A descoberta de cinco pessoas contaminadas por variantes do coronavírus — quatro por cepas descobertas em Manaus e uma por outra do Reino Unido — expôs falhas no sistema de controle epidemiológico no Rio. Nesta quarta-feira, o secretário estadual de Saúde, Carlos Alberto Chaves, disse em entrevista coletiva que tomou conhecimento dos casos pela mídia e não oficialmente pelo Ministério da Saúde.
O GLOBO apurou que um homem de 55 anos contaminado pela cepa de Manaus teve sua primeira internação ainda em janeiro em um hospital da Baixada Fluminense, foi transferido no dia 1º deste mês para o Hospital Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e morreu no último dia 6. Só na terça-feira, dez dias após a morte do paciente, o que demandaria rastreio de parentes e investigação sobre a origem do contágio, a informação chegou à Secretaria de Saúde de Belford Roxo, município em que ele residia.
Sem nota técnica
Na entrevista desta quarta-feira, Chaves criticou a “coordenação” do Ministério da Saúde.
"A notificação foi via mídia. O certo seria uma nota técnica. Achei deselegante. Não me preocupa quem vazou, mas as coisas precisam ser feitas dentro das normas. Por isso, convoquei essa coletiva. Saúde é coisa séria, e esse tipo de coisa não suporto. Acho que está faltando coordenação do Ministério da Saúde", afirmou Chaves. "É a minha opinião. Se você está sabendo e eu não estou sabendo, há uma descoordenação".
Secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz corroborou a opinião do chefe da pasta no estado.
"As ações precisam ser coordenadas, e informação é fundamental", disse.
Por nota, o Ministério da Saúde afirmou que, “desde a primeira observação de possíveis casos de variantes da Covid-19, tem emitido comunicados aos estados orientando a ampliação do sequenciamento de rotina dos vírus SARS-CoV-2, o contínuo fortalecimento das atividades de controle doença e a investigação de casos”.
A pasta informou ainda que foram notificados, até 15 de fevereiro, 173 casos confirmados pela nova variante P.1: sendo em Amazonas (110), Pará (11), Roraima (7) São Paulo (9) e Ceará (3) casos isolados, com e sem vínculo epidemiológico com o Amazonas. Já na Paraíba (10), no Piauí (1), no Espírito Santo (17), em Santa Catarina (1) e Rio de Janeiro (4), foram casos importados do Amazonas.
O ministério também afirmou que o sequenciamento genético não é um diagnóstico de rotina, sendo feito por laboratórios públicos, como Fiocruz e institutos Adolfo Lutz e Evandro Chagas. Procurada, a Fiocruz, que constatou a existência das variantes no Estado do Rio, não se pronunciou.
De acordo com a Secretaria de Saúde de Belford Roxo, após ter sido informada pelo estado, agentes de saúde foram até a casa da vítima da cepa de Manaus. A preocupação dos especialistas é que variações do vírus original da Covid-19 podem ser mais transmissíveis e letais.
Essa possibilidade ainda está em estudo. Os parentes do morador da Baixada não teriam sintomas da doença, segundo as autoridades de saúde da cidade. Antes de ser transferido para o Evandro Chagas, ele chegou a ser internado no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu.
Não foi informado em que data foi descoberto o contágio dele pela variante de Manaus e se ele viajou recentemente para o Amazonas — que enfrenta um colapso na Saúde — ou teve contado com alguém que veio daquele estado. O paciente sofria de cirrose hepática e tinha cardiopatia crônica.
Há um mês, o Ministério da Saúde iniciou um projeto nacional para monitoramento de novas variantes do coronavírus. A cada semana, os estados enviam amostras para sequenciamentos em laboratórios de referência.
No caso do Rio, os resultados vão para o Laboratório Central (Lacen) de Minas Gerais. Até aqui, explicou a equipe de Vigilância da Secretaria estadual de Saúde, não houve identificação de mutações da Covid-19 no Rio dentro desse projeto.
Agora, a expectativa é, dentro de uma semana, determinar se os cinco casos são importados ou se já há uma transmissão local das novas cepas. Entre os pacientes, não há nenhum idoso. Dos cinco, três são moradores da capital, um de Belford Roxo e um veio de Manaus.
Nos últimos dias, pacientes com Covid-19 de Manaus e de Rondônia foram transferidos pelo Ministério da Saúde para o Rio. Uma vistoria da Defensoria Pública do Rio e da União e do Ministério Público estadual e do Federal em dois hospitais federais que receberam esses doentes constatou falhas em seu atendimento, que poderiam comprometer o tratamento de outras pessoas internadas.
A fiscalização foi realizada no início do mês junto com a Vigilância Sanitária do estado e do município. Os técnicos elaboraram um relatório enumerando críticas à falta de planejamento que tem caracterizado as operações de transferência, especialmente a falta de interlocução com representantes do governo federal.