A cidade do Rio voltou a apresentar neste domingo, pelo quinto dia consecutivo, aumento da média móvel de mortes por Covid-19 . Em comparação com duas semanas atrás, como recomendam os especialistas para fazer a análise da curva da doença, o aumento foi de 59%. O percentual acima de 15% indica uma tendência de alta. Ao todo, na capital, o coronavírus já matou 9.231 pessoas e infectou 86.767.
No estado, a média móvel de óbitos sobe há três dias. Neste domingo, atingiu um aumento de 44% em relação a duas semanas atrás. Dados da Secretaria estadual de Saúde mostram que ocorreram 15.292 óbitos desde o início da pandemia e que mais de 210 mil pessoas foram infectadas pela doença. Nas últimas 24 horas, houve registros de 484 novos casos e 25 mortes, todas na capital.
A análise dos dados foi feita a partir do levantamento do consórcio de veículos de imprensa formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S. Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo, que reúne informações das secretarias estaduais de Saúde.
Os números altos registrados nos últimos dias acontecem após um período de tendência de queda e de estabilidade, que levou à flexibilização das atividades econômicas. O pesquisador Guilherme Travassos, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), comparou a situação da pandemia no Rio com o relevo da cidade. Ele diz estar preocupado com as novas infecções pelo novo coronavírus (Sars-coV-2), que, em sua avaliação, não dão sinais de arrefecimento:
— Se analisarmos a distribuição da média móvel de casos ao longo do período, parece que estamos desenhando as montanhas do Rio. De um “morro”, temos uma descida suave, e logo passamos a outro. Isso indica uma persistência da propagação viral.
Tanto o estado como a prefeitura atribuem esse aumento à maior testagem da população e à inclusão de novos casos baseados apenas em diagnósticos clínicos, como estabelece uma nova regra do Ministério da Saúde.
Para o epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ, no entanto, o aumento da média móvel — tanto na capital como no interior do estado — está associado à flexibilização do isolamento social:
— Estamos no pior dos mundos: não podemos fazer afrouxamento maior, nem estamos próximos do fim do isolamento social. A população flexibilizou por conta própria antes das decisões governamentais. Como não aderimos adequadamente às medidas de distanciamento, conseguimos achatar a curva, mas não na mesma intensidade de países como França, Espanha e Itália.
Os números, no entanto, não alarmam o médico Alexandre Campos, assessor da Secretaria municipal da Casa Civil e integrante do comitê científico da prefeitura. Ele reconhece que a taxa de transmissão da doença voltou a ficar acima de 1, indicando uma expansão dos contágios. Segundo ele, esse dado deve refletir na próxima decisão da equipe que, na semana passada, deliberou pelo adiamento da nova fase da flexibilização, quando seria permitida a reabertura de cinemas, teatros e casas de eventos. Na opinião de Campos, é provável que a medida se mantenha nas próximas reuniões:
— Tomamos a decisão de continuar observando por mais sete dias. No presente, não me parece haver condições de evoluir para a fase 6. Também há desrespeito às regras de ouro, e, para completar, estamos no inverno, quando são registrados mais casos de gripe e síndromes respiratórias.
Campos ressalta, porém, que um recuo nas medidas de flexibilização, no momento, está fora de pauta.