Depois de chegar ao alarmante índice de 96% das UTIs da rede SUS da capital ocupadas, grande parte dos leitos com doentes de outros municípios do estado, principalmente da Baixada Fluminense, a prefeitura do Rio vai endurecer as medidas restritivas. Segundo fontes da administração municipal, na segunda-feira será anunciado que apenas serviços essenciais funcionarão no Rio por dez dias.
O pacote também inclui a antecipação de feriados na cidade, o que diminuirá a circulação de pessoas, grande fator de risco para a disseminação da Covid-19. A ideia é que as medidas mais radicais entrem em vigor até o fim da semana. Na segunda-feira ainda, uma reunião definirá os detalhes, principalmente com relação ao comércio.
Neste domingo, está agendado um encontro entre o governador Cláudio Castro e o prefeito Eduardo Paes. Os dois divergem sobre esse caminho mais radical nas restrições. Tudo indica que o clima do tête-à-tête será de "pressão final", ou melhor, de ultimato, por parte do município. Isso porque o prefeito Eduardo Paes tem se mostrado insatisfeito com a postura de seus pares em outras cidades do estado no combate à pandemia.
Na sexta-feira, os dois já tiveram uma reunião sobre o tema, na qual Paes ressaltou a "a necessidade de medidas com alcance metropolitano realmente eficazes". Em seu perfil no Twitter, o prefeito afirmou que na segunda, espera "anunciar novas medidas em consonância com o governo do estado. Na cidade do Rio, elas virão". Segundo o painel da secretaria estadual de Saúde, o estado do Rio registra até agora 618 mil casos de coronavírus e mais de 34 mil mortos. E tem 481 pacientes à espera por um leito de Covid neste sábado.
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A decisão de endurecer pode criar uma saia justa com o governo federal. Na quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão de decretos editados em três estados com medidas restritivas para reduzir a circulação do vírus da Covid-19: Bahia, do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul.
No dia seguinte, governadores do Nordeste reagiram à decisão de Bolsonaro: "Mais uma vez convidamos o presidente da República a somar forças na luta contra o coronavírus, que tem trazido tantas mortes e sofrimentos. E reiteramos que só existe uma formar de proteger a economia e os empregos: enfrentar e vencer a pandemia", diz um trecho do comunicado divulgado.
Na mesma sexta-feira, Paes usou suas redes sociais para rebater críticas feitas no mesmo dia por Bolsonaro à sua decisão de fechar as praias da cidade a partir deste sábado. O presidente chamou o decreto municipal de 'hipocrisia' e frisou que banhos de sol são uma maneira de reforçar a vitamina D, cuja deficiência pode, segundo pesquisas, aumentar o risco de contrair a Covid-19.
"Temos clareza das vitaminas que todos precisamos para ter saúde. Uma delas é a vitamina da solidariedade e contra o negacionismo aos fatos e o que vem acontecendo em todo o país. Queremos salvar vidas. Essa é a vitamina que nos estimula", escreveu Paes no Twitter, sem citar o presidente.