A dislexia é um transtorno no desenvolvimento cerebral que afeta a leitura, a escrita e a oralidade. Segundo dados da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), o distúrbio pode ser encontrado entre 5 e 17% dos alunos nas salas de aula ao redor do mundo.
“É importante destacar que o transtorno não está relacionado à inteligência, pois indivíduos com dislexia podem ser igualmente inteligentes e capazes em outras áreas”, comenta Ana Cristina Oliveira, psicóloga, educadora e psicopedagoga da Faculdade de Educação Paulistana (FAEP).
Principais sintomas da dislexia
Os sintomas do transtorno variam de pessoa para pessoa, podendo afetar uma ou mais habilidades de aprendizado . De acordo com Rosângela Batista, neuropsicóloga e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, os principais sinais são:
Oralidade
- Atrasos no desenvolvimento da fala;
- Erros de pronúncia;
- Dificuldades para nomear letras, números e cores;
- Dificuldades em pronunciar frases que envolvem rimas;
- Problemas para se expressar de forma clara.
Leitura
- Dificuldades para decodificar palavras;
- Erros no reconhecimento de palavras;
- Leitura oral lenta ou incorreta;
- Vocabulário reduzido;
- Compreensão de texto prejudicada;
Escrita
- Erros ortográficos;
- Omissões, substituições e inversão de letras ou sílabas;
- Dificuldades na produção textual.
“É importante observar que a dislexia não é apenas uma questão de dificuldade temporária na aprendizagem da oralidade, leitura e escrita. É uma condição persistente que afeta a maneira como o cérebro processa informações linguísticas”, complementa Ana Cristina Oliveira.
Diagnóstico do transtorno
A dislexia pode ser identificada por meio da descrição dos sintomas, além de testes específicos que devem ser respondidos por pais, professores ou pessoas próximas ao paciente. O processo em questão é geralmente realizado por uma equipe multiprofissional, “incluindo psicopedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos e neurologistas. Cada profissional avalia aspectos específicos da dificuldade, resultando em um diagnóstico abrangente”, afirma Nadja Pinho, psicopedagoga e musicoterapeuta do núcleo infantojuvenil da Holiste Psiquiatria.
Subtipos de dislexia
A dislexia pode ser categorizada em diferentes subtipos, conforme explica Ana Cristina Oliveira:
- Dislexia fonológica ou fonêmica: dificuldades em decodificar palavras e reconhecer rimas;
- Dislexia superficial ou visual: obstáculos na leitura de palavras incomuns;
- Dislexia profunda ou lexical: dificuldades em compreender o significado das palavras lidas;
- Dislexia auditiva ou auditiva-verbal: dificuldades em discernir e discriminar sons da fala, podendo afetar a conexão entre a oralidade e leitura/escrita;
- Dislexia visual-motora: problemas na orientação espacial, como confundir letras ou trocar a ordem delas em uma frase;
- Dislexia secundária ou adquirida: surge como resultado de uma lesão cerebral após a aquisição inicial da leitura. Pode envolver diferentes tipos de dificuldades, dependendo da área do cérebro afetada.
Causas da dislexia
A dislexia tem como principal causa o fator genético. “Estudos mostram que esse distúrbio é causado por uma alteração cromossômica hereditária e que pode estar relacionada à produção excessiva de testosterona (hormônio sexual masculino, mas que também é presente em mulheres) da mãe durante a gestação”, detalha Luciana Inocêncio, psicóloga, psicanalista e especialista em Transtornos Graves das Psicoses.
Ademais, segundo Ana Cristina Oliveira, alguns estudos apontam que o transtorno disléxico também pode ser influenciado por fatores ambientais (ambiente de aprendizado que não oferece apoio adequado à aquisição de leitura e escrita), condições pré-natais (exposição da mãe a toxinas ou outros problemas durante a gravidez) e anormalidades neurobiológicas (diferenças na atividade cerebral e na conectividade neural em pessoas com dislexia).
Dislexia e outros transtornos
Conforme esclarece a psicóloga Ana Cristina Oliveira, além dos sintomas característicos, a dislexia também pode estar associada a outras patologias. Como exemplos, pode-se citar distúrbios do sono, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), ansiedade e depressão.
“É importante observar que essas associações não significam que a dislexia cause essas condições, mas sim que podem compartilhar alguns fatores de risco ou características em comum”, enfatiza a profissional.
Consequências da dislexia
Quando não tratada corretamente, a dislexia pode trazer consequências para diferentes áreas da vida. Conforme detalha Ana Cristina Oliveira, no setor profissional, o distúrbio pode interferir na escolha da carreira, bem como no desempenho e na comunicação corporativa. No campo escolar, pode afetar a atuação acadêmica de modo geral. Na vida pessoal, por sua vez, o transtorno pode impactar as relações sociais, a autoexpressão e o prazer nas atividades de lazer.
Impactos da dislexia na saúde mental
Duas questões que mais afetam a saúde mental dos indivíduos disléxicos são o preconceito e a desinformação por parte de terceiros. “Por falta de conhecimento acerca do transtorno, muita gente tem a ideia errônea de que a dislexia é falta de inteligência. A perpetuação desse estigma dificulta muito o tratamento e aumenta o conflito que os disléxicos enfrentam, gerando baixa autoestima, inseguranças e ansiedade”, esclarece a neuropsicóloga Rosângela Batista.
Nadja Pinho destaca que indivíduos com dislexia podem desenvolver sentimentos de inadequação, baixa autoestima, ansiedade e frustração. Isso ocorre devido às dificuldades de aprendizado e à percepção de não acompanharem os colegas.
Tratamentos e benefícios
A dislexia não tem cura, porém é tratável. “O tratamento envolve intervenções específicas, incluindo terapias com fonoaudiólogos para melhorar a identificação e decodificação de fonemas (menor unidade sonora), apoio psicopedagógico para desenvolver estratégias de aprendizado e suporte psicológico para lidar com questões emocionais”, revela Nadja Pinho.
A psicóloga Luciana Inocêncio ressalta que os tratamentos devem ser iniciados após o diagnóstico e podem durar por toda a vida. Com isso, os sintomas disléxicos serão amenizados de maneira eficiente.
Hábitos saudáveis também fazem a diferença
Assim como os tratamentos, os hábitos de vida saudáveis também são importantes para o alívio dos sintomas disléxicos. Logo, a neuropsicóloga Rosângela Batista recomenda a prática de exercícios físicos, de cálculos matemáticos e de jogos e atividades que estimulem a leitura de figuras e palavras.
Além disso, a psicóloga Ana Cristina Oliveira cita que outro hábito importante diz respeito às técnicas de organização, como fazer resumos e anotações. “Isso pode ajudar a estruturar informações e melhorar a retenção”, explica.
Importância da rede de apoio
Tão importante quanto os tratamentos e os hábitos de vida saudáveis é a rede de apoio. “Amigos e familiares desempenham um papel fundamental na vida de pessoas com dislexia. Eles podem oferecer compreensão, paciência e incentivo, bem como ajudar a criar estratégias de aprendizado e promover um ambiente em que os disléxicos se sintam valorizados e apoiados”, pontua a psicopedagoga Nadja Pinho.
A psicóloga Ana Cristina Oliveira ressalta que, antes de tudo, é essencial que os colegas e parentes se informem sobre o transtorno, seus sintomas e consequências. “Quanto mais souber, melhor poderá oferecer apoio”, finaliza.