Mesmo com o aumento da prática da atividade física, brasileiros ainda sofrem com obesidade e sobrepeso
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Mesmo com o aumento da prática da atividade física, brasileiros ainda sofrem com obesidade e sobrepeso

Mais da metade da população brasileira tem sobrepeso, segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Ainda de acordo com os dados levantados e divulgados nesta terça-feira (19), a obesidade já é uma realidade para 18,9% deste público.

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Entre os jovens, a obesidade cresceu 110% em dez anos. Entre 2007 e 2017 esse índice foi quase o dobro da média nas demais faixas etárias, o equivalente a 60%. Nas faixas de 45 a 54 anos, o aumento foi menor: 45%; dos 55 a 64 anos, 26%; e acima de 65 anos, 26%.

No mesmo período, o sobrepeso , registrado em 54% dos brasileiros, foi ampliado em 26,8%. Esse movimento foi maior também entre os mais jovens (56%), seguidos pelas faixas de 25 a 34 anos (33%), 35 a 44 anos (25%) e 65 anos ou mais (14%).

Embora o ritmo de crescimento da ocorrência de obesidade tenha se estabilizado desde 2015, ainda é um índice preocupante, conforme avalia a diretora do Departamento de Vigilância de Doença e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, Fátima Marinho.

“Pessoas comiam comidas mais saudáveis. O arroz e o feijão, por exemplo, não são mais unanimidade. Há mais comidas industrializadas, mais fast food e menos consumo de comidas mais frescas”, explica a diretora, que identifica como fator central desse processo a mudança na realidade das mesas dos brasileiros.

Vida saudável ajuda no combate à obesidade

Apesar desses índices, o levantamento registrou um aumento da prática de atividades físicas no tempo livre de 24,1% no período de 2009 a 2017 e uma queda de 52,8% no consumo de refrigerantes e bebidas açucaradas entre 2007 e 2017. A perda da preferência por esses tipos de bebidas ocorreu sobretudo entre adultos com idades entre 25 e 34 anos e entre pessoas com mais de 65 anos.

A inclusão de frutas e hortaliças no cardápio habitual também teve um acréscimo nos últimos anos, crescendo 5% entre 2008 e 2017. Nesse consumo, há um recorte de gênero representativo. Enquanto esses alimentos são mais frequentes no cotidiano alimentar das mulheres (40%), eles ainda não são muito populares entre os homens (27,8%).

Na opinião de Fátima Marinho, a mudança de hábitos alimentares necessária para reduzir esses índices de obesidade e sobrepeso passa por informar melhor o consumidor na hora de escolher o alimento. Ela cita como exemplo sucos industrializados, vistos como mais saudáveis por muitas pessoas, mas que são compostos por quantidades de açúcar semelhante às dos refrigerantes.

“A política pública tem que incentivar pessoas a comerem melhor. Informar melhor é a nova proposta, começar nos alimentos industrializados o que está lá dentro e as quantidades. Se há aquelas letrinhas pequenas e tem que fazer vários cálculos, aí fica mais difícil”, comenta.

A Vigitel é realizada com maiores de 18 anos em 26 capitais e no Distrito Federal. Foram entrevistadas 53 mil pessoas entre fevereiro e dezembro de 2017. Ou seja, o levantamento não registra os hábitos e tendências de pessoas que moram em cidades do interior do Brasil.

Norte e Centro-Oeste têm maiores índices de obesidade

O índice de obesidade é maior entre as capitais das regiões Norte e Centro-Oeste. Na lista do Ministério da Saúde, Manaus aparece como a capital com o maior índice de obesos (23,8%), seguida por Macapá (23,6%), Campo Grande (23,4%), Cuiabá (22,7%), Porto Velho (22,4%) e Recife (21%).

Na ponta de baixo do ranking figuram as cidades de Florianópolis (15%), Distrito Federal (15,3%), Teresina (15,7%), Palmas (15,9%) e Belo Horizonte (16,4%).

Já a ocorrência do sobrepeso está mais distribuída entre as regiões. Entre as capitais, o maior índice registrado pelo Ministério da Saúde foi em Campo Grande (59,8%). Em seguida vêm Porto Velho (58,8%), Maceió (58,7%), Manaus (57,6%), Cuiabá (57,4%) e Rio de Janeiro (57%).  A média geral entre as capitais pesquisadas foi de 54%.

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As capitais com menor ocorrência de sobrepeso são Palmas (46,9%), Distrito Federal (47,6%), Teresina (48,3%), São Luís (49,5%) e Florianópolis (49,8%).

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Obesidade e câncer

Obesidade e sobrepeso são culpadas por, pelo menos, 15 mil casos de câncer no Brasil
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Obesidade e sobrepeso são culpadas por, pelo menos, 15 mil casos de câncer no Brasil

Um novo estudo, publicado em abril deste ano, revela que, no Brasil, pelo menos 15 mil casos de câncer poderiam ser evitados com a diminuição da obesidade e sobrepeso. Isso significaria 3,8% do total de diagnósticos da doença revelados anualmente.

De acordo com um estudo epidemiológico feito pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com ajuda da Universidade de Harvard (Estados Unidos), até 2025 esse número pode aumentar, já que a tendência é de que novos casos de câncer relacionados à obesidade e excesso de peso cheguem a 29 mil a cada ano.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que pelo menos 14 tipos de câncer associam essas condições com um maior risco de desenvolver tumores malignos. Alguns exemplos são o câncer de mama (pós-menopausa), cólon, reto, útero, vesícula biliar, rim, fígado, mieloma múltiplo, esôfago, ovário, pâncreas, próstata, estômago e tireoide.

“O problema principal é que vem ocorrendo um aumento nas prevalências de excesso de peso e obesidade no Brasil e, com isso, os casos de câncer atribuíveis a essas duas condições também devem crescer. Fora isso, espera-se que haja um aumento nos casos de câncer como um todo, pois a população do país vai aumentar e envelhecer”, avalia o doutorando na FMUSP, Leandro Rezende, um dos autores do artigo sobre o assunto, publicado na revista Cancer Epidemiology .

Para o pesquisador, o aumento do poder econômico nos últimos anos fez com que a população aumentasse também o consumo. No entanto, em termos de alimentação, o fenômeno ficou atrelado principalmente aos alimentos ultraprocessados.

“O estudo mostra essa fase de transição nutricional epidemiológica. São justamente esses alimentos altamente calóricos, com quantidade elevada de açúcar, sal e gordura, que também são os produtos mais baratos”, afirma.

Os dados sobre a incidência de câncer foram obtidos do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e da base Globocan da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, da OMS.

De modo a quantificar a dimensão da contribuição do sobrepeso e da obesidade na incidência de câncer no Brasil, os autores do estudo estimaram FAPs da doença em 2012 (com dados existentes) e em 2025 (por meio de projeção) atribuídas a IMC elevado. As frações foram calculadas de acordo com sexo, idade, área geográfica e tipo de câncer.

Na avaliação do professor titular da FMUSP e orientador do estudo, José Eluf Neto, o interessante é poder mensurar o impacto da relação de câncer e obesidade para a saúde pública e, com base nisso, planejar ações e investimentos.

“Hoje, se sabe que há uma razão biológica para haver essa relação, com mecanismos moleculares ou metabólicos bem descritos. É o caso da insulina. A obesidade causa resistência à insulina gerando inflamações e o aumento da proliferação celular”, esclarece Eluf Neto.

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*Com informações da Agência Brasil

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