Assim que os casos de infecção pelo novo coronavírus começaram a crescer pelo mundo, boa parte dos países passaram a adotar medidas de isolamento social. Comprovadamente eficaz para reduzir a chance de contágio, a máscara facial demorou a ser adotada. Adotada há muitos anos na China, para evitar contágio de outras doenças, teve o uso recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) apenas em junho — cerca de seis meses após a Covid-19 ser classificada como uma pandemia.
E mesmo com a comprovação de que, quando usada corretamente, reduz em torno de 70% o risco de contaminação
, parte da população se recusa a utilizá-la
- incluindo chefes de estado, como os presidentes Jair Bolsonaro (sem partido)
e Donald Trump, dos EUA.
A recusa de Bolsonaro em acreditar na eficácia do equipamento de proteção, aliás, é curiosa, uma vez que o próprio presidente sancionou a lei 14.019/2020 (publicada no Diário Oficial da União no dia 2 de julho) sobre "a obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção individual para circulação em espaços públicos e privados acessíveis ao público, em vias públicas e em transportes públicos".
Apesar disso, Bolsonaro não a utiliza. E por diversas vezes incentivou que as pessoas fizessem o mesmo. A última vez foi no dia 26 de novembro. "A questão da máscara... não vou falar muito, porque ainda vai ter um estudo sério falando sobre a efetividade da máscara. O último tabu a cair" , disse, na ocasião.
Confira as teorias negacionistas:
"Falta de oxigênio e respiração de CO2"
A ideia de que utilizar a máscara causaria "hipóxia" - deficiência de oxigênio - é um dos argumentos falsos mais disseminados.
"Não são eficazes para bloquear o vírus"
A teoria de que as máscaras deixam bloqueiam parte das gotículas, mas não o vírus, também é bastante popular. E também é desmentido pelas autoridades médicas. De acordo com a ciência, o tamanho da partícula viral não é relevante, pois o que conta é o tamanho das gotículas que contêm o vírus. E essas gotículas são geralmente bloqueadas pelo equipamento.
Importante dizer, entretanto, que só a utilização da máscara não basta. Segundo a OMS, a máscara não são 100% eficazes, mas limitam a chance de contágio, principalmente se utilizada em massa pela população e aliada ao distanciamento físico e lavagem das mãos.
"Ditadura da saúde"
A conspiração contra as máscaras culminou até na criação de um "movimento antimáscara", com protestos realizados em países como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e França . Os conspiracionistas falam de "leis desproporcionais" e reclamam dos extremos de uma "ditadura da saúde". Eles apelam, também, para o que chamam de liberdade individual, com o argumento de que a não utilizar o equipamento diz respeito a "eles e apenas a eles".
O que a ciência diz
Segundo especialistas, a máscara traz, ao menos, dois benefícios: protege quem usa e, ao mesmo tempo, resguarda quem está por perto de um indivíduo infectado.
Além de dificultar o contágio, um estudo realizado pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, aponta que mesmo que haja infecção por Covid-19, a manifestação da doença tende a ser mais branda ou até mesmo assintomática em pessoas que utilizam o equipamento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou no dia 2 de dezembro suas recomendações sobre as máscaras . A entidade recomendou o uso inclusive para crianças maiores de 12 anos.
"Se em locais fechados, a menos que a ventilação tenha sido avaliada como adequada, a OMS aconselha o público geral a usar máscaras não-cirúrgicas, independentemente de se poder manter um distanciamento físico de ao menos um metro", disse a OMS, que ainda aconselhou o "uso universal de máscaras" em todas as instalações de saúde, inclusive em áreas comuns, como cafeterias e salas de funcionários", disse a porta-voz da OMS, Margaret Harris.