Cerca de 80% dos profissionais de enfermagem mortos por Covid-19 no Brasil tinham menos de 60 anos , enquanto 75% dos óbitos entre médicos foram acima da faixa etária.
Os dados são de um novo estudo conduzido por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/ Fiocruz ), que traçou o perfil dos profissionais da saúde vítimas da pandemia.
O levantamento, que foi divulgado na revista científica Ciência & Saúde Coletiva, buscava apontar a desigualdade no impacto entre profissionais de saúde pela doença.
Os responsáveis pelo estudo apontam como principais justificativas para a desigualdade observada os tipos de vínculo trabalhista de cada profissão, além da média de idade dos profissionais quando iniciam a carreira.
“A enfermagem tem uma inserção mais institucional, assalariada e com tempo de trabalho pré-determinado. Boa parte da enfermagem no Brasil tem assegurado o direito formal à aposentadoria. Na medicina é exatamente o contrário, pois infelizmente os médicos estão cada vez mais de forma autônoma no mercado profissional”, s ugere a pesquisadora da Ensp/Fiocruz, Maria Helena Machado, autora principal do artigo, em comunicado.
“A outra questão é que as categorias da enfermagem tem inserção no mercado de trabalho em fases da vida bastante distintas. Os técnicos podem iniciar a jornada por volta dos 18 anos, por exemplo. Os enfermeiros, assim como os médicos, precisam primeiro se formar na universidade, mas o curso de Medicina é mais longo, fazendo que com que esses profissionais entrem mais tarde no mercado, o que também contribui para o prolongamento das suas carreiras”, acrescenta.
Foram analisadas informações dos conselhos federais de Medicina e Enfermagem (CFM e Cofen) e do estudo sobre o inventário de óbitos da Fiocruz, entre março de 2020, início da pandemia, e março de 2021. No período, foram identificadas as mortes de 622 médicos, 200 enfermeiros e 470 auxiliares e técnicos de enfermagem.
A maioria dos profissionais de enfermagem que foram vítimas da Covid-19 eram mulheres, jovens e negras. Entre os médicos, houve uma predominância de homens, que chegou a 87,6% do total. Não foram disponibilizados dados sobre cor e/ou raça entre os profissionais.
Os pesquisadores explicam que, em 2009, as mulheres passaram a ser maioria entre os novos registrados em conselhos de médicos – em alinhamento com a proporção do sexo feminino na população do Brasil.
Porém, devido à maioria masculina nos tempos anteriores, os profissionais mais velhos, que morreram pelo novo coronavírus, são majoritariamente homens. Já na enfermagem, hoje as mulheres representam 85% do total, uma predominância que é histórica na categoria.
Outro fator analisado foi o impacto regional. Embora regiões como Sudeste, que lideram em população, também tenham registrado mais óbitos, os números da região Norte especificamente chamaram a atenção dos pesquisadores. Isso porque, embora represente apenas 4,5%, 7,6% e 8,7%, respectivamente, do contingente de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem do país, o Norte foi responsável por 16,1%, 29,5% e 23,2% dos óbitos nas profissões.
“É uma região com uma população grande, heterogênea e dispersa em sete estados. Uma extensão territorial grande, o que deveria gerar políticas especiais”, diz Maria Helena. “É onde tem piores condições de trabalho e maior aglomeração da população desesperada por atendimento”, complementa a pesquisadora.
Entre no canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo. Siga também o perfil geral do Portal iG.