Com o agravamento da pandemia de Covid-19 na Índia, ficou ainda mais difícil para o Brasil importar vacinas para proteger sua população. Em uma palestra promovida pela Fundação Alexandre Gusmão (Funag), vinculada ao Itamaraty, na última quarta-feira, o embaixador brasileiro em Nova Delhi, André Corrêa do Lago, afirmou ter ouvido de interlocutores indianos que não será possível para o país exportar os imunizantes nos próximos meses.
A Índia é a principal fornecedora de vacinas
contra a Covid-19 para o Brasil, enquanto a China
é fonte fundamental de insumos para a fabricação do imunizante. Entretanto, devido ao pico de casos e mortes causadas pela doença, além da falta de produtos como oxigênio e da necessidade de quarentena em cidades importantes, o governo indiano se viu obrigado priorizar o atendimento da demanda interna e já planeja a importação de outros países.
"A situação é extremamente complexa. A nova variante se expande com uma rapidez incrível e a situação da Índia
como exportadora de vacinas que conhecemos em janeiro, fevereiro e março se reverteu completamente. Agora a Índia precisa de toda a produção e vai importar. Todos os meus interlocutores dizem que, por alguns meses pela frente, não será possível para a Índia exportar vacinas", disse Corrêa Lago, que acredita que a crise no país é "excepcional e passageira".
Nesta semana, a Índia se tornou o terceiro país a superar 300 mil mortes por Covid-19, depois de Estados Unidos
e Brasil. Em 24 horas, foram registrados 4.454 óbitos, de acordo com autoridades indianas.
Embora seja o maior produtor mundial de vacinas, a Índia só aprovou dois tipos de imunizantes para seu programa de vacinação: AstraZeneca e Covaxin. Segundo uma fonte do governo brasileiro envolvida no assunto, o país planejava imunizar cerca de 3 milhões de pessoas por dia, atingindo uma meta de 700 milhões de vacinados — quantidade equivalente ao triplo da população do Brasil.
O Brasil conseguiu autorização da sede da AstraZeneca, em Londres, para comprar até 12 milhões de doses da vacina produzida pelo Instituto Serum, na Índia. Porém, até agora só conseguiu trazer quatro milhões. Segundo fontes do governo brasileiro, não há previsão de quando será possível adquirir as oito milhões de doses restantes. Essa vacina é também fabricada pela Fiocruz.
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Em outra frente, o Ministério da Saúde assinou um contrato de compra de 20 milhões de doses da vacina Covaxin, 100% indiana, da Precisa Medicamentos/ Bharat Biotech.
O investimento foi de R$ 1,614 bilhão, conforme a pasta, mas o produto ainda precisa ser liberado pela Anvisa, que recusou um pedido de importação feito em março, devido, a entre outros fatores, à falta de um certificado de boas práticas para a fabricação.
Há cerca de duas semanas, o governo brasileiro suspendeu os voos vindos da Índia, país que é origem de uma nova variante do vírus. A recomendação foi feita em uma nota técnica da Anvisa em 1º de maio.