A vida sexual da grande maioria dos pacientes com câncer acaba sofrendo algum impacto, em função da própria doença ou de seu tratamento. Isso costuma ocorrer independentemente de como costumava ser antes do diagnóstico.
Isso acontece por várias motivos, de natureza física e emocional. Não só a disposição para o sexo costuma se alterar, mas também a doença e os tratamentos podem dificultar, ou até impossibilitar, as práticas sexuais a que os parceiros estavam acostumados antes do câncer .
Aceitar as mudanças de libido, reconhecer as limitações físicas e buscar alternativas para a vida sexual são passos importantes para garantir a qualidade de vida durante o tratamento.
Entendendo o novo momento
Antes de mais nada, é importante que os pacientes e seu companheiros não se cobrem o mesmo interesse e desempenho que se costumavam ter. Trata-se de uma momento delicado. Sabemos que a forma com que se lida com todo o contexto da doença tem grande influência sobre o desejo sexual.
Também é importante destacar que o impedimento ao sexo não significa impossibilidade de se buscar intimidade e trocar afeto, elementos importantes para poder enfrentar a jornada.
A única regra para se enfrentar todas as mudanças que o diagnóstico e o tratamento impõem é conversar sobre o assunto: esclarecer as dúvidas com as equipes médicas e de enfermagem e discutir abertamente o tema com os parceiros.
O sexo e as defesas imunológicas
Vários agentes utilizados no tratamento do câncer podem causar uma redução na produção de células do sangue envolvidas com as defesas do organismo. Os glóbulos brancos ou leucócitos, produzidos pela medula óssea, costumam sofrer reduções transitórias durante o tratamento, momento em que o corpo fica mais vulnerável às infecções. De especial importância na defesa imediata contra infecções bacterianas são os neutrófilos, cuja redução no sangue recebe o nome de neutropenia.
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A neutropenia é um efeito adverso quase sempre previsível e transitório. Entretanto, sua intensidade e tempo de recuperação podem variar muito para cada paciente.
Nessa fase, é importante evitar traumas e contaminações na boca, genitais e região anal. Por isso, é importante acompanhar as contagens de neutrófilos para planejar os possíveis encontros amorosos.
Durante o período de neutropenia, as infecções podem ter um curso mais rápido e agressivo. Por isso, você deverá entrar em contato com as equipes médica ou de enfermagem sempre que apresentar febre (T ≥ 37,8o C).
Dicas para as mulheres em quimioterapia
Na maioria das situações é fundamental que a paciente não esteja grávida antes de iniciar o tratamento, e que não engravide ao longo de todo o período da terapia. Por isso, é fundamental que já se tenha definido com os médicos o método de contracepção ideal para você.
Cuidados durante todo o tratamento
É possível que a mulher perceba alguma “secura vaginal” pela diminuição das secreções naturais da vagina. Além disso, pela diminuição dos níveis hormonais, a mucosa da vagina pode ficar mais fina e sensível durante o tratamento. Nesses casos, o uso de lubrificantes solúveis em água facilitam a penetração.
Importante: Não se deve utilizar vaselina, cremes hidratantes ou qualquer outro tipo de lubrificante para esse fim. Esses produtos podem irritar as mucosas e pele da região.
Cuidados logo após a aplicação da quimioterapia
Nas primeiras 48 horas que se seguem a aplicação, é possível que ocorra a eliminação de parte dos agentes quimioterápicos pelas secreções do corpo.
Por isso, nesse período, as relações sexuais devem ser praticadas com o uso de preservativos para proteção de seu parceiro(a), independentemente do método contraceptivo em uso.
Cuidados quando as defesas estão resumidas
A mulher deve evitar todo tipo de trauma na região genital durante o tratamento. E, sempre que houver penetração, deve se assegurar que aconteça de forma suave.
Além disso, recomenda-se evitar sexo oral quando as contagens de leucócitos (células de defesa) estiverem muito baixas.
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Quanto ao sexo anal, pelos riscos de translocação de bactérias da luz intestinal para a circulação, está contraindicada durante todo o tratamento e absolutamente vetada nas fases de leucopenia (contagem de leucócitos reduzida).
Preservação da fertilidade
Estudos com sobreviventes da doença mostram que boa parte das mulheres se recente da eventual perda da capacidade de engravidar após o tratamento. Por isso, é importante saber quais as chances de que isso ocorra e discutir com a equipe médica as possibilidades de preservar a fertilidade, antes de iniciar o tratamento.
Atualmente existem vários recursos que podem ser aplicados de acordo com a situação (congelamento de óvulos ou de embriões), com diferentes implicações para o tratamento.
Dicas para homens submetidos a quimioterapia
Nossa primeira recomendação para homens em tratamento é para que aceite as mudanças e não se cobre o mesmo interesse e desempenho que costumava ter.
Cuidados logo após a aplicação da quimioterapia
Nas primeiras 48 horas que se seguem a aplicação da quimioterapia, é possível que ocorra a eliminação de parte dos medicamentos pelas secreções do corpo.
Por isso, as relações sexuais devem ser praticadas com o uso de preservativos, que deverão ser eliminados em sacos plásticos fechados (no lixo doméstico).
Cuidados na fase de neutropenia (redução na contagem de neutrófilos)
Evite traumas na região genital.
Não pratique sexo oral.
Não pratique sexo anal, não manipule a região anal e não introduza nada pelo ânus.
Preservação da fertilidade
Diversos tratamentos podem interferir com a capacidade reprodutora do paciente, efeito que pode ser transitório ou permanente.
Por isso, tendo ou não filhos, é importante que o paciente discuta com a equipe médica a possibilidade de preservar sua fertilidade pelo congelamento de esperma, antes do início do tratamento.
Dr. Claudio Ferrari
Oncologista Clínico
Secretário de Comunicação da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)
Assessor de Diretoria do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.