O surto de febre amarela que ocorre em Minas Gerais desde o início de 2017 está assustando moradores de todo o País, principalmente aqueles de Estados vizinhos aos municípios que já registraram mortes em decorrência da doença . Nesta hora, surgem inúmeras dúvidas: preciso tomar a vacina contra a febre amarela? Onde tomar o imunizante? Se já tomei quando pequeno, preciso tomar de novo? Não lembro se tomei. E agora?
Por enquanto, a vacina continua sendo recomendada apenas para pessoas que residem ou viajam para regiões endêmicas dentro ou fora do País, explicou a infectologista Ana Marli Sartori , do Centro de Imunizações do Hospital das Clínicas de São Paulo. Atualmente, são 19 Estados brasileiros na chamada “Área de risco da febre amarela”.
Parte de São Paulo está nela, por exemplo, mas não há registro da doença na capital há três anos, afirmou a Secretaria Municipal da Saúde. Além de hospitais, clínicas e laboratórios particulares, o imunizante também é oferecido em UBSs (Unidades Básicas de Saúde), hospitais municipais e em alguns AMEs (Ambulatório Médico de Especialidades). Os endereços podem ser conferidos nos sites dos Estados ou municípios.
A pessoa só precisa apresentar um documento com foto e a carteira de vacinação, se tiver. "Se houver necessidade de certificado internacional de vacinação, é preciso preencher um cadastro no site da Anvisa", destacou a infectologista. Em caso de viagem, não é preciso apresentar nenhum comprovante.
Apesar do medo da doença se espalhar, os moradores devem saber que nem todo mundo pode tomar o imunizante. As doses são contraindicadas para crianças menores de seis meses, idosos acima dos 60 anos, gestantes, mulheres que amamentam crianças de até seis meses, pacientes em tratamento de câncer e pessoas imunodeprimidas ou com doença inflamatórias crônica, doenças do timo e alergia a ovo. Em situações de surto, como ocorre em alguns municípios de Minas Gerais, um médico deve avaliar o benefício e o risco da vacinação para estes grupos.
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A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que apenas uma dose é suficiente para proteger uma pessoa ao longo de toda a vida, mas o Ministério da Saúde no Brasil trabalha com duas doses, que já estão no Calendário Nacional de Vacinação. A primeira é tomada aos nove meses de idade – ou aos seis em caso de surto ou viagem para área de risco –, e um reforço é aplicado aos quatro anos.
Segundo a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Carla Domingues, quem recebeu as duas doses na infância ou na fase adulta não precisa buscar o serviço médico.
Não tomei ou não me lembro
Pessoas acima de cinco anos que nunca tomaram a vacina podem procurar um posto de saúde para tomar a primeira dose. O reforço deve ser aplicado dez anos depois. Carla afirma que a recomendação é apenas para as pessoas que vivem ou viajam para as áreas de recomendação. “A população que não vive ou não vai se dirigir a essas áreas não precisa buscar a vacinação neste momento”, afirmou a coordenadora em nota do Ministério da Saúde.
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Adultos que tomaram a primeira dose há menos de dez anos também não precisam antecipar o reforço. Já quem perdeu o cartão de vacinação e não sabe se tomou a vacina corretamente pode procurar o serviço de saúde que costuma frequentar para tentar resgatar o histórico. Caso não consiga descobrir se tomou ou não o imunizante contra a febre amarela, deve iniciar o esquema normalmente.
Reações adversas
A vacina contra febre amarela é feita com vírus vivos atenuados, com baixo potencial patogênico. Ainda assim, pode causar algumas reações. A infectologista Ana Marli Sartori afirma que pode ocorrer febre, dor de cabeça e dor muscular em até 15% dos vacinados. "Em geral, estes sintomas aparecem 5 a 10 dias após a vacinação, são leves e desaparecem espontaneamente em 1 a 3 dias."
Já eventos adversos mais graves como reações de hipersensibilidade, febre amarela causada pelo próprio vírus vacinal ou doença neurológica (meningoencefalite) podem ocorrer muito mais raramente. Apesar de raro, são estes os motivos pelos quais pessoas que não têm recomendação devem se abster da vacinação.
Febre amarela
Atualmente, só os mosquitos Haemagogus e Sabethes transmitem o vírus no País. Os macacos são os principais hospedeiros, mas se uma pessoa não vacinada acaba entrando em contato com um mosquito contaminado pode ficar doente também. Outra preocupação das autoridades é que o vírus retorne aos centros urbanos e passe a ser transmitido também pelo Aedes aegypti , o mesmo da zika, dengue e chikungunya. Os últimos casos de febre amarela urbana foram registrados em 1942 no Acre.
A doença é de curta duração, podendo se prolongar por até dez dias. Os sintomas são febre, dor de cabeça, calafrios, náuseas, vômito, dores no corpo, icterícia – a pele e os olhos ficam amarelos – e hemorragias – de gengivas, nariz, estômago, intestino e urina. A gravidade varia em cada caso. O problema é que, se não tratada rapidamente, pode levar à morte em cerca de uma semana. O tratamento é apenas assintomático. Nas formas graves, o paciente deve ser atendido em uma Unidade de Terapia Intensiva.
O vírus se manifesta entre três a seis dias após a picada, podendo se estender até 15 dias. A maioria dos pacientes apresenta melhora após os sintomas iniciais, mas cerca de 15% acabam desenvolvendo uma forma mais grave da doença. O homem pode servir como fonte de infecção para mosquitos transmissores durante sete dias. Nos casos que evoluem para a cura, a infecção confere imunidade duradoura, ou seja, uma mesma pessoa não poderá ter febre amarela mais de uma vez.
Se a pessoa nunca tomou a vacina e acredita que está com febre amarela, deve procurar o mais rápido possível um médico. É necessário informar sobre qualquer viagem para áreas de risco nos 15 dias anteriores ao início dos sintomas.