Se sente mais angustiado, ansioso e triste durante o fim de ano? Pois é, você não está sozinho. O período de festas pode ser animador para alguns, mas para outros pode representar um grande desafio emocional . Na verdade, muitas pessoas passam por isso nesta época, tanto que esse fenômeno ganhou até um nome: “ dezembrite ” ou “ Síndrome de Fim do Ano “.
Apesar do conceito não existir oficialmente na psicologia e psiquiatria, as mudanças emocionais que acontecem neste período são bastante comuns e não devem ser ignoradas. A seguir, especialistas comentam sobre a “dezembrite” e falam o que pode ser feito para lidar com ela. Veja!
O que é a dezembrite?
De acordo com a Dra. Cíntia Braga , psiquiatra, a “dezembrite” (ou “Síndrome de Fim do Ano”) é um conjunto de sentimentos que muitas pessoas apresentam no fim do ano, por exemplo, tristeza, ansiedade e sensação de sobrecarga emocional .
“Isso ocorre frequentemente devido ao balanço do ano que passou, trazendo reflexões sobre realizações, perdas e expectativas para o próximo ciclo. Esse período é caracterizado por um aumento das cobranças, o que pode fazer com que muitos sintam uma pressão adicional para ‘finalizar’ ou ‘conquistar’ algo importante antes de iniciar o ano novo”, afirma a médica.
“A angústia no fim de ano é amplificada pelo simbolismo desse período como um fechamento e recomeço, que provoca reflexões sobre as próprias realizações, frustrações e esperanças. Esta época traz também a pressão de ‘estar bem’, algo reforçado pela sociedade e pelas mídias, o que intensifica o contraste entre as expectativas e a realidade “, completa Guilherme Cavalcante , psicólogo da clínica Segmedic.
Os especialistas dizem que a dezembrite pode se manifestar de forma mais intensa em quem já enfrenta condições de saúde mental .
“Ela serve como um gatilho especialmente para pessoas que estão vulneráveis psicologicamente. Alguém que se cobra excessivamente, de forma patológica, pode se sentir muito mal ao perceber que não conseguiu bater as metas que se propôs ao longo ano. Alguém que está deprimido , sem perspectivas de vida, pode ter uma piora no nível de sofrimento”, conta Cavalcante.
Por que a dezembrite acontece?
A psiquiatra destaca que a dezembrite tem causas multifatoriais , que incluem aspectos culturais, emocionais e biológicos.
“A pressão para participar das celebrações e o aumento das despesas são aspectos que podem acentuar o estresse. Outro ponto é a exaustão acumulada ao longo do ano que frequentemente chega ao auge em dezembro. Além disso, fim de ano costuma reavivar saudades e sentimentos sobre perdas e relações passadas. As redes sociais, por sua vez, podem piorar a comparação e a sensação de inadequação”, cita a médica.
Segundo o psicólogo, existe uma ideia de que, no fim de ano, é “tudo lindo e perfeito”. “E na vida real a gente sabe que não é bem assim… Lutos, questões financeiras, sensação de vazio, excesso de tarefas, sentimento de fracasso, saudade de pessoas que se foram e mudanças são alguns dos fatores de risco para a dezembrite”, acrescenta Guilherme.
Quais os sintomas da dezembrite?
Os principais sintomas da dezembrite são:
- Tristeza
- Melancolia
- Sensação de vazio
- Ansiedade
- Estresse
- Irritabilidade
- Cansaço físico e mental
- Distúrbios do sono
- Isolamento social
- Sensação de fracasso
- Mudanças no apetite
Como lidar com a dezembrite?
Para o psicólogo, o primeiro passo para lidar com a dezembrite é reconhecer e aceitar que você não está se sentindo bem . “Negar o que você sente pode amplificar o desconforto, e a ideia não é essa”, ressalta ele.
Outra dica é respeitar os seus limites e tentar entender o que está por trás do sofrimento . “Não se cobre de forma cruel, cuide de si mesmo . Além disso, separe um tempinho para pensar nos motivos que podem estar causando essa situação. É alguma pressão por dar conta de algo? É alguma expectativa por determinada situação?”, aconselha Cavalcante.
Vale também priorizar a realização de atividades que te tragam prazer e bem-estar , por exemplo, exercícios físicos, leitura, meditação , ouvir a sua música favorita e assistir séries e filmes .
Também é recomendado reduzir as expectativas quanto às festas, fazendo apenas o que tem sentido para você e o que realmente te traz conforto.
Existe uma ideia de que o fim do ano é o momento de comemorações, alegrias e desejos, mas você tem todo o direito de não se sentir “no clima” deste período, e isso não significa que há algo de errado com você .
“Se for refletir sobre o próximo ano, certifique-se de imaginar metas alcançáveis e realistas “, aponta a psiquiatra.
Contar com uma rede de apoio pode fazer toda a diferença para encarar a dezembrite . “O contato com amigos e familiares é essencial. Compartilhe o que você está sentindo com pessoas de confiança”, indica a médica.
Ter acompanhamento de um psicólogo ou psiquiatra também pode ser fundamental para lidar com esse momento conturbado.
“O apoio profissional ajuda a compreender melhor os sentimentos e a encontrar formas saudáveis de enfrentá-los, evitando que o sofrimento evolua para um quadro mais grave, como depressão ou transtorno de ansiedade . A intervenção precoce permite que a pessoa enfrente esse período com mais equilíbrio emocional e resiliência”, conclui a Dra. Cíntia.