Covid-19: Falta de critérios para fila da vacina atrapalha imunização; entenda
Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
Covid-19: Falta de critérios para fila da vacina atrapalha imunização; entenda

Enquanto se desenrola a vacinação de idosos e profissionais de saúde pelo Brasil, cinco estados e o Distrito Federal começaram ontem a imunizar forças de segurança. Na próxima semana, dependendo da região, professores também poderão receber suas doses. Por outro lado, há cidades em que esses grupos só serão vacinados depois de todos os idosos, ou então após os portadores de comorbidades. Para especialistas, a falta de critérios nacionais atrapalha a vacinação contra a Covid-19, sobretudo em um contexto com poucas doses disponíveis.

Em São Paulo, a vacinação de idosos está na faixa dos 68 anos. Ainda assim, as forças de segurança começaram ontem a ser imunizadas e, os professores serão na próxima semana. Porto Alegre também iniciou ontem a vacinação das forças de segurança. Já Curitiba recebeu 2 mil doses para esses profissionais, mas está sem vacina para aplicar em pessoas com menos de 67 anos.

No Rio, a vacinação de idosos vai até 24 de abril, quando todos acima de 60 devem estar vacinados com pelo menos a primeira dose. Então, em 26 de abril, virão junto forças de segurança, professores e pessoas com comorbidades.

A situação em Fortaleza se desenrola de forma muito diferente. Por lá, pessoas acima de 62 anos estão recebendo suas doses, mas profissionais de saúde, não. Uma ação judicial definiu que eles só voltem a ser imunizados após os idosos. Depois deles, começa a fase 3, das pessoas com comorbidades. E só na etapa seguinte, a fase 4, virão as forças de segurança e os professores.

O Plano Nacional de Imunização (PNI) contra a Covid-19 estabelece um grupo prioritário com 77 milhões de pessoas.

Dentro dele, elenca prioridades, na ordem: depois que idosos com mais de 60 anos e trabalhadores da saúde forem vacinados, é a vez das pessoas com comorbidades, que são 17,7 milhões com doenças associadas com potencial de agravar a Covid-19. Então vêm pessoas com deficiência, em situação de rua, privadas de liberdade, funcionários penitenciários e, só então, trabalhadores da educação. As forças de segurança vêm a seguir.

O PNI informa que estabelece a ordem, e que a orientação do Ministério da Saúde é seguir esse cronograma. No entanto, estados e municípios têm autonomia para seguir uma estratégia própria.

Prevenção de casos graves

A sanitarista Lígia Bahia, da UFRJ, afirma que, na maior parte dos países, o ordenamento é similar: profissionais de saúde, idosos, pessoas com comorbidades, profissionais de serviços públicos —incluindo bombeiros e policiais da linha de frente — e, posteriormente, professores. Para ela, o que ocorre no Brasil, com estados e municípios adotando critérios diferentes, gera confusão:

"Seguimos com escassez de vacinas, daí a necessidade de manter uma organização muito primorosa da vacinação. Escolher as prioridades entre prioridades. Embora todos sejamos a favor da reabertura das escolas com segurança, não é correto. Em termos da redução de casos graves, as pessoas com comorbidades devem ser vacinadas antes".

Uma série de números colhidos pelo Ministério da Saúde no primeiro ano da pandemia reforça a importância de concentrar a vacinação em faixas etárias maiores. A mortalidade por Covid entre os maiores de 60 anos, por exemplo, foi 18,6 vezes maior que entre abaixo dessa faixa etária.

Algumas comorbidades também pesaram muito nas estatísticas. Entre os obesos mortos por Covid, 46% tinham menos de 60 anos, indica o último boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em em Saúde.

E, segundo Lígia Bahia, incluir um novo grupo quando a cobertura vacinal ainda é baixa nas categorias anteriores diminui as chances de um programa de vacinação racional. É um risco real para o país, já que nem todos os idosos estão vacinados, principalmente com a segunda dose, que garante imunidade mais forte.

"As pressões para incluir prioridades são imensas. Há muita politização na vacinação", diz Bahia.

Embora a ideia seja vacinar todos de forma concomitante, com poucas vacinas disponíveis fica inevitável afetar o cronograma original, diz a epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do PNI:

"Com certeza isso vai atrasar os outros grupos. A prioridade neste momento deveria ser completar os idosos e iniciar as comorbidades, pelo menos as prioritárias, como diabetes, obesidade, doenças respiratórias crônicas e câncer, para só depois abrir".

Novas diretrizes

No dia 31 de março, o PNI passou a recomendar a vacinação das forças de segurança para “contemplar os profissionais mais expostos às ações de combate à Covid-19”.

Apesar de o programa indicar vacinação exclusiva para trabalhadores envolvidos no atendimento e/ou transporte de pacientes, resgates e atendimento pré-hospitalar, ações de vacinação e vigilância das medidas de distanciamento social, a capital gaúcha, por exemplo, quer imunizar policiais civis, da Polícia Rodoviária Federal, do sistema prisional e a Guarda Municipal.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tem a meta de vacinar 1 milhão de brasileiros por dia. Em 1º de abril, o país atingiu esse objetivo, com 963 mil primeiras doses aplicadas, mais 131 mil das segundas. Mas a meta não se repetiu. Ontem, foram vacinados 548 mil (1ª dose) e 206 mil (2ª dose).

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