Poucas horas antes do anúncio da interrupção da vacinação no Rio por falta de doses, a Secretaria municipal de Saúde divulgou uma estatística que mostra o impacto da vacinação. De acordo com o levantamento, houve uma redução de 85% do número de mortes por Covid-19 nos últimos 28 dias: de 158 para 23 por semana. Os casos graves da doença caíram 62% no mesmo período, segundo a prefeitura, enquanto o número de infecções leves subiu 5%. A pesquisa foi feita pelo órgão entre os dias 19 de junho e 17 de julho.
"Os números que indicam a queda nos casos graves e de óbitos pela Covid-19 são reflexos diretos da campanha de vacinação. Quanto ao aumento de casos leves, é importante lembrar que estamos no inverno, quando há um aumento natural no número de síndromes gripais. Esse dado também pode ser interpretado de outra forma: com a vacina, temos mais casos brandos, sem tanta gravidade. Isso indica a eficácia do imunizante aplicado, que evita o desenvolvimento de formas mais graves", analisou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.
Idosos: 91% vacinados
Segundo ele, 45% dos cariocas ainda não foram vacinados com as duas doses do imunizante. O secretário diz acreditar na retomada da imunização para que a cidade registre números ainda menores de mortes e casos graves da doença:
"Acredito que no fim de agosto, com 60% da população com a primeira dose e 30% com a segunda, teremos índices surpreendentes. É importante frisar que 91% dos idosos já estão imunizados, e temos registrado poucas mortes dessa faixa da população".
Na avaliação da presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, Tânia Vergara, o aumento de casos leves também pode ser creditado à conscientização da população e à procura por testes em estágios iniciais da doença.
"Nesse período de inverno, há uma preocupação maior das pessoas com esse tipo de sintoma. O número maior de casos mais leves se deve à procura crescente por diagnósticos precoces e, é claro, ao sucesso da vacinação que atenua o poder do vírus", disse.
Apesar dos números, considerados positivos, a prefeitura do Rio estendeu, ontem, a restrição ao funcionamento de boates, danceterias e festas que exigem autorização transitória. O objetivo é conter os números crescentes da variante Delta do coronavírus — a mais contagiosa das cepas já catalogadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). As medidas de combate à Covid-19 em vigor atualmente na cidade vão até 9 de agosto.
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Poucas horas após divulgar a queda do número de mortes e casos graves de Covid-19 devido ao avanço da vacinação, a prefeitura do Rio anunciou que a aplicação da primeira dose está suspensa por falta de imunizantes. O prefeito Eduardo Paes disse que o Ministério da Saúde está atrasando a entrega dos lotes. Hoje, os postos de saúde receberiam as pessoas com 35 anos ou mais. A segunda dose agendada está garantida.
Procurada pelo GLOBO, Rosana Leite de Melo, secretária Extraordinária de Enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde, negou que haja atrasos na distribuição de vacinas aos estados, e prometeu liberar dois milhões de doses de AstraZeneca e CoronaVac para todo o país amanhã. Segundo a médica, os imunizantes sempre passam por um processo de avaliação. No caso da Pfizer, esse trabalho demora até cinco dias devido à baixa temperatura e à importação. Com a Astrazeneca e a CoronaVac, são 24 horas.
"Não temos vacinas paradas. Esta semana, nos reunimos e analisamos toda a pauta. Por uma questão de equidade entre os estados, estudaremos uma nova modelagem de distribuição e porcentagens para as federações", disse Rosana Melo.
O GLOBO apurou que parte do atraso da distribuição das vacinas se deve a mudanças em setores de distribuição após a saída de Francieli Fantinato, da coordenação do Plano Nacional de Imunizações. A atual responsável pelo setor negou que a troca tenha impactado a logística. Se esse prazo for cumprido, a vacinação deve ser retomada na terça-feira.
‘Paradas nos depósitos’
Na manhã de ontem, o prefeito Eduardo Paes usou as redes sociais para cobrar do Ministério da Saúde o rápido envio aos estados de 7,5 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 que estariam paradas nos depósitos do órgão. Segundo Paes, apesar de o ministério ter divulgado o recebimento das lotes nas redes sociais, ainda não havia data para que as doses fossem entregues.
“Divulgamos nosso calendário de acordo com as chegadas informadas pelo ministério. Se não cumprirem, corremos o risco de atrasar. Não é possível que isso fique parado um minuto que seja. O motivo é simples: quanto mais tempo demora, maior o risco de óbitos. Não há nada mais importante a fazer neste momento!”, escreveu o prefeito.
Ao GLOBO, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, afirmou que o projeto de imunização em massa de adolescentes em Paquetá neste fim de semana está garantido. Ele explicou que são vacinas de fornecimento direto pela Fiocruz, que realiza uma pesquisa na ilha, e que, por isso, não há necessidade de suspensão.
Com o calendário paralisado em 35 anos, ainda faltam mais de 486 mil moradores da cidade do Rio na faixa de 30 a 39 anos para receberem a primeira dose, prevista inicialmente para serem aplicadas até 4 de agosto. Esta semana, os postos imunizaram 255 mil pessoas na capital com a primeira ou a segunda dose.