A obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública – e vai muito além da questão estética. A doença crônica pode causar diversas complicações à saúde, como diabetes, gordura no fígado e pressão alta. A projeção da Organização Mundial de Saúde é que, em 2025, mais de 700 milhões de pessoas sejam obesas em todo o mundo.
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No Brasil, a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada pelo Ministério da Saúde, aponta que a taxa de obesidade cresceu nos últimos anos. De 2006 a 2018, o aumento foi de 67,8%. Esse é o maior índice dos últimos treze anos.
Para perder peso e evitar problemas que podem prejudicar a saúde, é importante a mudança de hábitos, com uma vida mais saudável e ativa. Nesse cenário, uma das medidas que podem ajudar é a colocação do balão intragástrico . O método promove uma redução na capacidade do estômago e contribui para a saciedade. Como consequência, como-se menos.
Segundo Eduardo Grecco, gastrocirurgião e endoscopista, o balão intragástrico é introduzido por via oral, através de uma endoscopia, que é feita em ambiente hospitalar com o paciente sedado. “Não são necessários cortes e não deixa nenhuma cicatriz. O procedimento dura cerca de uma hora e o paciente é liberado no mesmo dia”, pontua.
No entanto, nem todo mundo que está acima do peso ideal pode passar pela técnica. O profissional explica que é necessário que o índice de massa corporal (IMC) seja maior que 27. “Também é muito importante que o caso seja avaliado individualmente, para que o especialista possa ponderar os riscos e os benefícios que o tratamento pode oferecer”, diz.
O balão, por sua vez, não é eterno. Há duas versões, sendo que um permanece seis meses e, o outro, um ano dentro do estômago. “No segundo caso, ele é chamado de longa permanência e é mais indicado para quem tem IMC acima de 35 ou mais dificuldade para perder peso”, destaca Grecco.
Cuidados necessários durante o balão intragástrico
Nas primeiras 72 horas depois do procedimento, é comum que o paciente sinta dores abdominais, enjoos e vômitos. Nesses casos, são indicados medicamentos que amenizam o mal-estar. Depois da colocação, é importante que o paciente faça acompanhamento médico e tenha uma rotina mais saudável.
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“Importante estar muito bem orientado e preparado para o tratamento. O balão intragástrico ocupa espaço no estômago, levando à saciedade precoce. Portanto, o paciente come menos e começa a perder peso”, pontua o médico. Nesse momento, é necessário ter consciência de que os hábitos precisam sofrer alterações.
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“Com o apoio de nutricionista e psicóloga, a pessoa precisa mudar seus hábitos, voltar a realizar atividade física, aprender a diferença entre fome e vontade e seguir todas as orientações da equipe multidisciplinar. Não adianta comer pouco, mas com qualidade ruim e de alta caloria, por exemplo”, continua o especialista.
Durante o período em que está com o balão, a alimentação precisa ser regrada. “Se comer em excesso, terá sintomas de náuseas, desconforto abdominal e vômitos. Importante ressaltar que, se o exagero for muito grande, isso pode levar a impactação do balão no estômago ”, alerta Grecco.
Vale destacar que o acúmulo de comida no órgão, presente no tubo digestivo, pode causar uma série de problemas e trazer prejuízos à saúde. “Pode levar a super distensão gástrica, com formação de úlceras, sangramentos e até mesmo ruptura do estômago. Portanto, o paciente deve seguir as orientações médicas”, completa.
Hora da retirada
O processo de retirada é similar à colocação. Isso significa que o endoscopista, com a ajuda de um anestesista, esvazia o artefato e o retira de dentro do corpo. Depois do procedimento ser realizado, o paciente é orientado a seguir seu ritmo de vida normal e manter uma dieta leve pelos próximos três dias.
Uma pergunta comum é se, após a retirada, a pessoa conseguirá manter o peso perdido. “Isso depende do quanto ele se adequou aos novos hábitos e entendeu que, se retomar a vida que tinha antes, voltará a engordar”, pontua Grecco, que diz que o balão reduz o peso em até 15%. No entanto, isso pode variar em cada caso.
“Após este período de poucos dias da retirada, o paciente precisa estar orientado de que a obesidade é uma doença crônica, incurável, mas que tem controle. Ele precisa se manter fiel ao consultório médico e a equipe multidisciplinar para manutenção dos seus resultados e evitar o reganho de peso em longo prazo”, orienta o endoscopista.
Possíveis complicações
O balão pode causar obstrução intestinal, mas, segundo o endoscopista, esse não é um quadro comum. O problema acontece quando há um esvaziamento espontâneo do artefato, que migra em direção ao intestino. “O abdômen fica muito distendido, além de causar desconforto e vômitos”, pontua o profissional.
No entanto, essa complicação vai depender da qualidade do material do item e forma como a sua colocação foi feita. A presença de fungos ao redor também pode acontecer, mas é incomum. “Uma vez que o balão é colocado dentro do organismo, ele deixa de ser um objeto estéril e, por essa razão, pode ser contaminado por esse tipo de micro-organismo”, diz Grecco.
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O balão intragástrico é preenchido com com soro fisiológico e corante azul de metileno. “Na rara eventualidade de o balão se romper, o corante é absorvido pelo intestino e a urina sai verde (azul do balão + amarelo da urina). Nestes casos, ele precisa ser retirado. Este é um procedimento feito em ambulatório”, finaliza o especialista.