A manhã desta segunda-feira (17) entrou para a história da medicina. Pela primeira vez, em um procedimento inédito no mundo, médicos do Hospital da Criança e Maternidade (HCM), localizado na cidade de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, corrigiram uma malformação congênita em um feto ainda dentro do útero da mãe.
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Segundo informações do hospital, o feto possuía uma condição chamada de gastrosquise, uma abertura nos músculos e na pele da parede abdominal que permite que o intestino fique para fora do abdômen. Tal procedimento, chamado de fetoscopia, só havia sido realizado até hoje em pacientes que já haviam nascido.
Além dos médicos do HCM , a equipe contou com integrantes do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, da Universidade de Taubaté e do Hospital de Baia Blanca, na Argentina. Ao todo, eles precisaram de 1h40 para realizar o procedimento , que se assemelha a uma laparoscopia e é minimamente invasivo.
Como é realizado o procedimento
Para a realização da cirurgia
, são feitas quatro pequenas incisões na barriga da mãe, por onde são introduzidos os braços, instrumentos que permitem a visualização do interior do útero e correção da malformação, que consiste na introduzindo do intestino no abdômen do feto. Logo após, a parede abdominal é fechando.
“Esta nova técnica oferece benefícios muito importantes para a saúde e bem estar do futuro bebê e da mãe”, ressalta Gustavo Henrique de Oliveira, médico do HCM, especialista em medicina fetal.
“O feto é operado no ambiente mais estéril possível, que é o útero materno, ao contrário da cirurgia convencional, feita após o nascimento, já exposto ao ambiente da sala cirúrgica. Com isso, o risco de infecção ao feto é extremamente reduzido”, explica Gustavo.
Além do ambiente de segurança para os dois pacientes, outra grande vantagem é o fato de o bebê nascer sadio, o que permite que ele seja alimentado logo após o nascimento e recebe alta hospitalar em dois ou três dias.
Quando a cirurgia acontece após o nascimento, o bebê já apresenta inflamação nas alças intestinais, o que o impede de mamar e o mantém, em média, até 30 dias internado, recebendo nutrição parenteral.
Já para a mãe , o benefício é, sobretudo, emocional, o que reflete diretamente em seu estado de saúde, como explica Javier Svetliza, médico argentino integrante da equipe cirúrgica.
“Ao saber que o seu futuro filho tem uma má formação como esta, a mãe sofre muito. Poder corrigir este problema ainda no útero dá um alívio enorme, mudando todo o seu estado emocional e a saúde para as últimas semanas de gravidez”, afirma Svetliza.
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Após a realização da cirurgia , o hospital informou que o estado de saúde da mãe e do feto é estável e que ambos permanecerão em observação até receber alta.