Dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) apontam que, entre os anos de 2010 e 2018, os casos de HIV aumentaram em 21%. Atualmente, há 37,9 milhões de pessoas que vivem o vírus em todo o mundo. Diante dos dados, é importante conhecer e esclarecer o assunto para evitar que informações equivocadas circulem por aí.
Para esclarecer o assunto, a reportagem do iG Saúde conversou com dois profissionais. Afinal, HIV e AIDS são a mesma coisa? O vírus pode ser transmitido pela saliva? Os exames de farmácia são eficientes? Confiras as respostas para essas e outras perguntas e tire suas dúvidas sobre o tema.
1. HIV e AIDS não são a mesma coisa
Algumas pessoas que HIV e AIDS são a mesma coisa, mas não é bem assim. “HIV é o Vírus da Imunodeficiência Humana que, ao infectar uma pessoa, parasita as células de defesa, levando a destruição dessas células, se não combatida a infecção”, diz Natacha Cerchiari, infectologista do Serviço de Extensão ao Atendimento de pacientes vivendo com HIV - HCFMUSP.
Já a AIDS, por sua vez, é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida e aparece quando a infecção pelo HIV está mais avançada e o paciente apresenta a imunidade já bastante comprometida (baixa) com aparecimento inclusive das chamadas infecções oportunistas, tais como neurotoxoplasmose e alguns tipos de câncer, como o Sarcoma de Kaposi.
“Quando um paciente que tem HIV faz tratamento regular, ele não chega a desenvolver AIDS. E um paciente que tem AIDS, com o tratamento, pode recuperar a imunidade”, destaca Natacha.
2. HIV não é transmitido pelo beijo
Ao contrário do que muitos acreditam, o HIV não pode ser transmitido pelo beijo. Isso porque não há troca de fluídos sexuais ou sangue. Além disso, a saliva não contém quantidade suficiente de vírus para a infecção.
“Porém, se uma pessoa beijar alguém portador do vírus da imunodeficiência humana que estiver com alguma lesão sangrante na boca, pode haver risco, mas de forma irrisória”, afirma Luiz Felipe Dziedricki, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
3. Sintomas iniciais podem ser parecidos com uma gripe
Depois que a pessoa é infectada pelo HIV, os sintomas iniciais podem ser parecidos com o de um quadro gripal. Com isso, febre, mal estar, dores no corpo e manchas na pele podem se manifestar de duas a seis semanas após o contato com o vírus .
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“Após este período inicial, pode haver uma fase assintomática que pode durar anos, enquanto o vírus estará multiplicando-se até que diminua a capacidade de defesa do organismo frente às doenças oportunistas (tuberculose, toxoplasmose, pneumonia, entre outras)”, destaca o professor da PUCPR.
4. HIV não tem cura, mas tem tratamento
O tratamento, nesse caso, se faz com antirretrovirais para impedir a multiplicação do vírus. O objetivo é evitar o enfraquecimento do sistema imunológico da pessoa. É importante ressaltar que há medicações utilizadas no controle do HIV distribuídas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Pacientes que fazem o tratamento corretamente e estão com carga viral indetectável (quantidade de vírus zerada no sangue) têm vida igual à das pessoas que não têm HIV”, diz Natacha. “É como pressão alta ou diabetes: tem que tomar remédio todo dia e, tomando o remédio, o paciente vive bem”, alerta a médica.
Por outro lado, a infectologista reforça que a carga viral zerada no sangue não significa cura, “porque o vírus fica ‘adormecido’ em locais conhecidos como reservatórios virais e, se o paciente parar de tomar o remédio, o HIV ‘acorda’ e volta a proliferar, podendo evoluir para adoecimento (AIDS).”
5. Entender como a transmissão ocorre
Natacha explica que a transmissão do HIV ocorre pela troca de fluidos corporais, como sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno. “Eu costumo colocar que a transmissão acontece por ‘sangue e sexo’”, destaca.
Vale ressaltar que o compartilhamento de alimentos, talheres, copos e outros utensílios domésticos, além de beijo, abraço e contato com pessoas vivendo com HIV não transmitem o vírus. “A principal via de transmissão do HIV ainda é a relação sexual sem preservativo”, reforça a especialista.
6. Testes de farmácia ajudam a detectar o HIV
Os autotestes rápidos são vendidos em farmácia e podem ser realizados pelas próprias pessoas, que podem utilizar fluido oral (saliva) ou punção digital (furinho no dedo). É importante seguir as instruções da bula. É um teste de triagem e não deve ser usado como diagnóstico.
“As pessoas que tiverem resultado positivo devem procurar um serviço médico para confirmar o diagnśtico e iniciar o acompanhamento, se necessário. Qualquer pessoa pode realizá-lo”, pontua Natacha.
“Importante ressaltar que o exame negativo não exclui a contaminação pelo HIV, visto que há a janela imunológica de 30 dias – tempo que o organismo demora para produzir anticorpos contra o HIV , que serão detectados no teste”, completa Dziedricki.