RIO — Pacientes com câncer — em especial aqueles que apresentam tumores de mama, gastrointestinais, no pulmão e no sistema nervoso central — têm um risco maior de morrer ou desenvolver complicações graves por causa do coronavírus, de acordo com estudo inédito publicado nesta terça-feira por 12 pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
A pesquisa — publicada no periódico científico medRxiv — analisou prontuários eletrônicos de pacientes internados com câncer no Inca. Os cientistas avaliaram 181 infectados pelo novo coronavírus, admitidos entre os dias 30 de abril a 26 de maio na instituição, com idade média de 55 anos.
Os pesquisadores revelaram que pacientes com câncer acometidos pelo novo coronavírus têm maior risco de morrer. Dos 181 pacientes avaliados, 33. 1% morreram devido a complicações pela Covid-19. Pacientes com câncer também apresentaram maior probabilidade de ter insuficiência respiratória (38,7%), choque séptico (22,1%) e lesão renal aguda (18,2%).
O chefe do Programa de Imunologia e Biologia Tumoral do Inca, João Viola, destacou que existem cinco fatores de risco para o paciente com câncer em relação ao agravamento da Covid-19:
— A idade, o câncer em estado avançado, a metástase, o paciente em cuidado paliativo e a Proteína C Reativa (que é detectada no sangue) são fatores que colocam o grupo contagiado pelo câncer em risco frente a Covid-19 — concluiu Viola, um dos autores do estudo.
A pesquisa também revelou que pacientes com tumores sólidos tiveram estados mais agravados do que os acometidos pelos hematológicos. Segundo o material, os tumores sólidos mais prevalentes foram os de mama (22,1%), gastrointestinal (13,3%) e ginecológico (12,2%). Entre as neoplasias hematológicas, predominaram linfoma (11%) e leucemia (5,5%).
— Desde o início da pandemia, alguns grupos específicos de pacientes foram considerados de mais alto risco para desenvolvimento quadros graves da Covid-19, levando-os a insuficiência respiratória, necessidade de ventilação mecânica, internações prolongadas em unidades de terapia intensiva e óbito pelo novo coronavírus. Esse trabalho reforça que o paciente com câncer é um paciente frágil, com um risco alto de complicações e mortalidade relacionada à Covid-19 — diz Andreia Melo, Chefe da Divisão de Pesquisa Clínica do Inca.
Segundo os pesquisadores, o resultado da pesquisa traz a necessidade da adoção de políticas públicas voltadas para a população com câncer:
— Os pacientes com câncer são considerados um dos grupos mais suscetíveis pelo vírus Sars-Cov-2. A vulnerabilidade, portanto, revela um cenário carente de medidas protocolares para a prevenção dessas pessoas. A precaução precisa ser realizada em ambientes privados e também externos — afirma Marcelo Soares, chefe do Programa de Oncovirologia do Inca.
Este é o primeiro estudo brasileiro publicado sobre o impacto do vírus Sars-Cov-2 em pacientes com câncer. Fora do país, pesquisas chinesas e americanas já abordaram o tema.
No mundo
O câncer é o principal problema de saúde pública no mundo e já está entre as quatro principais causas de morte prematura (antes dos 70 anos de idade) na maioria dos países.
Segundo o Inca, 7,6 milhões de pessoas morrem em todo o mundo por causa do câncer a cada ano. Mais da metade delas, 4 milhões, têm entre 30 e 69 anos.
A previsão, segundo o instituto, é que 6 milhões de pessoas morram prematuramente por ano até 2025, caso não sejam adotadas medidas de prevenção.
Em fevereiro, a OMS divulgou dados sobre o câncer. Segundo a organização, os registros da doença aumentarão cerca de 81% nos países em desenvolvimento até 2040.
A ONU também alertou que, se as tendências atuais se mantiverem, o mundo registrará um aumento global de 60% dos casos de câncer nas próximas décadas.