Como se já não bastasse a incerteza quanto ao futuro, os pacientes oncológicos ainda precisam lidar com uma série de informações incorretas, que chegam a eles pelas mais diversas fontes e acabam aumentando sua ansiedade quanto ao tratamento.
Por isso, desde o início do tratamento do câncer , pacientes e familiares devem buscar esclarecer suas dúvidas com as equipes médica, de enfermagem e demais membros da equipe multidisciplinar. Isso pode evitar vários problemas e sofrimentos desnecessários.
1. Se estou recebendo quimioterapia, isso significa que meu caso é “irreversível”
A quimioterapia é um importante recurso para o tratamento do câncer e pode ser empregado em diferentes situações. Muitas vezes, buscando-se a cura da doença.
Quando a quimioterapia é utilizada para reduzir tumores muito grandes antes da cirurgia, dizemos que é um tratamento neoadjuvante.
Quando utilizada para aumentar as chances de cura após uma cirurgia que aparentemente retirou todo o tumor, a quimioterapia recebe o nome de adjuvante.
Além disso ela pode ser utilizada em combinação com a radioterapia, para melhorar seu resultado, ou isoladamente, para controle da doença.
2. Meu cabelo certamente irá cair
Isso é verdade apenas para parte dos tratamentos.
Alguns quimioterápicos apresentam a queda de cabelo como efeito adverso, e isso se dá com diferentes graus de intensidade. Mas nem toda quimioterapia faz cair cabelo.
3. Náuseas e vômitos farão parte do meu tratamento
As náuseas e os vômitos são efeitos adversos cada vez mais raros no tratamento do câncer. De fato, utilizamos alguns quimioterápicos que podem causar náuseas e vômitos. Entretanto, já dispomos de vários medicamentos eficazes no controle desses sintomas. Por isso, ficou mais difícil ver um paciente vomitar durante o tratamento.
4. Devo ficar isolado durante o tratamento
O isolamento é indicado apenas em situações muito especiais, quando o paciente recebe um tratamento bem mais agressivo do que o usual.
Alguns protocolos de quimioterapia podem determinar uma queda transitória na contagem de glóbulos brancos no sangue, comprometendo a capacidade de resposta contra infecções. Quando essa diminuição ocorre, é comum orientarmos os pacientes para evitarem aglomerados ou contatos de maior risco durante um curto período.
5. Sexo está proibido
A vida sexual da maioria dos pacientes com câncer acaba sofrendo algum impacto, em função da própria doença ou de seu tratamento.
Isso acontece por várias motivos, de natureza física e emocional. Por isso, é importante que os pacientes e seus companheiros não se cobrem o mesmo interesse e desempenho que se costumavam ter. Mas o sexo não está proibido. E, apesar de frequentemente fazermos recomendações na fase de queda nas contagens dos leucócitos, não há restrição completa ao sexo.
Vale destacar que é muito importante que a paciente não esteja grávida e que não engravide ao longo de todo o período de tratamento. Por isso, é fundamental que se defina o método de contracepção ideal, antes de começar as aplicações.
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6. O tratamento vai me deixar estéril
Alguns tratamento realmente determinam um risco elevado de esterilização. Nesses casos, buscamos lançar mão de recursos para preservar a fertilidade tanto do homem como da mulher e viabilizar uma futura gravidez. Atualmente existem vários recursos que podem ser aplicados de acordo com a situação (congelamento de esperma, de óvulos ou de embriões).
Um dos principais obstáculos é o tempo: nem sempre é possível atrasar o tratamento o tempo suficiente para colher o material.
7. É melhor ficar longe do salão de beleza
Não é porque você está em tratamento que precisa abrir mão de sua vaidade. Especialmente se isso ajudar você a se sentir melhor.
A principal restrição que fazemos nas visitas ao salão de beleza é quanto à manicure, pelo risco de inflamações e infecções que poderiam atrasar o tratamento.
Nada há contra o uso de tinturas, desde que não causem irritação ou alergia.
8. Minha alimentação precisa mudar
Durante o tratamento é importante assegurar uma boa ingestão de proteínas e de calorias. Isso pode ser um pouco complicado se ocorrer uma alteração no paladar ou na aceitação de alimentos.
Mas não imagine que você precisar mudar sua dieta como parte do tratamento. O importante é descobrir o que você aceita bem e seguir desta forma, lembrando que comer demais não irá trazer nenhum benefício.
Alimentos crus, desde que bem lavados, podem ser consumidos regularmente.
Situações que exigem uma restrição maior devem ser discutidas pelas equipes médica e de enfermagem.
9. Meus animais de estimação precisam ir embora
A companhia dos pets pode ser muito importantes durante o tratamento. Excetuando casos específicos, onde o tratamento implica em uma grande redução do sistema imunológico, este afastamento não é necessário.
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Dr. Claudio Ferrari
Oncologista Clínico
Assessor de Diretoria do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo
Secretário de Comunicação da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)
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