Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que o câncer de pulmão é o tipo mais comum e que mais mata em todo o mundo. Em 2018, foram cerca de 2,09 milhões de casos e 1,76 milhão de mortes. O cigarro é, de longe, o principal fator de risco que leva ao desenvolvimento da doença, que merece atenção e, em grande parte dos casos, pode ser evitada.
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No Brasil, conforme explica Jefferson Luiz Gross, que comanda o Núcleo de Pulmão e Tórax do A.C.Camargo Cancer Center, a estimativa é que, até o fim de 2019, ocorram quase 30 mil novos casos do câncer de pulmão . Apesar de ser bastante conhecida, a doença, no entanto, é diagnosticada tardiamente com frequência, o que eleva a mortalidade.
Esse tipo de câncer se desenvolve de maneira silenciosa, o que prejudica o diagnóstico precoce. “Quando o paciente apresenta sintomas e procura ajuda médica, o tumor já pode ter um tamanho considerável”, afirma Josiane Mourão Dias, oncologista clínica do Hospital de Amor.
Josiane ainda ressalta que, quanto mais avançada a doença no momento em que é diagnosticada, menores são as chances de cura. “Apesar dos grandes avanços no tratamento nos últimos anos, as taxas de sobrevida em cinco anos em câncer de pulmão são da ordem de 18%”, detalha a oncologista.
Quais são os fatores de risco?
O principal fator de risco é o tabagismo , ou seja, o hábito de fumar, que aumenta em até 30 vezes o risco de desenvolver a doença. Isso porque o cigarro contém diversos carcinógenos, que são substâncias que causam várias alterações celulares que levam ao desenvolvimento da célula tumoral e a sua multiplicação descontrolada.
Quanto maior o número de cigarros ao longo do tempo, maior o risco. “Cerca de 90% de todos os casos são atribuídos ao consumo de tabaco”, pontua Gross. O especialista ainda destaca que mesmo os tabagistas passivos, que inalam a fumaça derivada de tabacos, têm chances de desenvolver a doença.
A poluição do ar também pode representar um risco. Josiane informa que um estudo em países europeus evidenciou uma associação entre a poluição do ar e a incidência de câncer de pulmão. Há também aumento no risco em pacientes que trataram de outras doenças com radioterapia que atingem o campo torácico.
Os especialistas ainda destacam que outro fator de risco, mas de menor magnitude, é a exposição ocupacional a carcinógenos, como, por exemplo, a asbesto (também conhecido como amianto), que era utilizado na fabricação de telhas, caixas d'água e freios. “Em cerca de 20% dos casos de câncer de pulmão, os pacientes não apresentam história de tabagismo”, diz Josiane.
Sintomas e diagnóstico
Mesmo que a doença não tenha nenhum sintoma específico, alguns indicativos apresentados pelos pacientes são: tosse, falta de ar, dor no tórax, presença de sangue no catarro, emagrecimento rápido sem outra explicação aparente. Os públicos mais afetados são aqueles que consomem mais de 30 maços de cigarro por ano e possuem entre 50 e 70 anos.
No entanto, eles podem aparecer nos estágios mais avançados da doença. Em sua fase inicial, costuma ser silenciosa. Além disso, os sinais podem indicar outras complicações. “A maioria desses sintomas pode estar presente em outras doenças comuns nos fumante, como o enfisema pulmonar, o que pode confundir e atrasar o diagnóstico do câncer de pulmão”, diz Gross.
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“Quanto mais precoce for o estágio do câncer de pulmão, maiores serão as chances de cura da doença. Quanto descoberto em fase muito inicial, o câncer de pulmão é uma doença absolutamente curável. Por outro lado, o diagnóstico em estágios avançados reduz drasticamente as chances de cura”, destaca o profissional do A.C.Camargo Cancer Center.
Como a doença é silenciosa, a realização de exame de rastreamento na população de alto risco tem um papel muito importante. Fumantes ativos ou que pararam fumar há menos de 15 anos, com uma carga tabágica alta, devem ser analisados anualmente com um tomografia computadorizada de tórax com baixa dose de radiação.
“Este exame permite o diagnóstico em fases mais iniciais, com maior chance de sucesso do tratamento. A realização reduz em cerca de 20% a mortalidade por câncer de pulmão na população de alto risco. A recomendação para os fumantes e ex-fumantes é consultar um médico para avaliar a indicação de ser submetido ao exame”, alerta Gross.
O diagnóstico específico de câncer de pulmão, por sua vez, somente pode ser feito através de biópsia, que consiste na retirada de um pequeno fragmento da lesão suspeita. O material é analisado pelo patologista, que determina o resultado e o tipo de câncer, que possui comportamento e tratamento diferentes.
Tratamentos da doença
O tratamento do câncer de pulmão vai depender do estágio, características clínicas do paciente e alguns fatores genéticos. De acordo com Gross, os principais recursos são: cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia-alvo e imunoterapia. Cada uma destas modalidades pode ser empregada de maneira isolada ou em associação.
Para os estágios iniciais, a cirurgia representa a principal forma de tratamento e consiste na remoção da área do pulmão onde se originou o câncer e dos linfonodos (ínguas) localizadas nas proximidades do órgão, comprometido pelo tumor. Alguns casos ainda devem receber tratamento complementar auxiliar com quimioterapia e ou radioterapia depois da remoção.
Para os tumores que já estão maiores, mas que ainda não se espalharam para outros órgãos, o tratamento consiste em radioterapia e quimioterapia, seguido por imunoterapia. “Nestes estágios, em poucas situações, a remoção cirúrgica do tumor pode ser útil no tratamento”, pontua o especialista do A.C.Camargo Cancer Center.
“Na maioria das vezes, o câncer de pulmão é descoberto em fase avançada, com a presença de metástase, ou seja, pela disseminação do câncer para outros órgãos além do pulmão. Nessas situações, o tratamento mais efetivo é o sistêmico, que consiste em quimioterapia associada ou não a imunoterapia, terapia-alvo ou imunoterapia isoladamente”, continua.
Os tratamentos paliativos, que consistem em medidas terapêuticas para proporcionar alívio ou conforto de sintomas decorrente do câncer, são fundamentais para os pacientes com a doença. É importante destacar que a preocupação com qualidade de vida deve ser uma constante no planejamento dos pacientes.
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Como o tabagismo é o responsável por 80% dos casos de câncer de pulmão , a grande medida para evitá-lo é não fumar. “Esta informação é importante para os fumantes, para que cessem o consumo de tabaco o quanto antes, mas também é importante para os não fumantes, para que jamais tornem-se tabagistas”, finaliza Gross.