenta risco de 'nevoeiro mental' e outros transtornos cerebrais, indica estudo
Reprodução: BBC News Brasil
Covid aumenta risco de 'nevoeiro mental' e outros transtornos cerebrais, indica estudo

O sofrimento psicológico – caracterizado por quadros de depressão, ansiedade, estresse e solidão – aumenta o risco para a síndrome da Covid longa, persistência dos sintomas da Covid-19 por ao menos três meses após a contaminação, em até 50%. A conclusão é de um estudo conduzido por pesquisadores da Escola de Saúde Pública T.H.

Chan, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, publicado na revista científica JAMA Psychiatry. De acordo com os responsáveis pelo trabalho, a saúde mental fragilizada foi associada ao diagnóstico de forma mais acentuada que fatores como obesidade e hipertensão.

“Ficamos surpresos com o quanto o sofrimento psicológico antes de uma infecção de Covid-19 estava associado a um risco aumentado de Covid longa. O sofrimento foi mais fortemente associado ao desenvolvimento do quadro do que fatores de risco para a saúde física, como obesidade, asma e hipertensão”, afirma a pesquisadora do Departamento de Nutrição da Universidade de Harvard, que liderou o estudo, Siwen Wang, em comunicado.

Para chegar à conclusão, os pesquisadores analisaram dados de três estudos conduzidos entre abril de 2020 e novembro de 2021, com 54.960 participantes de em média 57 anos. A grande maioria, 96,6%, eram mulheres. Os cientistas relacionaram, em seguida, os relatos de sofrimento psicológico anteriores à infecção da Covid-19 à prevalência dos casos da síndrome da Covid longa.

Eles descobriram que, entre aqueles com depressão, a incidência dos sintomas duradouros foi 32% maior. Entre os com ansiedade, o aumento foi de 42%. Os que relataram estresse percebido tiveram risco 46% maior para Covid longa; e os que relataram quadros de solidão, 32%. De acordo com os resultados do estudo, participantes com dois ou mais tipos de sofrimento psicológico no geral tiveram uma probabilidade 49% maior de desenvolver a persistência dos sintomas da Covid-19 mesmo após a infecção.

“Até onde sabemos, este é o primeiro estudo prospectivo a mostrar que uma ampla gama de fatores sociais e psicológicos são fatores de risco para Covid longa e comprometimento da vida diária devido à Covid longa. Precisamos considerar a saúde psicológica, além da saúde física, como fatores de risco. Esses resultados também reforçam a necessidade de aumentar a conscientização pública sobre a importância da saúde mental e obter cuidados de saúde mental para as pessoas que precisam”, defende a pesquisadora do Departamento de Saúde Ambiental de Harvard, e autora sênior do artigo, Andrea Roberts, em comunicado.

Os pesquisadores de Harvard responsáveis pela nova publicação chamam atenção para o fato de a depressão e outros problemas de saúde mental já terem sido associados a um risco aumentado para Covid grave, incluindo necessidade de internação, além da piora de outras doenças, como a gripe comum. Eles destacam, portanto, que a ligação com a Covid longa não quer dizer que a persistência dos sintomas seja um quadro psicológico.

“Nossos resultados não devem ser mal interpretados como apoiando a hipótese de que as condições pós-Covid-19 são psicossomáticas.Em primeiro lugar, entre os entrevistados que desenvolveram condições pós-Covid-19, mais de 40% não apresentavam sofrimento (psicológico) na linha de base (início da pesquisa). Em segundo lugar, os sintomas das condições pós-Covid-19 diferem substancialmente dos sintomas de doença mental. Embora fadiga e confusão mental possam ocorrer com depressão, problemas de olfato e paladar, falta de ar, dificuldade para respirar e tosse não são sintomas comuns de doença mental”, escreveram os autores no estudo.

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), cerca de 20% dos americanos contaminados com o Sars-CoV-2 desenvolveram a Covid longa, com sintomas como fadiga, névoa mental, problemas respiratórios, cardiovasculares ou neurológicos.

Um estudo conduzido pela Universidade de Groningen, na Holanda, publicado na Lancet, estima que uma em cada oito pessoas desenvolvem o quadro. Outro trabalho, também divulgado na Lancet, mostra que a incidência é ainda maior entre os que foram hospitalizados no momento da infecção aguda, chegando a 50% dos casos.

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