Terapia
UCSF/NCATS
Imagem de microscópio mostra células-tronco mesenquimais, material biológico que está sendo usado em terapias para Covid-19

Uma classe de terapia similar à de  células-tronco (células como as de embriões, capazes de se transformar e compor diversos órgãos) se mostrou segura em dois testes clínicos iniciais para Covid-19. Segundo cientistas que criaram o tratamento, conhecido pela sigla MSC, ele é capaz tanto de acalmar "tempestades" inflamatórias que o organismo cria para combater o vírus e danificam o tecido pulmonar quanto de reparar o dano causado.

O resultado mais recente sobre a terapia saiu em julho, em um teste no Hospital Universitário de Salamanca, na Espanha, no qual 13 pacientes de UTI com Covid-19 foram tratados com as células-tronco. O teste era de fase 1, apenas para avaliar segurança, e foi bem-sucedido, com 11 pacientes tendo sobrevivido a complicações graves da Covid-19 .

Em artigo descrevendo a terapia na revista médica "The Lancet", os cientistas espanhóis afirmam que já iniciaram um teste de fase 2 (que faz uma avaliação preliminar de eficácia).

"A administração de células MSC do tecido adiposo, seguida de melhor clínica e mudanças de composição inflamatória e do sistema imune, sugere que houve potência efeito biológico das células ", escrevem os cientistas espanhóis, liderados por Fermín Sánchez Guijo.

Um grupo de pesquisadores do Hospital Mount Sinai, de Nova York, também havia testado as MSC num ensaio de fase 1, em março, e obtido bons resultados. Dez de doze pacientes graves sobreviveram, e Mount Sinai afirma que já está recrutando 300 pacientes em testes clínicos simultâneos de fase 2 e 3. O hospital afirma que o estudo deve seguir até abril, mas há chance de antecipação de resultados.

A sigla MSC nasceu originalmente com o significado de " células-tronco mesenquimais", porque as primeiras amostras desse tipo de célula foram tiradas de células do mesênquima, o tecido de tipo embrionário onde foram descobertas. Após encontrarem maneiras diferentes de reprogramar células cutâneas para produzi-las sem a necessidade de extração de células-tronco, o nome da terapia foi rebatizado "células mesenquimais do estroma" ou "células medicinais sinalizadoras", mas a sigla MSC continuou sendo usada.

O apelido de sinalizadora foi adotado porque essas células, de fato, emitem sinais para os sistemas imune e circulatório que ativam sistemas de reparação de danos causados em diferentes tecidos. O efeito anti-inflamatório delas se dá pelo controle das chamadas "tempestades de citocinas", a proliferação descontrolada de moléculas inflamatórias que é comum em situações como a Covid-19 .

Uma das poucas indicações para as quais as MSC são aprovadas, aliás, é para o tratamento de casos de rejeição de órgãos transplantados, onde as citocinas também atrapalham.

"Evidência pré-clínica e clínica indica que as MSC migram para o pulmão e reagem ao ambiente pró-inflamatório ali liberando moléculas anti-inflamatórias, reduzindo a proliferação de citocinas pró-inflamatórias", afirmou Annetine Gelijns, médica do Mount Sinai, em relatório sobre o teste clínico em andamento entregue a autoridades sanitárias.

Os pesquisadores dizem crer que o controle desse processo inflamatório pode contribuir para combater infecção do coronavírus em si, porque é a membrana pulmonar danificada que permite ao patógeno invadir o sistema circulatório das vítimas, onde pode causar trombose e desencadear processo que leva à falência múltipla dos órgãos.

Pedido de liberação

Mesmo sem uma conclusão sobre o teste de fase 3, a Mesoblast, empresa que forneceu as células para o teste clínico, encaminhou uma solicitação ao FDA, a agência americana de regulação de fármacos . Eles pedem liberação antecipada da terapia, dado o resultado animador das fases 1 e 2.

As MSC foram desenvolvidas originalmente como terapia por um cientista da Universidade Case Western Reserve, de Ohio, Arnold Caplan, que fundou uma empresas para vendê-las, a Osiris Therapeutics. Mais tarde, outra empresa, a Mesoblast, comprou toda a divisão de células-tronco da Osiris, e hoje é ela que fornece as células mesenquimais para o Mount Sinai.

Em um artigo especial para o "Wall Street Journal", Kevin Kimberlin, co-fundador da Osiris, afirma que os reguladores prometeram dar resposta ao pedido até 30 de setembro. Mais do que os resultados de teste clínico , a especulação sobre essa antecipação fez as ações da Mesoblast triplicarem de cotação em 14 de agosto.

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