Um estudo epidemiológico comprova que os benefícios da imunização com a vacina da AstraZeneca desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford superam em muito os riscos, sugerindo que mesmo suspensões de poucos dias podem provocar centenas de mortes.
A projeção foi feita depois que países europeus optaram por interromper suas campanhas de vacinação com o imunizante para analisar raríssimos efeitos adversos relacionados à coagulação.
O levantamento foi publicado nesta terça-feira na revista científica Chaos. Os pesquisadores usaram um modelo epidemiológico e realizaram análise estatística de dados disponíveis na França e Itália para estimar o risco-benefício.
"Nosso trabalho mostra que a suspensão da vacinação da AstraZeneca na França e na Itália por três dias sem substituí-la por outra vacina levou a cerca de 260 e 130 mortes adicionais, respectivamente", disse Davide Faranda, do Laboratório de Ciências do Clima e Ambiente e do Laboratório de Matemática de Londres.
A diferença entre o número de mortes dos dois países se deve ao contexto epidemiológico de cada e, em particular, à maior taxa de transmissão na Itália em relação à França, em 15 de março de 2021.
Mesmo que vários países tenham retomado ou estejam prestes a retomar as vacinas da AstraZeneca, os pesquisadores mostram que o efeito da interrupção é difícil de contrabalançar.
“Aqueles que não foram vacinados podem contaminar outros indivíduos antes que a vacinação seja retomada”, disse Faranda.
Além disso, para países onde as vacinações AstraZeneca foram retomadas, a confiança nas vacinas foi reduzida em uma porcentagem não desprezível.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reconheceu pela primeira vez no último dia 7 que os coágulos podem ser causados pela vacina da AstraZeneca, mas disse que a probabilidade disso acontecer é baixíssima e que os benefícios de aplicá-la são muito superiores.
A Dinamarca foi o primeiro país europeu a interromper completamente a aplicação das doses da AstraZeneca, algo que deverá atrasar bastante sua campanha de vacinação. Nas últimas semanas, diversas nações europeias, entre elas França, Alemanha e Itália, chegaram a suspender sua aplicação temporariamente. Após o parecer da EMA, a maior parte dos países voltou a aplicá-la com restrições de idade.