Ter uma dimensão do que são 400 mil mortes e o que elas representam pode ser algo difícil hoje. Em meio a tantas notícias negativas, com números e estatísticas, saber o que significa este recorde pode parecer distante. O iG vai te contar agora que 400 mil mortes poderiam significar que uma cidade inteira, cheia de vida e representatividade cultural, desaparecesse. Olinda não existiria mais caso as mortes por Covid-19 tivessem ocorrido apenas por lá.
Atualmente, a cidade tem cerca de 393 mil habitantes, de acordo com o último censo do IBGE. Olinda também é referência quando o assunto é cultura. Além de sua beleza natural, a cidade foi declarada, em 1982, Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Além disso, em 2006, foi eleita a primeira Capital Brasileira da Cultura.
Quando se pensa em Olinda se lembra dos ritmos originais de Pernambuco, como o Maracatu e o Frevo. Aliás, o carnaval na cidade é um dos mais icônicos do país, por conta da tradicional festa com os bonecões e os ritmos musicais da região.
Além das festas, a cidade guarda também um rico centro histórico com capelas, basílicas e igrejas clássicas, que vão do barroco ao rococó, e marcam a presença da intervenção europeia na arquitetura local. E tudo isso poderia se perder por causa de 400 mil mortes.
"São vidas, são famílias, isso é uma coisa extremamente triste e revoltante"
- Vivian Helena Rocha, 27, quando perguntada sobre sua cidade poder não existir mais por causa da Covid-19.
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Destruição e recomeço
Em 16 de fevereiro de 1630, a Holanda invadiu Olinda e conquistou Pernambuco. Os holandeses se estabeleceram no povoado e ilhas junto ao porto e abandonaram Olinda. Em 24 de novembro de 1631, os holandeses incendeiam a cidade, após retirar os materiais nobres das edificações para construir suas casas no Recife. Em 27 de janeiro de 1654, os holandeses foram expulsos e iniciou-se a lenta reconstrução da Vila de Olinda.
A cidade, como conta a história, tem em sua formação a ideia de reconstrução e recomeços.
"Eu acho que uma palavra que descreve essa situação é: chocante. Saber que Olinda inteira poderia sumir é como você passar por uma casa e dizer que todos morreram. Isso é devastador na verdade"
- Veruschka Soares de Deus e Melo, 47, quando perguntada sobre sua cidade poder não existir mais por causa da Covid-19.
O prefeito de Olinda, Lupércio Carlos do Nascimento, classifica o atual momento do país como uma "catástrofe humanitária". "Acho que todos nós já perdemos alguém nessa pandemia. É um desafio jamais visto na história, mesmo nas outras pandemias já vivenciadas", diz.
"Nem consigo pensar nessa possibilidade (...) Olinda é Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade"
- Lupércio Carlos do Nascimento, quando perguntado sobre sua cidade poder não existir mais por causa da Covid-19.