A saúde de 93% das crianças e adolescentes de todo o mundo está em risco devido à poluição do ar, apontou a Organização Mundial de Saúde (OMS). Em um relatório divulgado nesta segunda-feira (29), o organismo chamou a atenção para a situação em algumas regiões do mundo como a Ásia e a África, onde o cenário é mais grave, e também nos países de renda média e baixa.
Leia também: Poluição do ar está vinculada a mudanças na estrutura do coração, revela estudo
A OMS estima que 600 mil crianças tenham morrido de infecções respiratórias agudas causadas pela poluição do ar em 2016. “O enorme número de doenças e mortes revelado por esses novos dados deveria resultar em um pedido urgente de ação para a comunidade global, especialmente para aqueles no setor da saúde”, diz o relatório.
“Ar poluído está envenenando milhões de crianças e estragando suas vidas”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Cada criança deveria poder respirar ar limpo para que possa crescer e cumprir seu pleno potencial”.
Uma razão para crianças serem especialmente vulneráveis à poluição do ar é o fato de respiraram mais rapidamente que adultos, absorvendo mais toxinas, segundo a Organização Mundial da Saúde .
Jovens também estão mais expostos a poluentes em um momento em que seus corpos e cérebros ainda estão se desenvolvendo, de acordo com o relatório da agência da ONU, que acrescenta que recém-nascidos e crianças pequenas são mais suscetíveis à poluição do ar doméstico em residências que utilizam combustíveis poluentes para cozinhar, aquecer e iluminar.
Como parte de seu pedido de ação para a comunidade internacional, a OMS recomenda uma série de medidas “diretas” para reduzir o risco à saúde. Essas medidas incluem acelerar a transição para tecnologias mais limpas, incluindo nos meios de transporte, impulsionar residências energeticamente mais eficientes e melhorar o planejamento urbano.
“A poluição do ar está prejudicando o desenvolvimento dos cérebros de nossas crianças, afetando sua saúde de mais maneiras do que suspeitávamos”, disse Maria Neira, diretora do Departamento de Saúde Pública, Ambiental e Determinantes Sociais de Saúde na OMS. “Mas há muitas maneiras diretas de reduzir emissões de poluentes perigosos”.
A OMS também apoia a geração de energia de baixa emissão, tecnologias industriais mais limpas e mais seguras e melhor gerenciamento municipal de lixo para reduzir poluição do ar em comunidades, acrescentou Neira.
Nos países com renda baixa e média, 98% dos menores de 5 anos são expostos a níveis maiores do que é recomendado para a saúde, enquanto nos países de renda elevada, o percentual é de 52%.
Na África e no Mediterrâneo Oriental, 100% das crianças com menos de 5 anos estão expostas a níveis acima do recomendável. No continente americano, países de renda baixa e média, como o Brasil, expõem 87% das crianças menores de 5 anos a esses níveis de partículas finas.
A publicação do relatório antecede a realização da Primeira Conferência Global da Organização Mundial de Saúde sobre Poluição do Ar e Saúde, que começa na terça-feira (30) na Suíça. O tema do encontro é "Melhoria da Qualidade do Ar, Combate às Mudanças Climáticas".
Exposião ao ar poluído causa mortes
Além da poluição das grandes cidades, as crianças muitas vezes estão expostas a partículas geradas dentro de suas próprias casas, provocadas pela queima de combustíveis como carvão e querosene.
Cerca de 3 bilhões de pessoas ainda dependem de combustíveis e equipamentos poluentes para cozinhar e se aquecer no mundo. Mulheres e crianças costumam passar mais tempo ao redor dessas fontes de calor, expostas à fumaça, o que resulta em concentrações de poluentes que chegam a ser seis vezes mais altas que o ambiente ao redor.
A organização estima que essa exposição resultou em 3,8 milhões de mortes prematuras em todo o mundo, o que supera a mortalidade causada por malária, tuberculose e Aids combinadas. Destas mortes, 400 mil atingiram menores de 5 anos.
No Brasil, a OMS estima que 50 mil pessoas morrem por ano de doenças relacionadas à poluição do ar. Quase 10% da população do país ainda queima madeira para cozinhar, o que contribui para a exposição à poluição.
Poluição do ar mata mais de 20 mil por ano
Não importa se a pessoa está vivendo no caos cidade cinza ou em uma área mais afastada da metrópole: estar exposto a apenas um dia de poluição pode ser letal para pessoas mais velhas, mesmo que os níveis de contaminação estejam baixos ou dentro dos limites de segurança.
A constatação é de um estudo feito pela Escola de Saúde Pública de Harvard T.H Chan, depois de observar 22 milhões de mortes nos Estados Unidos. A pesquisa também apurou que mais pessoas estão morrendo por conta da poluição do ar nos últimos anos. Segundo a análise, o problema mata mais de 4,6 milhões de pessoas por ano, levando em consideração pessoas de idade mais avançada.
Os pesquisadores alertam que é irrelevante se o indivíduo vive em uma cidade fortemente poluída ou está longe da fumaça: em ambas as áreas há um risco semelhante. Pequenas partículas de poeira, fuligem e fumaça, consideradas inaláveis, são conhecidas como PM2.5, e representam a maior ameaça para idosos, conforme concluíram os cientistas da instituição.
O professor Joel Schwartz, co-autor do estudo, advertiu os perigos de pequenas mudanças nos níveis de PM2,5. "Isso pode ser interpretado como sendo o PM2,5 como o causador de mais de 20 mil mortes por ano", destacou ele.
O especialista também comentou que foi percebida uma ligeira diminuição no ozônio, uma forma instável de oxigênio produzida quando a poluição reage com a luz solar, que poderia "economizar 10 mil vidas por ano".
Leia também: Exposição à poluição do ar antes do nascimento pode causar pressão alta
Tais pequenas mudanças podem ser observadas em áreas rurais, quando as pessoas passam muito tempo ao lado das principais estradas ou usando equipamentos a diesel. As informações do relatório sobre poluição do ar foram publicadas no Jornal da Sociedade Médica Americana.
*Com informações da Agência Brasil