A terceira onda da pandemia de Covid-19 pode ser a mais letal para a Alemanha, disseram nesta sexta-feira as principais autoridades de saúde do país. Com o aumento do contágio, alertaram os especialistas, não se pode descartar que o país chegue a 100 mil novos casos por dia caso a situação não seja controlada.
Em sua entrevista coletiva semanal, o ministro da Saúde, Jens Spahn, e Lothar Wieler, diretor do Instituto Robert Koch, a agência sanitária alemã, ressaltaram que o surto atual será "mais difícil" de conter e que já há "sinais claros" de que a situação é mais crítica que os picos anteriores.
"Nós temos semanas muito duras pela frente", disse Wieler, fazendo um apelo para que a população alemã pratique o isolamento social durante o feriado de Páscoa.
De acordo com Spahn, o país está na reta final da "maratona pandêmica", mas disse que o sistema sanitário pode colapsar nas próximas semanas.
"Neste momento, os números estão subindo rapidamente e as variantes estão tornando a situação especialmente perigosa", disse o ministro. "Se continuar fora de controle, corremos o risco do nossos sistema de saúde atingir seu ponto de rompimento em abril".
A Alemanha vê uma piora do quadro pandêmico desde o fim de fevereiro, quando o governo aliviou as restrições impostas para conter o vírus. A média móvel de novas infecções por 100 mil habitantes era, em 19 de fevereiro, de 56,8. Nesta sexta, segundo dados do Instituto Robert Koch, é de 119. O número ultrapassa o chamado “freio de emergência”, de 100 casos por 100 mil habitantes.
Quando isso ocorre por ao menos três dias consecutivos, o governo pode voltar a impor restrições. A chanceler Angela Merkel chegou a anunciar que o país entraria em uma restrita quarentena durante a Semana Santa, após uma reunião de mais de 12 horas com autoridades regionais na segunda. Pressionada pelo atraso na vacinação e por uma crise política, no entanto, voltou atrás menos de 48 horas depois.
Enquanto a chefe de governo defendia medidas mais duras, autoridades locais queriam posturas mais lenientes, diante do impacto social, econômico e do cansaço popular com ano de restrições. De acordo com o modelo federativo alemão, a maior parte das políticas de contenção da pandemia, em particular as que dizem respeito à saúde e educação, estão nas mãos dos estados.
Vacinação atrasada
Ao contrário de outras nações com índices de desenvolvimento similares, a Alemanha enfrenta dificuldades para acelerar sua vacinação: o país aplicou a primeira dose, até o momento, em 9,8% de sua população. O Reino Unido, em comparação, imuniizou 44% dos seus habitantes e os Estados Unidos, 26%.
A discrepância deve-se a uma série de fatores que passam pelo estoque insuficiente de doses na União Europeia e os termos que o bloco negociou com os laboratórios, o sentimento antivacina e a burocracia excessiva.
A insatisfação é acentuada pela série de escândalos que envolvem o partido governista, a União Democrata Cristã (CDU), há seis meses das eleições que elegerão o sucessor de Merkel, que deixará o poder após 16 anos. Entre as acusações de que autoridades enriqueceram em negociações envolvendo a compra de máscaras e outros equipamentos de proteção, a CDU vê sua popularidade cair e o governo encontra dificuldades de se impor.
Na quinta, por exemplo, a pequena região de Sarre, do Sudoeste, anunciou que será a primeira do país a pôr fim as principais restrições contra a Covid-19. Cinemas, teatros, salas de espetáculo, cafés, restaurantes e academia voltarão a funcionar e os limites para reuniões de grupos serão reduzidos. Será necessário apenas realizar um exame rápido para Covid-19, que nem sempre é eficaz.
Indo na direção contrária, Berlim anunciou nesta sexta que todos os passageiros aéreos que entrarem no território alemão precisarão apresentar um teste PCR negativo. O governo estuda também proibir férias de alemães no exterior, mas ainda não está claro se isso seria legal. Desde que a pandemia começou, a Alemanha soma mais de 2,7 milhões de casos, com 75,6 mil mortes.