Uma pesquisa da Universidade Queen Mary, na Inglaterra, revelou que a poluição do ar está causando mudanças na estrutura do coração de seres humanos, com o aumento no quadro de insuficiência cardíaca em pessoas de diferentes regiões do mundo. A descoberta ajudou no mapeamento de áreas onde houve aumento de mortes devido aos altos níveis de ar poluído e na identificação das substâncias que potencializam as alterações no órgão muscular.
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Informações do The Guardian apontaram que pessoas no Reino Unido são 64 vezes mais propensas a morrer por causa dos efeitos da poluição do ar em relação aos residentes da Suécia, por exemplo, que vivem em condições ambientais mais favoráveis.
Os pesquisadores ainda apontaram que as mortes podem estar ligadas a várias causas, incluindo problemas respiratórios, acidente vascular cerebral e doença arterial coronariana.
Em um artigo publicado na revista Circulation , a cardiologista Nay Aung e sua equipe relataram ter identificado que a exposição ao dióxido de nitrogênio e a materiais particulados finos, conhecidos como partículas PM2.5 e PM10, geram o aumento no tamanho de duas das câmaras do coração, a esquerda e o ventrículo direito.
O grupo acrescentou que as "partículas PM" são comumente emitidas por veículos automotores, e que mudanças na estrutura do órgão podem afetar seu desempenho, principalmente quando há o desenvolvimento de insuficiência cardíaca.
Pesquisa sobre efeitos da poluição do ar no coração
Para a realização das análises, foram usados dados de quatro mil voluntários, com faixa etária entre 40 e 69 anos, e livres de doença cardiovascular no início da apuração. Exames de ressonância magnética cardíaca, que oferecem imagens detalhadas da estrutura e função do coração, foram determinantes para detectar as transformações.
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O estudo envolveu estimativas das concentrações de diferentes poluentes nos endereços residenciais dos participantes, do Reino Unido, cerca de cinco anos antes do exame.
Depois de controlar fatores como idade, sexo, renda e histórico de tabagismo, os estudiosos descobriram que a maior exposição às partículas PM2.5 e PM10 e ao dióxido de nitrogênio está relacionada ao contato com o ar poluído, porém, vale destacar que não se trata de um fator exclusivo para mudanças na estrutura do coração.
Aung explicou que o tamanho do efeito identificado foi pequeno, mas importante. "Esse efeito é comparável a outros fatores de risco cardíaco bem conhecidos, como a hipertensão", disse ela.
A especialista ressalta que, à medida que a pressão arterial aumenta, o tamanho do coração também cresce. "Embora o aumento no tamanho da câmara cardíaca seja pequeno neste estudo, é um sinal de alerta precoce, o que pode explicar o aumento do risco de insuficiência cardíaca em indivíduos expostos a níveis mais altos de poluição", destaca.
"Quando as câmaras crescem, significa que o coração está sob estresse, e por isso, passa a inflar de maneira a acomodar esse aumento de pressão e volume. Se você não tratar ou reverter essa alteração, a longo prazo o coração pode falhar", alerta a cardiologista.
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O professor de Estatística Aplicada da Open University, Kevin McConway, concluiu que, neste estudo em específico, os pesquisadores ajustaram os resultados a fim de destacar muitos fatores nocivos à saúde, todos vinculados ao estilo de vida das pessoas, e que consideraram os resultados preocupantes, já que as pessoas envolvidas nas análises moram em áreas pouco poluídas.
"Os ajustes estatísticos nunca são perfeitos, por isso, ainda restam algumas dúvidas acerca do vínculo entre a poluição do ar e as mudanças no coração", concluiu.