Você já ouviu falar em dermatite atópica? Trata-se de uma doença crônica, não contagiosa, que causa vermelhidão, inflamação e coceira na pele. No Brasil, segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia, até 25% das crianças podem apresentar episódios da doença em algum momento. No caso dos adultos, a incidência é menor, mas chega a 7%.
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Segundo Abdo Salomão, doutor em Dermatologia pela Universidade de São Paulo, a causa exata da dermatite atópica é desconhecida, mas há um fundo imunológico. “É uma situação na qual ocorre uma anomalia na produção de sebo das glândulas sebáceas, fazendo com que a produção passe a ser insuficiente”, explica.
Salomão fala que esse processo deixa a pele mais seca e permite a entrada de substâncias alergênicas, como bactéria, fungo, ácaro e poeira. “Isso tudo cria um processo inflamatório na pele, que pode gerar coceira e bolha”. O ressecamento da derme, causado pela perda de água, favorece o surgimento de infecções e irritações.
De acordo com o profissional, a doença é mais comum em crianças e adolescentes, pois a pele ainda não está completamente amadurecida e as glândulas não se desenvolvem a tempo, o que deixa a pele mais ressecada. Já nos idosos, as glândulas sebáceas vão morrendo com o passar do tempo – e isso favorece o aparecimento da condição.
Sintomas da dermatite atópica
Os sintomas se manifestam de forma diferente conforme a idade do paciente. Segundo a dermatologiata e tricologista Kédima Nassif, até os dois anos, o rosto fica vermelho, com lesões avermelhadas e coceira intensa, que causam feridas abertas e liberam um líquido claro incolor, além de da presença de pequenas “bolinhas” de água.
“Já nas crianças maiores e adultos, as lesões se concentram atrás dos joelhos, no pescoço e na região antecubital (dobra entre o braço e antebraço), sendo mais vermelhas e vivas nas crianças e mais ressecadas e com espessamento da pele nos adultos”, compara Kédima.
Em alguns casos, além das lesões na pele, a pessoa pode ter febre.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da dermatite atópica é geralmente clínico e feito através do exame dermatológico, segundo Salomão. Em caso de persistência da dúvida, é recomendável realizar uma biópsia.
Conforme explica Kédima, esse diagnóstico é também baseado no surgimento das lesões na infância, no quadro crônico e recidivante, na presença da coceira intensa e na localização típica das lesões de pele, além da exclusão de outras doenças de pele pelo dermatologista.
Alguns fatores influenciam no surgimento da doença
Apesar de a causa exata desta doença ser desconhecida, alguns pontos podem ser considerados: fatores genéticos e ambientais. “Na genética, o principal fator de risco para seu desenvolvimento é ter os pais afetados, principalmente, a mãe; inclusive, a presença de rinite e asma além das manifestações de pele já confere um maior risco de o filho de ter dermatite atópica”, conta Kédima.
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Em relação aos fatores ambientais, a médica afirma que a exposição a certos microorganismos, mofo e poeira podem desencadear o desenvolvimento do problema.
Tratamentos para controlar a condição
Para tratar a dermatite atópica, o primeiro passo, segundo Salomão, é afastar alguma condição clínica que possa estar gerando essa doença, através de exame de sangue. Em segundo lugar, “o paciente deve passar a hidratar melhor a pele”. Ele explica que, “nos casos mais críticos, anti-inflamatórios, geralmente corticoides, podem ser receitados”.
Kédima concorda que é essencial manter a hidratação da pele. É possível começar com banhos mornos ou frios e sem bucha - nunca muito quentes ou longos -, utilizando o sabonete apenas nas áreas das dobras. Depois, deve-se fazer o uso abundante do creme hidratante, de preferência rico em ceramidas e três vezes ao dia.
Em relação às roupas, o ideal é sempre dar preferência para as de algodão e evitar o nylon e o poliéster, inclusive em peças íntimas. Também não faz bem o uso de amaciantes de roupa e produtos muito perfumados.
A recomendação é que o paciente siga os produtos indicados pelo dermatologista, que podem incluir creme com corticóide, remédio via oral ou um antialérgico.
Consequências no caso de não ser tratada
No caso de não ser tratada, a doença pode irradiar para outras áreas do corpo, gerando desidratação. A perda de água pela pele lesionada pode ser tão grande que o paciente fica com distúrbios na hidratação do organismo e na quantidade de sódio e potássio, segundo Kédima.
Salomão afirma que “pode ocorrer um quadro chamado eitrodormia - condição em que mais de 80% do corpo é acometido pela dermatite atópica. Apesar de bastante raro, a evolução da doença pode culminar em internação e até óbito”.
Kédima alerta que há a possibilidade ainda de ocorrer um prejuízo no crescimento das crianças, além de um estigma social e risco de infecções na pele, que podem também se espalhar para todo o organismo.
Diferenças entre a dermatite atópica e a psoríase
A psoríase é uma doença imune e anti-inflamatória em que ocorre uma superproliferação das camadas da pele. Kédima diz que ela faz com que se criem placas escamosas e espessas, esbranquiçadas, que deixam a pele suscetível a sangramentos. As áreas tipicamente afetadas são: cotovelos, umbigo, joelhos, couro cabeludo e tronco e costuma ter coceira pouco intensa.
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Essa doença tem a ver com o fator emocional e, ao contrário da dermatite atópica , tende a ficar mais branda com o tempo, segundo Salomão. A dermatite, caso não seja tratada, piora com a idade. Então, apesar de ambas serem descamativas e terem característica genética, são doenças completamente diferentes. O importante é ter o diagnóstico correto para iniciar o tratamento.