A Organização Mundial de Saúde estima que o glaucoma, principal causa de cegueira irreversível no mundo, afetará, aproximadamente, 80 milhões de pessoas em 2020. Para 2040, a previsão é de 111,5 milhões. Os dados assustam e, diante disso, é necessário entender como a doença funciona e a importância de ir ao oftalmologista.
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Para começar, é importante saber que a principal causa do glaucoma é o aumento da pressão intraocular que danifica o nervo óptico, que leva a imagem captada pelo olho ao cérebro onde esta é interpretada. Com isso, a lesão do nervo impede que a imagem chegue ao cérebro, o que causa a cegueira ou prejuízos notáveis à qualidade da visão.
Segundo Remo Susanna Jr, professor titular da Clínica de Oftalmologia da Universidade de São Paulo, em sua forma mais comum, a doença é totalmente assintomática. “Contudo, os pacientes têm mais chances de queda, sete vezes mais chances de terem acidentes de trânsito devido a uma pior qualidade de visão, além da dificuldade de adaptação do claro para o escuro”, diz.
O profissional explica que há mais de 25 tipos de glaucoma, sendo que alguns tipos, como o agudo e os casos inflamatórios, são mais dolorosos. Por outro lado, são menos frequentes que a forma mais comum e, conforme explicado acima, assintomática, que é o glaucoma primário de ângulo aberto.
Para identificar a doença, é necessário consultar um oftalmologista. Segundo o professor, até há pouco tempo, o diagnóstico era feito pela pressão intraocular elevada. Entretanto, 60% dos casos não são diagnosticados usando este critério. “A única maneira de diagnosticar corretamente o glaucoma é com um exame oftalmológico completo”, pontua.
“O glaucoma é definido como a presença de lesão glaucomatosa no nervo óptico ou na camada de fibras nervosas da retina observada pelo exame de fundo de olho. Desta forma, qualquer que seja a pressão ocular do paciente, se existir lesão característica do nervo ótico, este paciente tem glaucoma”, destaca o profissional.
O especialista ainda explica que é possível desenvolver a doença mesmo com a pressão dentro da normalidade. É o chamado glaucoma normotensivo. “São os casos em que o nervo é mais susceptível e se danifica mesmo com pressões oculares normais”, destaca ele, que classifica a condição como “o ladrão mais astuto da visão” por não apresentar sinais.
Em outros casos, por exemplo, a pressão pode estar elevada, mas o paciente não apresenta dano no nervo óptico, que é mais resistente. É a hipertensão ocular. “Portanto, para o diagnóstico, é fundamental o exame minucioso do nervo óptico pelo fundo de olho e, quando necessário, por meio de exames de imagem e exames funcionais, como o campo visual”, informa o professor.
Qual o público mais afetado?
As pessoas mais afetadas são acima dos 40 anos. Além disso, há fatores de risco, como histórico familiar de glaucoma, pressão do olho elevada, alto grau de miopia, tratamento com esteróides, descendência africana e traumas oculares. Doenças como diabetes, hipertensão, problemas de circulação, enxaqueca e apneia do sono podem aumentar o risco.
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“O glaucoma ocorre em 2% dos pacientes brancos e em 7% negros com mais de 40 anos, acometendo 3,5% dos brancos e 12% dos negros com mais de 70 anos. Com o aumento da expectativa de vida da população mundial, esses números serão ainda maiores no futuro próximo. A idade, por si só, é um fator de risco para o desenvolvimento da doença”, diz Remo.
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Doença ainda é desconhecida pela população
Muitas pessoas acham que, por enxergarem bem, não precisam fazer exame oftalmológico de rotina, o que contribui para a não detecção da doença. “É incrível que mesmo parentes diretos de pacientes glaucomatosos não procurem o oftalmologista para serem examinados especificamente para excluir ou diagnosticar a doença”, destaca o professor.
Sem o diagnóstico, muitos casos podem levar à cegueira . “Estima-se que, em países desenvolvidos, metade dos pacientes com glaucoma não sabem que têm a doença e, em países em desenvolvimento, 70% dos indivíduos afetados desconhecem serem portadores da doença, muitos mesmo após terem passado por exame oftalmológico”, continua.
Além disso, a doença tem características que dificultam o diagnóstico. “A pressão ocular oscila muito durante o dia, podendo inclusive variar mais de 5 mmHg em dez minutos. Ela é mais alta de madrugada e logo que a pessoa acorda, períodos do dia de difícil aferição da pressão ocular pelo oftalmologista ”, ressalta Remo.
No decorrer do dia, a pressão varia bastante e, geralmente, é feita a medida isolada. Com isso, há falhas para estimar as variações de pressão que o paciente sofre durante o dia e para verificar se doença está controlada. A maior causa da lesão no nervo óptico é a pressão mais alta que o paciente apresenta durante o dia. É o chamado pico pressórico.
Para detectá-lo, uma das formas é a prova de sobrecarga hídrica, que consiste em se medir a pressão ocular e, em seguida, o paciente ingere 800ml de água em, aproximadamente, cinco minutos. A pressão é, então, medida de 15 em 15 minutos, três vezes. A mais alta dessas três medidas corresponde à pressão mais alta que o paciente tem durante o dia.
Outro ponto é que, mesmo após o diagnóstico, a pessoa em questão deixa de seguir as recomendações médicas. “Por incrível que pareça, nos Estados Unidos, 30% dos pacientes deixam de usar a medicação três meses depois de diagnosticados. Quase 70% dos demais se esquecem de pingar o colírio no horário correto ou simplesmente esquecem uma ou mais gota”, diz Remo.
Por outro lado, o glaucoma é caracterizado por lesão do nervo óptico, acompanhada ou não de pressão ocular elevada. “Portanto, fique atento: tão importante quanto perguntar ao oftalmologista qual é a sua pressão ocular é perguntar como está o seu nervo óptico”, destaca o professor da USP.
Vá ao oftalmologista
Conforme vimos, o glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível, além de ser assintomático. Com isso, somente o oftalmologista pode detectá-lo e iniciar o tratamento, preferencialmente nas suas fases iniciais. E vale o alerta: pessoas com parentes diretos com a doença deverão ser examinados anualmente.
Os pacientes diagnosticados devem ser examinados de acordo com a severidade da doença, sua velocidade de progressão e fatores de risco definidos pelo oftalmologista responsável pelo atendimento. Normalmente, o período para consulta e exames varia de 4 meses a um ano, mas é importante avaliar cada caso individualmente.
Lembre que, quanto mais avançado o glaucoma for, mais rápido é a sua progressão e maiores são as chances de cegueira ou de perda da qualidade da visão. E como não é possível prevenir a doença, visitar de forma rotineira oftalmologista é a melhor forma de evitar que o glaucoma passe despercebido.
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“Não existe cura para a doença nem é possível reverter os danos provocados por ela. A boa notícia é que o glaucoma pode ser controlado. O sucesso depende, de um lado, da extensão dos danos e, de outro, da agressividade da doença, fator que varia de paciente para paciente. Quanto mais cedo for detectada, menos sequelas provoca”, finaliza Reno.