Muita gente ainda acredita que a gordura é apenas um depósito de energia para o corpo usar em momentos de escassez. Mas isso está muito longe de ser verdade. O tecido gorduroso participa ativamente de nosso metabolismo, exercendo uma grande interferência nos níveis dos hormônios circulantes. Além disso, o acúmulo de gordura deflagra uma série de sinais reconhecidos por várias áreas de nosso organismo.
Já sabíamos que a obesidade era um fator de risco importante para as doenças cardiovasculares. Estudos recentes indicam que os obesos têm também um risco aumentado de desenvolver vários tipos de câncer.
![Além dos problemas já conhecidos, a obesidade também influencia no aumento de risco para vários tipos de câncer Além dos problemas já conhecidos, a obesidade também influencia no aumento de risco para vários tipos de câncer](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/dg/bi/gp/dgbigpil0v4cogvzg84fj9rsd.jpg)
São vários os mecanismos já identificados para explicar esse aumento de risco. A seguir, discutiremos os mais relevantes.
Atividade inflamatória do tecido adiposo
O tecido gorduroso, incluindo algumas células do sistema imunológico, produz substâncias com ação inflamatória em todo o organismo.
As principais delas – Fator de Necrose Tumoral, Interleucina 6 e Inibidor do Ativador do Plasminogênio – têm participação reconhecida no desenvolvimento de tumores, conforme observado em experimentos com animais de laboratório
Sinalização do tecido adiposo para diferentes tecidos
Duas moléculas – leptina e adiponectina – que participam ativamente do metabolismo, da regulação do apetite e do equilíbrio energético do corpo variam seus níveis em situações de obesidade e estão relacionadas com o desenvolvimento do câncer.
Leptina
A leptina é uma molécula com papel de moderador do apetite. Sua produção e liberação aumentam na obesidade e podem estimular as células de tumores de mama, próstata e cólon.
Adiponectina
A adiponectina tem papel na regulação do metabolismo da glicose e dos lipídeos e seus níveis estão reduzidos na obesidade.
Acredita-se que a adiponectina tenha efeito antitumoral e que sua redução favoreça o desenvolvimento de tumores de mama, próstata, endométrio e rim.
Aumento dos níveis de estrógeno
Ao longo de toda a vida reprodutiva da mulher, o ovário produz de forma cíclica e libera para a circulação os hormônios estrógeno e progesterona, que têm ação complementar no desenvolvimento e funcionamento dos tecidos sensíveis a ele. Com a menopausa, o ovário deixa de produzir e secretar esses hormônios, podendo causar alguns sintomas na mulher.
Em mulheres obesas, após a menopausa, o tecido gorduroso pode passar a produzir estrógeno, elevando os níveis séricos desse hormônio. E, como a produção de progesterona pelo ovário já está encerrada, esse “novo estrógeno” fica sem seu “antagonista natural”, podendo estimular continuamente os tecidos sensíveis a ele.
Isso é especialmente verdade no caso do endométrio, camada que reveste internamente o útero.
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Aumento dos níveis de insulina
Níveis aumentados de insulina determinam um estímulo adicional ao crescimento de células, favorecendo o desenvolvimento de alguns tumores. Isso pode se dar de forma direta ou indireta, pela aumento da síntese de fatores de crescimento, que pode facilita o crescimento de tecidos além do necessário.
![Acúmulo de gordura intra-abdominal deflagra reações no corpo favorecendo o diabetes, hipertensão arterial e outros Acúmulo de gordura intra-abdominal deflagra reações no corpo favorecendo o diabetes, hipertensão arterial e outros](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/8f/g0/ez/8fg0ezaz8tuzrt0ay2s5k88r3.jpg)
Esteatose hepática
O acúmulo de gordura no tecido hepático leva a um processo inflamatório crônico no fígado. O quadro pode evoluir para a cirrose hepática, criando uma situação favorável ao desenvolvimento do câncer desse órgão.
Refluxo gastresofágico
Em indivíduos obesos, observa-se um relaxamento do esfíncter e um aumento da pressão intra-abdominal que favorecem o refluxo. A mucoso do esôfago passa a ter contato com o suco ácido do estômago, desenvolvendo um processo inflamatório crônico, o que pode facilitar o desenvolvimento de câncer na região.
![Frutas, legumes e folhas fazem parte de uma dieta ideal para promoção da saúde Frutas, legumes e folhas fazem parte de uma dieta ideal para promoção da saúde](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/4y/9b/kv/4y9bkv8ia45dqyrbtivj1orcg.jpg)
Principais tipos de câncer com risco aumentado pela obesidade
- Esôfago
- Estômago
- Pâncreas
- Fígado
- Vesícula biliar
- Mama
- Rim
- Ovário
- Colo do Útero
- Útero
- Próstata
- Cólon e Reto
- Mieloma Múltiplo
- Linfoma Não Hodgkin
A obesidade, que já foi vista como “vilã” para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares, agora é reconhecida como fator de risco para o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer. Sendo assim, não há dúvida que deve ser combatida e, para isso, as melhores armas são a atividade física e uma “revisão geral” no cardápio. Mudanças de estilo de vida que sabidamente valem à pena.
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Dr. Claudio Ferrari
Oncologista Clínico
Assessor de Diretoria do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo
Secretário de Comunicação da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)
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