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Vacina contra coronavírus: como saber se a vacinação está surtindo o efeito esperado
Maryam Ahmed - BBC News
Vacina contra coronavírus: como saber se a vacinação está surtindo o efeito esperado

Milhões de pessoas ao redor do mundo receberam a primeira dose da vacina contra covid-19 —mas como saber se a imunização está surtindo o efeito esperado?

No Reino Unido, onde 15 milhões de habitantes já foram imunizados, há alguns sinais de um possível efeito da vacina na queda de mortes entre indivíduos acima de 80 anos.

Porém, dados em relação ao número de casos e pacientes hospitalizados não são tão claros. É difícil separar o efeito da vacina do lockdown imposto no país.

Mas Israel, país onde a vacinação está mais avançada e mostra resultados mais claros, pode nos dar algumas pistas.

O que os dados mostram?

Uma análise da BBC News, usando dados apenas da Inglaterra, sugere que a vacina está começando a empurrar os números para baixo no Reino Unido.

Mortes por covid na Inglaterra
BBC

As mortes por covid-19 estão caindo mais rapidamente dentro dos grupos vacinados, em comparação com aqueles que não foram vacinados.

Em média, as mortes de pessoas acima de 80 anos diminuíram 53% entre 28 de janeiro e 11 de fevereiro, contra 44% entre aqueles com menos de 80 anos.

"As primeiras indicações sugerem que existe algum efeito. Mas acho que é muito cedo para colocar um número nisso", afirmou o professor Chris Whitty, consultor médico-chefe do Reino Unido.

No entanto, não vemos um forte efeito da vacina em outras estatísticas.

Internações por covid na Inglaterra
BBC

As internações hospitalares de pessoas acima de 85 anos caíram 45% entre 30 de janeiro e 13 de fevereiro, em comparação com 42% entre aqueles com menos de 85 anos.

O número de casos de covid-19 também está caindo um pouco mais rápido entre pessoas mais velhas em relação a outras faixas etárias.

Entre 28 de janeiro e 11 de fevereiro, os casos da doença em indivíduos acima de 80 anos caíram 52%, contra 47% em pessoas com menos de 80 anos.

Mas os números de casos podem não ser um indicador confiável de se a vacinação está de fato funcionando.

A vacina previne infecções graves.

Mas o grande número de testes de rotina do coronavírus em lugares como asilos também identifica infecções leves e assintomáticas.

O que podemos aprender com Israel?

Quando o Reino Unido finalmente vir o efeito da vacina, será muito óbvio, sugerem os dados de Israel.

Israel é o primeiro país a ver o impacto de seu programa de vacinação.

Mas precisou imunizar uma parte significativa da população e levou várias semanas.

O país teve que vacinar 80% dos maiores de 60 anos até ver um impacto nos casos de covid-19, informou o professor Eran Segal, do Instituto Weizmann de Ciência, que está analisando dados para o Ministério da Saúde israelense, à BBC News.

Internações por covid em Israel
BBC

Mas depois disso, havia sinais claros de que a vacina estava "realmente ajudando" a reduzir o número de casos.

As maiores quedas nos números de internações hospitalares e mortes ocorreram entre os maiores de 60 anos, que foram vacinados primeiro.

E, na época, as internações ainda estavam aumentando entre aqueles com menos de 60 anos.

Portanto, a diferença entre os dois grupos era muito clara.

"É claro que não é mágica", diz Segal sobre o momento em que percebeu que o programa de vacinação estava começando a funcionar.

"É ciência."

"Mas foi tão emocionante, achamos que foi um momento mágico",

No Reino Unido, o lockdown tem reduzido o número de internações em todas as faixas etárias.

Então é mais difícil ter certeza de que qualquer queda se deve à vacinação.

O que mais podemos observar?

Os principais consultores do governo britânico afirmam que é muito difícil ter certeza sobre o efeito da vacinação apenas "observando" as tendências em grandes grupos de pessoas.

"Embora o programa de vacinação esteja indo bem, ainda não temos dados suficientes sobre a eficácia exata da vacina na redução da disseminação da infecção", declarou nesta semana o primeiro-ministro, Boris Johnson.

No entanto, ao cruzar os registros de vacinação com o programa de testes ou a ficha médica das pessoas, os cientistas do governo podem determinar se os indivíduos que foram vacinados têm menos probabilidade de ser infectados, ficar doentes ou transmitir a infecção.

No Brasil, teste para avaliar impacto

Enquanto isso, no Brasil, o Instituto Butantan dá início nesta quarta-feira a um ensaio clínico que pretende imunizar toda a população adulta da cidade de Serrana, no interior de São Paulo, para avaliar a eficácia da vacina CoronaVac na redução dos casos graves de covid-19 e da taxa de transmissão do vírus.

Foram disponibilizadas 60 mil doses da vacina, e a expectativa é que sejam aplicadas em 30 mil moradores voluntários — toda a população maior de 18 anos, excluindo gestantes, lactantes e pessoas com doenças graves.

O estudo quer analisar ainda o impacto da vacinação no número de casos, internações e mortes por covid-19, além do tempo que vai demorar para a população alcançar a imunidade coletiva.

De acordo com o instituto, os primeiros resultados da pesquisa estão previstos para sair em maio.

Reportagem adicional de Wesley Stephenson e Robert Cuffe.


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