Em meio a um cenário de provável subnotificação de casos da Covid-19 em São Paulo, devido a um "apagão" nos dados que durou quase uma semana, hospitais particulares vêm registrando aumento no número de internações de pacientes nos últimos dias.
Além disso, uma pesquisa da Info Tracker - ferramenta desenvolvida por USP e Unesp para monitorar o avanço da pandemia - aponta que entre 1º de agosto e 5 de novembro houve um salto de casos suspeitos de coronavírus na Grande São Paulo e na capital paulista. Especialistas da área da saúde e cientistas chamam atenção para uma possível segunda onda da doença.
O Hospital Sírio-Libanês informou que voltou a atingir o pico de internações do início da pandemia, o mesmo registrado em abril deste ano: 120 pacientes com Covid-19. Nos últimos dois meses, o número oscilava entre 80 e 110. Sem dar detalhes sobre o total de atendimentos, o hospital 9 de Julho confirmou que registrou "discreto aumento" da taxa de ocupação em quartos privativos por pacientes com doenças respiratórias.
Já o Hospital Vila Nova Star, que atende em sua maioria o público de alta renda, afirmou em nota ao Estadão que houve um aumento do número de pacientes com suspeita de Covid no pronto-socorro, porém também não informa o total de atendimentos. O HCor internou 100 pessoas nos meses de pico da pandemia. O número caiu para 18 pacientes, e agora aumentou para 30, segundo informações publicadas pela Folha de S. Paulo.
Na última semana, a ferramenta Info Tracker, do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria, desenvolvida por professores da USP e Unesp, vem chamando atenção para um salto nos casos suspeitos de Covid. Segundo especialistas queestão monitorando 92 municípios (cidades que têm uma representatividade de 90% no número de óbitos por Covid no estado de SP) desde o início da pandemia, os casos suspeitos registraram crescimento na Grande São Paulo e na capital entre agosto e novembro.
Para Wallace Casaca, cientista de dados e um dos responsáveis por desenvolver a Info Tracker, o número de infectados suspeitos oscilava muito no ápice da pandemia, o que indicava normalidade para a ocasião em uma época de muitos registros diários. Com os recentes boletins do estado de SP mostrando queda no número casos e óbitos confirmados, o mesmo cenário deveria estar sendo observado nos casos suspeitos, mas, desde agosto, o número de casos suspeitos "só aumenta".
"De agosto a novembro, em dois ou três dias esse dado chega a cair, mas, no geral, sobe de forma considerável. Olhando para os números, já é possível ter indícios de segunda onda que a Grande SP e a capital podem estar vivenciando. Temos aumento de hospitalizados na rede particular, aumento de casos suspeitos e redução de casos descartados", explica o especialista.
A ferramenta mostra que a capital paulista teve um aumento de aproximadamente 50% no número de casos suspeitos entre 1º de agosto e 5 de novembro, passando de 339.934 casos para 504.949.
Na Grande São Paulo Sudeste, onde há grande concentração de casos suspeitos, a alta é de 75% (passou de 43.494 para 76.188 entre agosto e novembro). As demais regiões da Grande São Paulo também registram aumento: 41% na Sudoeste, 76% na Oeste e 12% na Leste.
"A pandemia começou assim em março, com hospitalizados nos particulares, e depois migrou para o sistema público de saúde. Parece que a gente começa a vivenciar a mesma fotografia do começo da pandemia na Grande São Paulo", ressalta Casaca.
A Secretaria de Saúde de SP voltou a informar os dados referentes ao coronavírus nesta quarta-feira, após instabilidade na plataforma. Em nota, a pasta disse que incluiu 190 novos óbitos e 24.936 casos entre os dias 6 e 11 de novembro, mas que o "balanço possivelmente é inferior ao verificado no período", pois alguns podem ter ficado "represados".
No entanto, afirmou que ainda não há indícios de um novo pico da Covid até o momento. "O Estado de SP possui taxa de ocupação de 40,8% de UTI e 29,9% de enfermaria, com plena condição de atender os pacientes."