No mês passado, quando a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, em inglês) interrompeu o uso da vacina contra a Covid-19 da Johnson & Johnson para avaliar o risco de formação de coágulos sanguíneos em mulheres com menos de 50 anos, pesquisadores observaram que o efeito colateral é muito mais comum quando está associado a pílulas anticoncepcionais.
A comparação pretendia tranquilizar as mulheres sobre a segurança da vacina. Em vez disso, aumentou a raiva em parte da população — não por causa da interrupção da vacinação, mas pelo fato de que a maioria dos anticoncepcionais disponíveis para as mulheres são centenas de vezes mais arriscados e, ainda assim, alternativas mais seguras não estão à vista.
Os coágulos associados à vacina são um tipo perigoso no cérebro. As pílulas anticoncepcionais, por sua vez, aumentam as chances de um coágulo sanguíneo na perna ou nos pulmões. No entanto, a distinção fez pouca diferença para algumas mulheres.
"Elas têm motivo para sentir raiva, porque sua saúde não recebe a mesma atenção (daquela dada aos homens)", explicou Eve Feinberg, endocrinologista reprodutiva e especialista em infertilidade da Universidade Northwestern. "Há um enorme preconceito sexual na medicina".
A atleta Kelly Tyrrell tinha 37 anos quando os médicos descobriram coágulos sanguíneos potencialmente fatais em seus pulmões. Ela tomava pílulas anticoncepcionais havia 25 anos e sentia dores na perna, aperto no peito e, finalmente, falta de ar, mas nenhum dos médicos percebeu a relação entre o medicamento e os sintomas.
Tyrell lembra que, quando um exame de pulmão revelou múltiplos coágulos, chorou “imediatamente”.
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Os médicos receitaram anticoagulantes e lhe aconselharam a nunca mais fazer qualquer terapia que pudesse provocar alteração nos níveis de estrogênio. A fúria aumentou quando as restrições da vacina da Johnson & Johnson foram reveladas.
"Parte da minha raiva veio porque tomava um medicamento para controlar minha fertilidade que poderia custar a minha vida", revelou. "Estou furiosa por não ter sido aconselhada melhor sobre esse risco, ou mesmo sobre o que procurar".
A rara reação de coagulação do sangue também foi vista entre 309 das 33 milhões de pessoas que receberam a vacina AstraZeneca/Oxford no Reino Unido, causando 56 mortes. Na Europa, pelo menos 142 pessoas tiveram coágulos sanguíneos em 16 milhões de receptores do imunizante. Em resposta, o uso do produto da farmacêutica anglo-sueca foi restringido ou suspenso em mais de dez países do continente.
A proteína da injeção da Jonson & Jonson é menos propensa à formação de coágulos sanguíneos do que a AstraZeneca, segundo pesquisadores da Universidade Goethe, em Frankfurt (Alemanha), que estudaram o efeito colateral. Nos EUA, oito dos 7,4 milhões de pessoas que receberam uma dose do imunizante relataram a rara reação. (Com agências internacionais)