
O Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou nesta segunda-feira (12) dez novas Práticas Integrativas e Complementares (Pics). Agora, são 29 os procedimentos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais voltados para curar e prevenir doenças como depressão e hipertensão oferecidos pelo sistema público de saúde.
Leia também: Até o fim de 2018, todos vão acessar dados do SUS pelo celular, garante ministro
O ato de incorporação das novas terapias alternativas ao SUS foi assinado pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, na abertura do Primeiro Congresso Internacional de Práticas Integrativas e Complementares e Saúde Pública.
Segundo o ministro, agora o Brasil lidera a oferta de modalidades integrativas na saúde pública, com 5 milhões de usuários em 9.350 estabelecimentos de 3.173 municípios. De acordo com Barros, tais práticas são investimentos em prevenção de saúde, para que as pessoas não fiquem doentes, e evitar que os problemas delas se agravem, que sejam internadas e que se operem, o que gera custos para o sistema e tira qualidade de vida do cidadão.
"Somos, agora, o país que oferece o maior número de práticas integrativas disponíveis na atenção básica. O SUS financia esse trabalho com a transferência para os municípios, e nós passamos então a caminhar um pouco na direção do fazer e não cuidar da doença”, disse o ministro.
CFM chama de "desperdício"
Para o Conselho Federal de Medicina (CFM), as práticas alternativas e integrativas aprovadas pela pasta “não têm base na medicina e são sem evidências”.
"Nós não temos nenhuma prática alternativa que seja reconhecida pelo CFM. Há uma especialidade médica, a acupuntura, que é feita de maneira completamente diferente do que está colocado no SUS como uma prática integrativa. A prática da acupuntura como especialidade médica é feita com base em evidências científicas", afirmou o presidente da entidade, Carlos Vital.
De acordo com o conselho, essas práticas dentro do SUS "oneram o sistema e não deveriam estar incorporadas". O presidente ainda afirma que o uso de verbas para a área de terapias alternativas é um "desperdício".
No entanto, Barros explicou que a incorporação das terapias chamadas de alternativas ao SUS baseou-se em evidências científicas e na tradição. “Estamos falando de medicina tradicional: ao longo de milênios, essas coisas deram certo. A maioria dos medicamentos é baseada no princípio ativo dessas plantas. Antes, tomava-se um chá de determinada planta e hoje toma-se um comprimindo de uma substância extraída daquela planta, o que faz exatamente o mesmo efeito.”
Desde 2006, já eram oferecidos pelo SUS os tratamentos de acupuntura, homeopatia, fitoterapia, antroposofia e termalismo. No ano passado, foram incluídas 14 práticas: arteterapia, ayurveda, biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturoterapia, osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki, shantala, terapia comunitária integrativa e ioga. Agora, somam-se à lista a apiterapia, aromaterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnoterapia, imposição de mãos, ozonioterapia e terapia de florais.
O ministro destaca que, no ano passado, foram 1,4 milhão de atendimentos individuais. A maioria foi de acupuntura, com 707 mil atendimentos. Depois, vieram medicina tradicional chinesa, com 151 mil sessões de tai chi chan e liangong, auriculoteriapia, com 142 mil procedimentos, e ioga, com 35 mil sessões.
Segundo Ricardo Barros, o Congresso Internacional de Práticas Integrativas e Complementares e Saúde Pública vai debater formas de ampliar as práticas de medicina integrais e complementares no SUS e levar as terapias aos municípios.
“Este é o desafio. Primeiro, estamos consolidando a oferta do serviço, permitindo que as estruturas de atenção básica implantem esses serviços e coloquem à disposição das pessoas. Agora é fazer a divulgação e o engajamento dos cidadãos na prevenção, que não é a nossa cultura. Se você vai à China, a cada 50 metros, tem uma casa de massagem. Aqui, a cada 50 metros, tem uma farmácia. Essa é a mudança que precisa ser alcançada”, afirmou.
Na oportunidade, Barros assinou também a incorporação no organograma do Ministério da Saúde da Coordenação de Práticas Integrativas e Complementares, cujo titular será Daniel Amado. O ministro lançou ainda o glossário temático e o manual de boas práticas para as terapias integrativas no SUS.
Leia também: Governo passa a oferecer o DIU em todas as maternidades do SUS
Conheça as dez práticas
-
Apiterapia –
técnica utiliza produtos produzidos por abelhas nas colmeias como a apitoxina, geléia real, pólen, própolis, mel e outros.
-
Aromaterapia –
com intuito de promover o bem estar e saúde, método usa concentrados voláteis extraídos de vegetais.
-
Bioenergética –
Libera as tensões do corpo e facilita a expressão de sentimentos, a técnica adota a psicoterapia corporal e exercícios terapêuticos.
-
Constelação familiar –
técnica de representação espacial das relações familiares que permite identificar bloqueios emocionais de gerações ou membros da família.
-
Cromoterapia –
utiliza as cores nos tratamentos das doenças com o objetivo de harmonizar o corpo.
-
Geoterapia –
uso da argila com água que pode ser aplicada no corpo. Usado em ferimentos, cicatrização, lesões, doenças osteomusuculares.
-
Hipnoterapia –
conjunto de técnicas que pelo relaxamento, concentração induz a pessoa a alcançar um estado de consciência aumentado que permite alterar comportamentos indesejados.
-
Imposição de mãos –
cura pela imposição das mãos próximo ao corpo da pessoa para transferência de energia para o paciente. Promove bem estar, diminui estresse e ansiedade.
-
Ozonioterapia –
Usado na odontologia, neurologia e oncologia, promove melhoria de diversas patologias, a técnica mistura gases oxigênio e ozônio que são administrados por diversas vias.
-
Terapia de Florais –
para harmonização e equilíbrio, terapia faz uso de essências florais que modifica certos estados vibratórios.
Opas elogia sistema brasileiro
O encontro sobre medicina complementar atraiu cerca de 5 mil pessoas, que se inscreveram em diversos países. Na mesa de abertura, a diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Carissa Étienne, elogiou o sistema de saúde brasileiro, considerando-o um modelo que “causa inveja ao mundo”, por ser baseado nos direitos humanos e no acesso de toda a população.
Sobre as terapias integrativas, Carissa ressaltou a necessidade de preservar tais conhecimentos, que são passados de geração em geração. “Devemos reconhecer as pessoas que fazem com que essas práticas de saúde permaneçam vivas e que passem de geração para geração", disse a representante da Opas. Os recursos necessários para garantir uma vida saudável e produtiva existem, acrescentou Carissa. "É nossa responsabilidade descobrir como presentear todos os nossos irmãos e irmãs com esse conhecimento.”
Na abertura do congresso, houve apresentações de dança indiana e de índios guaranis.
Veja a lista dos tratamentos oferecidos pelo SUS
-
Acupuntura
-
Homeopatia
-
Fitoterapia
-
Antroposofia
-
Termalismo
-
Arteterapia
-
Ayurveda
-
Biodança
-
Dança circular
-
Meditação
-
Musicoterapia
-
Naturoterapia
-
Osteopatia
-
Quiropraxia
-
Reflexoterapia
-
Reiki
-
Shantala
-
Terapia comunitária integrativa
-
Ioga
-
Apiterapia
-
Aromaterapia
-
Bioenergética
-
Constelação familiar
-
Cromoterapia
-
Geoterapia
-
Hipnoterapia
-
Imposição de mãos
-
Ozonioterapia
-
Terapia de florais
Leia também: Mais de 900 mil pessoas aguardam por cirurgias não urgentes no SUS